sábado, 21 de fevereiro de 2015

ISOLADORES





Se adivinha por graus a latitude
Do vazio, um
Espaço a ocupar
Pela volumetria serena
Desse petróleo de iluminação
Essencial. Ateado outro
Tempo, descontado o esforço por
Segurar o vento
Pelo osso. Desfiado
De mínimos comuns e
Pretéritos imperfeitos, coágulos
Da memória que passa
Como nuvem no céu
Da alma. Se evita a passagem
Em corrente. Imprecisa
Personagem, isolada entre muros
Construídos pela vontade. Mecanicamente
Estrangulado pelos cabos descarnados
Na ponta do aparo empunhado, atmosférico
Precisamente. Um romance
Ou intempérie inutilizada, rígida. De eixo vertical,
Assim cervical desalinhada. Por ângulos
Pouco pronunciados, nocivos, resultantes
Da fúria interrompida
Pela imaginação. À transparência
O esqueleto honrado
Pelas costuras. A sala
Dos vícios. Acerca deles a palavra
Dita pela boca
Em concha. Se dobram
Os músculos retesados
Da paisagem. Em montículos a areia
Liberta do corpo, cirandada na rede
Alargada pelos verbos, estes
Inertes de todas as durezas.

A chaga do esquecimento, cauterizada
Por um instante impossível
De ser outro.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

CONTINUADAMENTE A TRACEJADO





Espaço por encerrar, continuadamente
A tracejado. Se comove a terra assim,
Em sua camada vegetal. Escarificada,
Despida. Operada a peito
Aberto. O coração das coisas é
Lamento de todos
Os significados.
Me repito. Reverbero
A luz que me é confiada
Pela faísca da geometria, intersectada
Por teus ombros. Meu meio-
-dia de afectos.
Braços rombos erguem
A espátula comum aos sentidos, todos
Tos removo, esses óleos
Dos últimos acidentes.
Pulmões plantados, pela raiz
Do vento. Mil lugares
Afagados pela mão
Elementar. Quando irrompe,
O desejo é a rama saliente
Do teu tronco.
Teus pés beijados pela maré
De destroços, uns
Barcos antigos em discrição,
Tuas veias longas em ruptura
Das paredes. Ascendem ao céu
A respirar por tubos.
Lã tresmalhada
Descobre o corpo que se afasta
Pouco mais, para um
Piso superior.
Lábios afloram a palavra
Em silêncio. Se vinca o rosto
Em apóstrofos. É afiada
A faca, animada pelas entranhas
Da matéria a que se dá
Nomes, multiplicações ao acaso
De números e suas coberturas
Inclinadas para tudo.
A impossibilidade, nada mais é
Que atmosfera fértil
Por lavrar. Pela mão invisível, o lugar
Ocupado pela particular
Semente, o segredo
De cada palavra em formação, uma frente fria
Em degelo pelos ossos
Absurdos.
Pássaros de interior, insensíveis
À cúpula escancarada, assim
Se apaga esquadria marcada
Pela cor azul, baixa chama
Transformadora de um sonho
Brando.
Voz carotadeira atravessa,
Viciosa circunferência, a superfície
À vista desarmada. Material
Circulante, impelido para uma
Das diagonais do mistério.
A pele à luz
Do acaso, se vinca.
Minhas lágrimas, aprisionadas
Limalhas. Pelo canto em ângulo
Dos olhos, onde o mar
Ensaia a corrosão
Da memória em imagens
Lambidas pelo zarcão.
Minha família –
Sou da mãe e pai além
Da mulher que transfigura
Meu animal em gesto
Reconhecível. Minha filha me faz
Falar: Da noite,
Quero o luto – em raiva,
São os cães.
Entrelaçado de nada, o cordão
Do mesmo sangue que nos separa,
Qual Tejo impertinente
Entre as margens. Redemoinhos
Isentam a memória de outras
Responsabilidades. Terminam
No final dos meus braços. Palavras
Ancoradas na parede
Resistente. À espessura
Do meu entendimento, sobram as vagas
Mar dos outros, descontinuado.
Abandono-me à mobília, a uma data
Qualquer. O pesadelo é reparado
Sobre os ossos, quase ofício
Esquecido. Essa a arte
Do estofador das almas.
Zona exígua parca em madeiras,
A única cadeira disponível. Onde
Sou velho mal tratado, pouco
Vestido. O último órgão se despede
E me abandona à sorte
Do último suspiro. Parto
Difícil a terra, outra mãe
Que me engole e acomoda
Em seu ventre alisado
Pelo caminho das formigas.