domingo, 30 de abril de 2017

CARRINHO DE LINHAS





Estava eu     para quê     guardado.

Para ir     devagar
Ao lugar das gavetas
Na memória ou
Móvel     atacado por
Térmita duvidosa     foi
Assim mesmo? Foi
Acontecendo e logo
Levado a vazadouro     mal
Cabe aqui
Dia ou número
Inteiro.

Lá no fundo
Um céu aberto
Em dois     outra desculpa
Pois não
Peço perdão por menos
De umas quantas
Linhas brancas     nunca
Cortadas para tecido.

Fotografias de lugares
Nunca habitados     modificados
Por ponteiros     por exemplo
O Calvário.

Fui a casa
Desocupada     por ali
Arrancar às paredes
Ainda de pé
Braçadeiras que seguravam
Fios condutores
E outras linhas não
Servindo já.

Envelopes nunca
Tocados pela saliva
Guardada aos cantos
Da boca     águas
Estagnadas     onde
Guardo e cabe     aí
Vida não minha     sua
Memória é minha
Por mais um
Tempo     por pouco
Me esqueço
De a fazer
Desaparecer.

Vitrificado seja
Um nome
De lados iguais
Descosido o desenho
A meio
Corpo     não havendo
Única quadrícula
A conter
Seus braços
Entre linhas.

Milímetro seja
A unidade de medida
Suficiente
Por onde
Fazer desaparecer
Essa lágrima retornada
Chamada à terra.

Catástrofe privada
Levada a se passar
Por outra coisa
E não à letra
Pela vala
Do peito.

Há prédio no meio
Disto     fazendo
Esquina com a noite
Lá atrás     vai
Homem passando
Para lá da
Última aresta
Visível     o outro lado
Da rua se distorce
Longilíneo     desaparecendo
Para mim
À frente da porta
Principal.

Filme negro
Dá impressão
De ir esticado
E justo
Ao rosto e demais
Que é corpo
O segurando a entrar.

Reflexos elásticos
Entopem o olhar     amarelos
De luzes buzinando
Às sombras     linhas
Ao chão     embutindo
Nervo de aço
Temperado.

Estava eu     para quê     guardado.

O olhar voltado     indo
Em sentido
Contrário por um
Corredor habitado
Lá atrás     escuro
Escuro     sabendo que
Ali está e
Ainda respira
O último marçano
Revolvendo tempo
À mão na tulha
Da vida.

A linha do rodapé
Atada à cadeira
Onde experimentei
A morte antes
De a usar     eu
Velho     velho     sujo
Porque estava sujo
Rugas embrutecidas pela
Merda dos pássaros
Que me dão
Céu     não há aqui
Qualquer gesto
Pedinte.

Merda
Merda
Merda     só
Isto faz
Parecer um quarto
Maior ao canto
Dos olhos     vá
Se a vir     levo
Camisa branca
O costume     de alças
Vários buracos
A ver se a
Barriga.

Nu
Da cintura para
Baixo     baixo
A guarda     e
Foi tudo
Por aqui     desci
Até onde não tinha
Degraus     outros
De nós ali
Também     presos
Sem ter para onde
Mais ir     aqui chegado
Se acaba
A linha     e tudo
Parece se ter
Perdido     uns
Dos outros     não lembra
A ninguém
Vir assim
De mãos a abanar
Linhas     que não dão
Para lado
Algum     é isto
Disto     assim
Como assim.

Se ficas     ouve     se
Perde mais
Um pouco     senta-te     e
Deixa-te ir
À falência     do último
Órgão     uma nota rangendo
Um sol tremendo
Queimando a pele
À máscara.

Rezingando última prece
A um Deus
Envergonhado
Na minha
Vez     volto e
Vou ao lugar
Antes assim
A tempo
De repetir
A cerimónia e
Vestir um trapo
Aos ossos     à altura
Desta importância
De ir para sempre
Desta para
Melhor.

Tique     traque
Tique     traque

Se não é
Desta     escuta
Coisas belas     ditas como
A melhor mentira
E tudo faz
Sentido.

Itinerários rascunhados
Nas costas das mãos
A tinta
Água
Forte e
Breve.

Inclinado     o chão
Acaba na esquina
Pela berma do céu     região
Das nuvens     uma ou outra
Linguagem que é
Cuidada     vai
Inteiro o pássaro
Pelo meio.

Temer a oração
Por esta conter
Desculpa de mau perdedor
Em tudo
Filiado.

Escrever nas entrelinhas
A vida     desentender
Esta frase toda     incluir
Cidades prescritas
À mão avulsa     e
Almas desertas
De ruir.

Breu
Breu
Duas linhas
Dois lados
De rua se
Mostrando     a construção
Do sol na fachada
De um prédio     linhas
De força     alimentando
Por baixo o céu.

Viagens sem emoção
Nem princípio
Assegurando o fim
Que se dá
A uma imagem
Em que se acredita
De olhos fechados.

Portadas brancas
Pelo interior
À noite     desafiadas
Por ramos de sombra
Nascendo dos candeeiros
Ficando raiz
À superfície e adeus
Ao que é
Real.

O acidente
Ignorado     me deixo estar
À janela que dá para
A rua     em frente é
Que é o fim.

Destino e sombras
Não se entendem
Se desenham
Com vida
Levantada cedo.

O nome das mãos
É universo de janelas
Abertas a dar
Para um
Verso em beco.

Atenção
Citar sempre
A partir de dentro
Usar as mesmas palavras
Que usámos por original
Em folha
Que se possa ver
E rasgar à frente
De quem irá
Ouvir nossa voz     com licença.

Círculos pequenos     largas situações
Por adição     há uma
Caixa em madeira
Até cima vestida
De cabeças furadas
E olhos mortiços
À espera de um
Corpo boneco
Precisado de
Compostura     e menos de
Uma ferida
De orelha a orelha
Traçada em arruaça.

Ânimos exaltados     vozes
Desaparecendo
Pela vertigem à boca
Do palco antes do pano
Trair o fim
Que se dá
A uma fala ainda
No princípio.

Âncoras     a tudo
Quanto se mexa
Deixai cair.

Tentar o contrário
Com alguém
Ao vosso lado     passando
Por aqui sem dizer
Água vai     o movimento
Trasladado para a paralela
Ao íntimo     assinando
Cidade por baixo.

Extremas podem ser
Morte e Sul
Tuas mãos onde nasço
E me ponho
A jeito.

Chegar a tantos lugares     perguntar
Invariavelmente por quem
Nunca ali está     empregar
O dia     deixá-lo
Ser pontual     chegar depois
Dele     fazer
Chover.

Dançam o que pedes
Carregam guindastes com
Nuvens de tempestade
Linha tirante     velas
Eriçadas     parte de
Uma estrutura.

Sei de superfícies e de pobres
Detalhes     de palavras presentes
E cicatrizes em alguém. A herança
Dos lugares é serem
Outros para quem
Nunca chega.

Bárbaros e elixires
De ponta. A especiaria
De um número a
Morder a língua.

Passam alguns minutos
Ao meio da noite
Dia novo que
Me pões mais velho.

Minha vida hoje
Posta em aniversário
Que me não aquece. Me dá
Igual     fazia o mesmo
Por ti.    

Chegarias mais cedo
Ou nunca chegarias.

A mesa está posta e
Não toco em nada.

Olho para a ponta
Da caneta, escuto
O relógio dando palmadas
Nas costas dos ponteiros.

O cão ladra
Lá fora e longe.

Passa um carro.

O estore está para baixo
A janela está aberta.

Passa um carro
Na estrada principal     nada
A mão tapa
A boca     o olhar
Preenche
O branco da folha     nada.

Passa um carro.

A arca do frio
Produz em contínuo
Gelo e ruído     deixo de ouvir
A casa
Discutem lá fora
Levam crianças com eles
Ao fundo     passa um carro
Ladra o cão     o ponteiro
Passa     o ponteiro
Passa     sinto
Muito não
Nada
Sentir menos
É mais
Nada falta
Fumar já
Não falta
Dar de mim
Falta
Dormir vou
Meu
Maior incómodo
É não ter
Insónias
Me dá
Sempre
A pancada
Do sono     hoje
Não é diferente
E nunca
Será.

Não mudei
Uma vírgula     o que foi
Que disseste? Deixa
Estar
Eu assim.