sexta-feira, 23 de maio de 2014

ALTIMÉTRICO






Elemento terra, aqui se interrompe
A transmissão

Na fundação do que se esquece
Profundamente, um nome

A cave próxima, resgatável
À superfície

Piso térreo – aonde ando
Agora?

Pisos, em vários o pé –
– Direito escrevem-se, acima
Os pés, aproximados
Ao vidro de golpe, a dor
Se estreita

Um tecto e daí
Se precipitam no discurso
As aranhas, os morcegos, tudo
Acentuada pluviosidade daqueles
Bichos de corda

Em todos mal ou bem
O pavimento, inverso

No sótão, o lugar
De casacos esquecidos abaixo
Do tamanho de ossos

Havendo ainda águas
Furtadas p´rá aí, escorreitas
As mãos que fogem de um
Rosto húmido

Ao telhado se acede
Desequilibrado, o peso
Pelos pés, se reza
À pele do corpo, esse
Gesto injusto de quase
Tudo

Antenas, o resto
Sintonizado para o final
Da transmissão, o que é imagem
Qualquer de um
Céu

A esta altura a palavra
Se desprende, rarefeita
E se estatela, divergindo
Para um pulmão – como este – sôfrego
De vento, as estórias

Reanimada sobressai, a palavra
Ponte que une
Os membros de um corpo
Familiar

O grito que é de paz
Estridente, o armistício
Entre as espécies
De boca

Guerra oca num estômago
Vazio, aí as moedas
Tocam, uma vez
Sintetizadas

Uma árvore é testemunha e espaldar
Da palavra que finge
Ter membros avariados
Contam ambas, por outras palavras
A tragédia do meio
Físico, o cheiro da borracha
Nas travagens isoladas

Fui – vejo agora – uma
Criança no poço
De mim e não
É nenhum dos outros
Lugares aqui
Em altura

O mundo pior, onde
Um brinquedo que não é
Mais divertido, sempre
Preocupado com as mãos
Feridas das crianças, que lhe tocam
Na imaginação aprisionada
Por uma corda
Do raciocínio, um espaço
Verdadeiramente incompleto

Identifico aves, as suas
Características, como lhes distinguir as cores
Aguareláveis

Crio tempos de perfil
Qualquer, numa altura
Do ano

Sou dispositivo relacionado com
Uma resposta, a tua
Casa própria – o que é?
Uma casa
Para palavras simples sendo
Detalhe, tornam-se
Maquiagem carregada
Dos mortos, de todos nós
Os dias – como respiram?

Magníficos insectos
Capturados, em mim
Distintas partes de uma planta, uma
Vida mulata

Esta e outras
Questões serão
Afectadas por órgão, ou
Um sistema
De órgãos a anatomia de tudo, da alma
A estrutura de um corpo
Despenhado

sexta-feira, 16 de maio de 2014

meio Início







Da mãe altera-se a respiração
Do mundo – nasci flora, branca
Sensibilidade na terra
Misturada com o daninho
Das construções
De pé – nasci de uma
Faca em flor

Passam os dias e passa
Um comboio – sabe-se
Pelo vento que transborda
Da linha, do caminho
Vocifera a besta a um
Algodão passageiro que se solta
Da composição em movimento
Pela plataforma espectro
Ausente
Da gravidade das coisas com peso
Morto.

Leve insustentável
Dos tecidos que gritam
Por superficial enquanto eu
Atento à mecânica
Dos tambores distantes – Forest Swords

Interior ao ambiente
Um telefone antigo que é
Discado por cima
De uma voz –
– Off.

Dita próxima a paragem
De ninguém
Atende!
Meu barulho
O coração, substituído
Pelo perpétuo dos carris.

Cristo a ponte
E um avião
Em um céu
De cinema.

Desloca-se sumário o ponto
De interrogação à superfície
Dos olhos
Altera-se simples a geometria
Do nome encarnado na cidade
Da única cor.

A chama em filme forçada a ser
Inicio, apenas
Isso de catástrofe.

Com letras e números cega-se
E das coisas mortas constrói-se
A ausência
Em altura.

Irrompem: acidentados
Pelo cruzamento um coração
De peixe inverso, outro
Animal d`escamas
E evitam-se frontais
Ao entaipado das janelas.

Falseia-se um sol no tom
Da angústia o sangue escorre
Pelo rápido dos olhos num ponto
É linha, de branco
Se anoitece na presença digital
Das aves de espaços fechados
Por dentro.

Descentradas duas pessoas
Da melancolia a luz acumula-se
Pelos cantos.

Ensinaram-me o medo num espelho
De águas profundas e não
Sabia flutuar.
Partilhava ali o líquido
Com um polvo aterrorizado
Pela nudez dos meus parentes, eles
E eu
Apanhava um percebe de quando
Em vez da rocha
A meio.

domingo, 11 de maio de 2014

GÉMEAS






Pela corda sangue o que as une nó. Desfasadas sorriem as gémeas são uma relação desarmónica. A dois tempos saliente a patroa da agitação, da outra distingue-se pelo adunco do nariz, agulha que dita estridente a direcção. Da que se leva e deixa: os segundos do tempo encerrados nos olhos também gémeos instáveis confirmam o grau inclinado do parentesco com espasmos dúcteis de pescoço na direcção branca dos dentes ordenados do hábito da outra cabeça de estranho o casal. Ainda assim cega não é a seguidora, pois tem a personalidade do complemento directo afinado sistema imunitário para a sobrevivência. Validam-se ambas rituais matemáticos de impulso – do letárgico alteram-se substanciais e alcançam um diálogo a meio, sabendo exactamente a palavra onde vai. Confirmam entre si valores da moeda corrente, em múltiplos de cinco: dez, quinze, vinte e cinco a partir daqui à vista. Nunca lhes ouvi a aventura de outros números impossíveis de cinquenta e outros não. E uma diz para a outra de si: quinze duas blusas dez cada par de sapatos e se ainda houver sete por cada chapéu. O projecto desenha-se pela vergonha o corpo nunca vestido a partir do que lhe é interior o vestido por detrás da muralha de números cifrados no caderno de argolas, nunca relacionados com o artigo que permitem comprar – usam-se gráficos os símbolos para apontamentos subtis de intenção: asteriscos sorrisos ou os seus inversos dois pontos. Gémeas na carne desencontradas: uma é esqueleto da cintura para baixo a perna completa na interrupção da outra no discurso do movimento. O osso calçado da pele desenvolve-se pelo corpo de ambas alternado, instrumento de caminhada solar abrupto. Tardoz e principal o alçado deste ser único, bicéfalo sentimental existem outros dois corpos assim gémeos inexplicáveis. No abandono das coisas laterais ao espaço de locomoção por onde passam caravana isolada da sede de qualquer escorrência; de respiração líquida o útero: jogo de feira popular do sorriso roubado às crianças à entrada para o fantasma do comboio com contorno demasiado cómico para ser sólido assustador. Engano-me – o palhaço mata e chora, chora sempre em duplicado, pela amargura que é o seu riso desfigurado em seguida pela maquiagem em destroço de um rosto demasiado humano, uma mancha de dentes – o tempo gasto-o com roupas largas. Bidireccionais gémeas alma única, deslocados troços de corpo direito esquerdo volver sorriso desequilibrado junto à linha de horizonte. A partir deste ponto mal coordenado nos eixos, é de construções adentro ósseas o corpo – primeiro é esqueleto o corpo se o contarmos de dentro para fora, a uma escala próxima do um para um, quase real a uma cota altimétrica desconhecida. Corresponde a cabeça do ser dual a uma nuvem a mais no desenho de uma cabeça de morto já limpa de todos os tecidos, interna à pele moldada do osso rudemente amaciado, semelhante ao céu de tempestade – neblina turvada no tom escuro de uma frase periférica, proferida a partir do núcleo naturalmente perturbado das deusas interiores – gémeas que nos perturbam a saúde da alma, ao portador o corpo a elas transferimos: não o queremos e nos pesa. Doação de órgãos. A ideia de salvação como um familiar físico distante, muralhado atrás de quantitativos apenas números sem contorno de rosto, apontados por mãos gémeas distantes ao ponto do que se nunca vê. A voz hesitante de uma delas pelo fio de contacto – trapézio. O familiar nos garante à voz viva, trémulo, que o encontro acontece fatídico como as poucas gotas de sangue que nos une. Ainda se projecta uma sombra, antiga arte à linha, planificada no papel das coisas branco encadeamento de todas as possibilidades e nenhuma. Escrever – das coisas do Homem, do nocturno dos animais o mundo onde desistimos – é criar essa tempestade perfeita onde nos inscrevemos a mais antiga tradição funerária: abandonar a pele ao corpo réptil pelos cantos da Terra. Ainda se projecta uma sombra, antiga arte à linha, da minha ignorância sobre uma estereotomia de enganos à esquadria do chão. As mãos imóveis ultrapassam o corpo sobre o tronco, transição de milímetros ao ponto final zero de tudo a carne reaproveitada. O percurso da cor através das linhas de tensão, invisível tapeçaria de mãos deformadas em girassóis alçado único para a luz mínima – a palavra interrompida na carne. Aguardo calado o relâmpago, os olhos gritam o lume que crepita junto aos corpos esquecidos pela paisagem, para que se não movam no inteligível da frase. Aguardo calado o relâmpago, e cego depois o olhar com o encrespado da vegetação rasteira pelas extremidades sinuosas da estrada para o que vai pela berma a ser matéria de incêndios: poderosas mandíbulas de betuminoso faminto de veículos desgovernados, imprevisíveis no individual da travagem entre os obstáculos translúcidos, aprisionados no sinónimo de impossível. Imprevisível fim de tudo alma gás o corpo, corpo estado, último cidadão dele próprio quando nega o outro em crosta – purificada infecção de membros idênticos também de si o resto de outros corpos vasos comunicantes, por onde se movimentam cargas circulantes de lágrimas magras: pele e osso, as gémeas.

sábado, 3 de maio de 2014

LUNAR






Fala só, que quase te esqueço, última sílaba, à deriva pelo nome que é o teu incompleto na minha boca ausente. O esboço carregado do que não existe de ti, inundação de espelhos, o braço irregular por fim a mão, estilhaçada em reflexos – entredentes a rejeição da tua margem trágica. Vem só, nem que seja através de uma fotografia, em que te percebo central à estação mais quente desse ano inumerável - centelha constrangedora de sol tu és. Nunca sei o que vestir quando estás e aconteces, o que fazer demais ao corpo, para que atravessemos juntos a difícil areia antes da praia de baixo aos pés laterais às árvores de sombras que aí se dão. Ton sur ton até ao transparente da recordação da tua cintura desviada – só a água das nuvens em conta-gotas, é ampliação suficiente para o que esqueço do teu diâmetro de olhos, interrupção da pele contínua que me altera por inteiro. Elementos de água irregular que te arrastam de volta param no limite do céu imperfeito de onde nunca saíste: afora ser minha distracção. Fala só, por entre o inconfundível desnorte da minha direcção, largada aérea dos animais variados do que sou e não, rente à estrada principalmente deserta. Minto ao de mim inclinado, separado pela última espessura da pele que te não pertence além do lençol que cobre outro nada de mim, num lado esquecido pelo catavento manufacturado com a parte óssea de um peixe de terra, colocado no abismo da cabeceira terreno vizinho à cama. Vem só, deixa para sempre a tua família de desencontros conjugados nas formas todas de ser planta carnívora das nuvens, espaços ocupados pela forma de dizer botão despejado da sua casa descosida – roupagem dispersa por cordame cansado das bestas de aço antigo, pacientes geometrias de precisão. Relojoeiros de espaços abertos manuseiam o material único de sal anulado, impróprio para as feridas que ultrapassam o centímetro quadrado, beneficiando esculturas de luz sobrante às coisas equilíbrio instável no princípio do teu nome. Noite adentro precipício do corpo, desequilibrado no interior de uma roupa de lã incómoda porque é a tua medida de braço e não do meu a mão que afasta a ideia de um gesto da boca – a tua é a mesma que diz distúrbio e é branco o teu contorno nessa noite onde quase não existes, traçado pela mão disponível que esgravata a palavra superficial com um pedaço de lenha inoculada de inverno. Vem só, deixa o teu território de rio e atravessa a nado o delíquio da minha ignorância – estou de pé na margem, amarrado a um cesto de vime vazio de detalhe, entoando uma canção triste na ponta de uma marreta, música de construção inversa. Preenchimento de fendas aleatórias na junção dos materiais incertos em inícios da mesma parede desencontrados. Do outro lado divisão, o desenho de um mapa de inexistências onde o teu coração assinalado na ponta de uma faca, imperfeito músculo de gente deslumbrante. Encontram-se estranhos em desvios intencionais ao corpo que se perde da carne para outro estado de existir. Como então não sei, amanhã as costas voltadas para o mar que não obedece àquele corpo neste, ritmada saliência. Não te pertenço como a nada consigo pertencer se me não altero – embriago-me de corpos que dançam na penumbra dos espaços e de álcool se não existir outra coisa. Fala só, num lento perpassar – pele cosida – pela tua pele de superfície pontuada de vertical impertinência. Adquiro o tamanho do arremesso a um só lugar, é carne que te não pertence. Do animal anterior ao nome, rasgado pela memória da terra que nos anula o peso posterior da queda. Fala só, veículo desconfortável em contramão noutro lugar com esquinas e arestas vivas, devorado pela ferrugem de predadores húmidos, vestidos de dia alguns da cintura ao joelho pouco mais abaixo. Que me deseje o novo dia à luz e vista desarmada – me aclaro calmo, enquanto o céu não se turva da animália florida de incisivos. Vem só, boleada berma dos sapatos, meu palco instável onde danço à frente de ti a coreografia alternada da calçada bicolor, indiferente ao teu momento simples apenas movimento assinalável do corpo que desvio com um assobio raso de pássaro. A partir da berma – a criação, em série, do alimento alegórico dos pagãos – música de sopros o coração que a engole atómica, do mundo em que se emagrece encontro o outro. Infeliz coincidência, colisão provável – separa-se algum do vento mediano às coisas construídas – na parte que me não altera o pleno do grito aprisionado nas vértebras se te encontra. Alma fulminante é de ti que sou e de outros a prazo, nunca mais rápido. Como hábito, espero pela ruína da última espessura – pátina – amaciada por munições de rocha definitiva. Sóbrio descreve-se o meu líquido graduado de todas as misturas – um estado. E estou hoje um nada mais alegre, distinguível pela pálpebra nervosa, alfinetada de veias instáveis tão só. Ser feliz – a estatística absurda, mineral. Liberta-se da terra inorgânica, irresponsável a voz engarrafada em nomes vítreos, das coisas pronomes pessoalíssimos para quem mal se conhece. Custa-me respirar e ser vapor mesmo assim, profano o corpo à tua luz em imersão frequente de polaridade – um jogo completo de ossos. Sinal no corpo a tua influência.