segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

PHARMAKON

Habitação de renda descontrolada, quebrantada por queixumes aéreos queimando tempo. Entes nus, elásticos, atravessando a espessura do grito de estômago vazio. Fria cinza, depositada aos fundos na divisão por arder, aguardando o disparo da voz sobre ela. Rodo o botão, lhe acendo música. É tara, é. Bombeando linha de baixo ao poema. Medida tomada, para dar um ar de nó à corda solta. Tarola e pratos de choque, por simpatia transmitidos ao rosto na dimensão solitária. Mulher malmequer. Descoser a medida, acertar na esquadria absurda, simular a ela um coração que não há. Diseur correndo por dentro, para si, em alta voz, os nomes de todas as profissões de infortúnio e desgaste rápido, poetas à cabeça. A maior parte dos tocadores de jazz, trolhas de risco claro-escuro, travestis adoradores de ponto-cruz, deuses meninos e rufias sortidos. Anatomistas, maus contadores de estórias. Aguadeiros de fins de festa, ganhando pão às custas da ressaca dos convivas. Quem lhes manda. Bateria se sintetizando no corpo, arraçada de trip hop malhando no fio do capacho. Upa! Upa! Tara. Tarola. Ela me prende a atenção, rindo de mim. Vai à volta, chega perto. Finge-te de morta. Apago a música, para ouvir o coração. Menti. Preciso um nada mais de ti. Veneno, que remédio! Grita de aí, às coisas tuas, enquanto rasgas a toga à noite com tua calma exagerada, congénita. Mal tocas nas coisas que se partem. No único vão de janela aberta para a rua, se enrosca o vento à manhã quase me levando a roupa estendida. A radiografia dos prédios, espalmada de encontro à parede dos fundos, continuando uma ideia de rua pela casa. Deita só um olho a isto, enquanto vou. Dar mão ao crooner rouco, atravessando com ele a estrada desta hora. Novas formas de vida se atropelando, levadas até ao fim. Capitais meretrizes, embriagadas de hoje até diante. Se tiveres uma ordem diferente a dar, mo dirás. Acendo fósforo de princípio e fim, queimo o que resta ao teu sorriso. Cortar a direito, adulterar o produto de nós dois. Cabra-cega. Filha da caixa. Que quieto aqui me querias, sóbrio até ao contrário, levantando medidas à casa. Olhar pelo olho-de-boi, e dar pela má vizinhança das sombras no andar de baixo. Marcar cada um desses rasgos no estore à vista para baixo, com dedadas no vidro. Dedadas, algumas de dias, outras de anos, repetidas, dá impressão. Foste agarrado, e não foste. Não há nada a que te prendas pouco. Inspira, expira. Dar resposta, esquecer a pergunta. Tão espesso quanto tijolo burro, e só. Um sol passando nível às sombras nas costas das chaminés, lhes passando por cima. Batem roupa, batem pé no chão, puxam a corda. Portas se fechando em outras habitações, vozes mal apagadas no cinzeiro das ruas. Um cubo laranja, segurando o tapete. Um mocho em barro vidrado, de olho em mim. Vindo de vazadouro, a marga da terra chega, para me ajudar a aterrar a imitação branca das vozes. Conto três Matrioskas, fora o corpo principal. Cães, quase silêncio.
Arrasto entender. Viras a mesa à menina dos olhos. Rói por dentro a intriga do corpo. Injectamos os medos de trazer por casa, na flor da veia regada pelo garrote. Desapertamos a respiração. Ai caralho!, dizes, parecendo sempre que começas pelo fim. O mais perto que me cheguei à poesia, foi andar metido com
as mulheres de poetas ainda vivos. Os altos-fornos, crepitando a curta distância, indiciam a eclosão da desforra, no desferir agudo do pronome na tua posse vincada. Mosto de rostos lívidos, sedentos da queima ao ar da cal do esquecimento. A semente carbonizada do mal, ignorante de morais. De
esquadria lúgubre, fendilhados irreparáveis, a configuração das margens. Dar preço ao nada, insistir nas portas a descontar ao valor absurdo, menosprezável, da empreitada da minha derrocada estrondosa, de garrote ainda a pender do braço dado à noite. Brancas borboletas, despontando no canto escuro da divisão consentida aos bichos. A dissolução do chão que temos abaixo, conceito como outro, altimetria de precisão inconclusa, um
assobiar para o lado. Escadas de serviço, nada, nenhuma a servir. Em
simultâneo ágil, descendente, o estouro da manada de servos rectilíneos, multiplicando as expressões no arame detonador, da posição arrestada pela mão de um bonecreiro sentimental. CHINATOWN, o último lugar onde ir se lá passar.