sexta-feira, 31 de maio de 2013

OCUPADO / DESOCUPADO



Uma verdade bonita com tamanho
adequado de anzóis.
Cabelos pela boca com refluxo
de conteúdos.
Papel empilhado de conversas
com colarinhos.
A casa tem estores para baixo e por trás
uma dúvida a despir-se.
Fogos ateados em olhos pisados
das discussões prometidas
quando somos dois a chegar primeiro.
Esforçamo-nos numa árvore caída
e não vamos embora.
Vou trabalhar em coisas más antes de tudo
o que tinha estado no quarto está livre.
- Já lá esteve?
- Na véspera ele pediu-me e eu nunca saí dali.
Parece que está a acabar agora um machado
ouve música que nunca vemos.
A toalha é ridícula e espera.
- Porque estás nu?
- Tive de fugir e não se pode!
São perguntas e um disco riscado
em todos os Natais.
Não durmo, e as tatuagens
são andorinhas.
Uma mulher com sentimento não
consegue cantar estes agudos.
Um tapete aos pés do sono
com serviço de quartos vazios.
Tens maquilhagem e encostas-te.

Não é um incómodo, é uma ocupação.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

SUBÚRBIO CONSENTIDO



Sinto-me rouco às vezes e como
vizinha tenho uma rotunda.
À volta dela, muitos
passos para fora.
Tenho a cabeça a jeito de rodas
vivas e não só.
No fundo é um círculo
fechado e bastante.
A vantagem é ter currículos diversos.
Métodos sem saída em pasta
com elásticos.
A palavra antes e depois, martelada
de forma tosca e por aproximação.
As mãos protegidas das facas dela
com luvas de pele soldada.
Rasgam à sorte, mas antes assim.
Tenho bolsos com borbotos
e um volante de muitos.
Ouço mais passos e gostava
que passassem de uma vez
só.
Empilho vermelhos sempre
a mesma cor que não desbota.
Mais ao longe é atrás
e da mesma rotunda sai.
Um sinal que, encavalitado, é dois.
Primeiro a farmácia é
um símbolo, uma cor diferente.
Para o mesmo sítio
dirigem-se cães dados a
trelas com sacos a dizer
escola.
À direita mais movimento e uma greve
passada com o tempo contado.
Pescoços do ócio concorrem entre si
ao bocejo e ditos de boca.
Já são alguns.
Apanham o lixo às claras.
Um brinco e testemunhas.
Para a tinta vêm sempre
números e não sei quantos.
Não conto com isso, mas aparecem.
Fios de aprumo e paciência
de papel enrolado e bem.
O desconforto é um casaco atrás
das janelas, sombras e olhos
reflectidos em cristaleiras
estilhaçadas com vidros
bem cortados, servem-se
a gosto de cordas e mãos
manietadas pelo crochet.
As garrafas não se usam, bebem-se.

E a rua já acabou.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

A PERSONAGEM VAI



Táxis no arco e olhos rasgados
falam de mãos e vemos
um bar ocupado com cabeça
giratória.
Com abertura maior que os ombros.
Para a luz e alguém
canta lá atrás.
Entram diamantes velhos
de conversa a caminho do telefone
que toca cortinas para já
um jardim para ficar.
Risos de passagem em automóveis
elegantes com reflexos de água.
Uma dança e tão poucos.
Ali vestem casacos atrás da janela e sobra
um braço.
O vento passa por baixo e é uma refeição
de curvas plantadas acima.
Da conversa são dois.
No banco de trás passam orifícios de parede
de ruas estreitas.
Das mãos caem folhas e um relógio certo.
Dados a provar.
Ao seu lado andaimes e pisam
o chão frio com a boca.
Apanham-se tomates mergulhados entre risos
de crianças.
Conta-se a última estória vestida
de branco.
Tocam à porta e são escadas ocupadas
no prazer que é meu.
Ocupam um sofá e olham
pelo corredor mais casacos e mãos preocupadas.
O leito é de lixa, lá se encontra um nariz
entubado pelo sorriso de promessa
apontada no dia
trinta ao telefone.
Riscam por fim a cirurgia e começa a chover

agora para fora.

GABINETE DE PROVAS



E ainda dizia ela e eu 
que era só em caso de incêndio.
- E isso desliga?
- Obrigado por teres vindo.
- Problemas?
- Não parece estar a correr bem.
- Cala-te!
Não sabíamos quanto peso ia aguentar e
preparei-me para descer
do outro lado.
Tínhamos de sair dali, para podermos ver
estas enormes cicatrizes.
É o momento pelo qual esperámos.
Caminhamos por cima do tecto.
Por outros é seguro.
Ouçam o barulho.
É por isso, pois ele sabe de sapatos.
Vejo se há moedas.

Foi pouco antes de ela desaparecer.

terça-feira, 28 de maio de 2013

ZAPPING




Estes servem, são de ontem e estão dentro da televisão.
E um pescoço de peru faz muito bem à saúde. 
Vou mostrar que me preocupo com isto.
Parte de um espaço era o antigo.
Operacionais de elite, diariamente.
E não é preciso passar por cima de nada.
Até posso ler enquanto eles transportam a natureza.
Tu ficas, quase pareces o último sobrevivente.
Um, dois. Lentes e Nova Iorque.
Na altura fui morar num corpo e ele passou
de querer morder e foi isto que aconteceu.
Vai e não vais andar
aqui muito tempo.
- Quem te mandou flores?
- É só para saberes que cuido das coisas.
- São números, verdadeiro?
- Obrigado.
Eles já estão aqui e ainda não fiz o check-in.
- O que querem de mim?
- Não estás nesta lista e tudo começa a fazer sentido.
- Esperei que isso nunca acontecesse!
Fomos para a sala.
- O que devíamos fazer?
Disparam do telhado e concentram-se no interior da casa.

Em mim.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

GRITO



Agora também é tempo e sinto-o alto
de abcesso e sou eu atrás
da gengiva.
Nado-morto de coisa nenhuma é
pus que frequento.
Tenho raiva nos dentes e não é
só bruxismos de noite às lascas;
meu ódio de espanto com vértebras e uma
cavidade pouca para esta violência.
As lentes sobram de bastante miopia;
turvam e não só, sujidade.
Nevoeiro da calma depois
da declaração de guerra a todos os que, comigo, comungam
de ar e vozes, no atropelo
totalmente recuperado.
Traumatismos que quero infligir, em febre disposta
de ossos, quero eu desordem.
Para haver cinzas e mil fogos difíceis em tudo.
O animal que dorme a sesta, mal
adormecida por cataventos de harmonia.
Não sei quantos e em número
de anestesia e momentos simples, vou conseguir
mante-lo assim confortável.
Ouço-o respirar através dos meus
pensamentos que gritam mudos de facas.
A essas, juro-lhes pedra de amolar e corpos
esventrados por poesia da morte em vida.
Não tenho clube nem cave, mas é só
um lugar que é de ausência, com quatro paredes se houver,
para ouvir um ricochete igual ao meu
grito!

Também quero um.

domingo, 26 de maio de 2013

BROADWAY



Deitada num cubo em laranja, pernas e braços
ao longo do relógio todo num esgar traçado
a giz com covas bem dentro do boneco.
Duas sandálias vazias apontam
o caminho.
Imaginas carne por cima a ser
alguém e joelhos chatos, atrasados
primeiro em esquerda e a seguir uma língua.
Olho para o retrato em moldura e são cantos
que o seguram; não o deixam sair.
A concha, essa, tem todo o mar
a escutar conversas de ouvidos invertidos, desencostados.
Gostaria de ter um vaso, só um;
com paredes à justa de ser essa moldura.
A terra bruta e arável -tenho-a
comigo no bolso de trás, e é fértil.
Vejo além imagens em capas de antes de mim
e falam pouco.
Encho sempre os cestos com algo até meio
e madeira que é tudo para arder com almofadas
por cima.
Quatro pés afastados não chegam para o coxo
de tamanho.
Exemplo não dá mas peço à vez que seja
ao menos um.

Se for uma, que seja avenida.

sábado, 25 de maio de 2013

SOUL KITCHEN


«Dizer um corpo. Onde nenhum. Mente nenhuma. Onde nenhuma. Ao menos isso. Um lugar.»
Samuel Beckett



Colecciono cozinhas com botões de nylon e veios
no mesmo sentido, torneiras com ficção e sem ligação a
nada e coisa nenhuma ao lado de
tomadas onde o último aparelho foi
escorrido em cravo num vaso e
pão do dia em que amasso letras fora e ponho-as
em assados e facas afiadas.
Alecrim e mostarda narinas adentro com imanes
ao peito esmurrado de vermelho mão.
O papel de memória absorvente é imundo
em calcário e tem lugar ao meu lado.
Uma extensão de electricidade pouco segura dos seus
dedos, caminhos e receitas.
Acima da linha de água, marcas de inundação também
a vermelho e são diárias.
Rede na caverna de esfregão que não cabe
em tanta sombra tudo
fora do lugar da pedra confirmo o gume, fatias de mim fino;
o coto que resta deito-o ao sal grosso.
Ouço algo.
O papel ou faz muito barulho a amarrotar ou é café
de colheres largas.
Tudo tépido acima do frio feito a
marinar tabacos, a minha mortalha devolvo-a
à despensa.
Do escadote aproveito pouco e são só degraus.
Demoro um pouco mais a porta, aberta pois gosto
de desinfectante já usado em perfume
de noite e alegria por saber ter
tantas lâmpadas ainda ali.
Os únicos artigos de arrumação são e passo a
vida a descrever: caixa de gelatina e sacos para os ossos.
Os meus, depois do coto.
Contudo a pele adocicada e a boca com molas.
É tudo reciclagem e amanhã volta a inundação.

Ao pequeno-almoço.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

TABLIER




Irrompes das hipóteses de morcego em remendo e
desces um estômago à montanha;
os candeeiros todos à tua altura também
abraçam-te em dúctil de metal; a avenida
murmura em uníssono electromagnético.

Almofada de pânico neste inferno confortável, e mil
mãos calejadas de ganga.

A porta de acidente, desencarcerada
antes do volante.

Mais luzes e tens orgulho em reflexos.
Escapes e vermelhos, todos
tingem o preto plástico de toda a largura
do habitáculo e é mundo do mesmo.
Agora estremeces. E perguntas?

Um punhado de pele e coleiras estéticas.
Bastam mãos, tanto no lugar como para fora.

Sai do banco a pergunta e pedais a 3 cantos.
Sinto que arrefece ao longe e desaperto mais um botão, com as mãos em pé.

A ordem é a correcta e vê-se nervos à vez de vermes, na carne à espera de ti;
da fala muda ris e és loucura, pisas e tens braços
ao leme sobe um parente mecânico à linha.

O coração tem gasolina, há um caminho de reserva e
não é longe de lado algum.

No lado direito, em reclamos tatuados de religião, viras
a boca o bastante para milagres e agradecimentos de rodapé;
depois é a ponte e não queres lantejoulas.

Intimidades de nevoeiro e serpentinas de ferro há muito
curvas, ferram em costas macias do costume e
CHEGA!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

DE PUTA MADRE




A boca à linha na pedra
fria de azar à solta em
algodões amargos de assoar nos
passeios da fama inteligente com
mãos de veias contemporâneas, digitalizadas
em poros de deserto, famintos
de coisas verdes o martelo é pouco e fim
ao cabo em lascas de lazer rompem
a pele de sabedoria e orelhas amestradas.

O som em coluna debandada de operação
plástica em bigodes sensuais aparados
em anil e deitados às bocas
em água no bairro da Chueca, Madrid adentro e
deitado fora em tranças.

Vertigem de cristal a tropeçar no palco
escuro de artista apagado e fora do
sítio de discos e bolsos.

Ressono barbitúricos em dose de
pilulas no aço assumido sem dia.
Provoco o esgoto e sai amarelo informado das
bonecas de hambúrguer com sotaque
tribal, arrancam-me os olhos bonitos
e atiram-me mamas de silicone avarento.
Suor de lima extensa à unha.

Ato a cervical e admiro-te em ramo
de flores ordinárias.

Cheiro a gás de cidade.

Bichas de feltro rasgam-me
a meio e não me importo.
Volto à pedra em excesso
de túmulo e calço 42 verbos congénitos e
estão apertados, com companhia.
Mudo a hora do siso a tempo
do inverno no registo da esquina
gritada: MÁS ALLÁ

terça-feira, 21 de maio de 2013

SOMBRAS





O cotovelo em pedra
antes da chaga em espera continuada.
Formigueiro a meio e um
arco perfeito em posição de olhos a
olhar através do rectângulo tosco feito
à pressa e ditado pelo capataz adormecido
ao almoço, a calha
boa de correr mas fere
o material que do metal faz-se carne.
Em repouso.

O pensamento contorna
mãos a várias
horas ao relógio de queixo,
tombado como se tudo parasse
bem dentro, a voz não,
pois dita em contínuo através do elo.
Á alma agrada-lhe
a sombra da árvore em que vive.
Já não é só casca em socalcos
e pássaros curtos em equilíbrios de ópera.
O alternado do branco dela própria
irá à morte da folha, e as raízes
continuam a sair-lhe por diversas;
tomam hipóteses de caminho à surpresa.
Continua de pé e ocupa
ainda um plano grande e o olho traem
e desfoca em empurrão de quarenta e cinco.
Em graus implicados e simples de contorno.
Depurado só e projectado;
e não lhe falta o que consome.
Movimento.
Tenho sono neste quarto mas é brando
pelos braços e toca todas as notas.
Acima da cintura só telhas e sombras
com mão no queixo e chaminés em queixume.
Ao vento.
A tristeza não se disfarça em danças tentadas.
O material transformado já do seu
natural em outra coisa da cozedura
do caminho, antes hipotético do suporte.
À raiz em cinza, o clone imaterial
da falta de mãe geradora e d´água no umbilical
que se perde em valas, nós não.
Temos olhos à sombra.