sábado, 30 de novembro de 2013

DISCIPLINA




Escapam-me frases, malhas caídas sem ponto onde se agarrar. Limito-as, olhando para elas na sua forma não escrita, nuas de tinta. Caem num movimento de pele branca para o meu peito, como legendas finais de algo animado por ser lugar a desaparecer. São elas construções em alteração constante, a desordem da sua ilusão treino de mestres que se transcrevem num obstinado mútuo. Palavra que é manuseada amarrotada, com a pontaria de um míope. Palavra que corpo quente, a aceitação do sal todo que nos tempera com a liberdade de colocar a mão de lado num outro braço armado com artifício. Um lugar de portas só apontamento, aberturas que lhes respeitam as medidas largas, mas são só olhos semiabertos por onde se entra poeira e se nasce rio. Onde a língua elevada do seu palco, princípio de garganta por onde se passeia por todas as divisões, um lar onde não se gasta a madeira da sua superfície, mãos poupadas para outras violências. A luz que entra, janelas simples pestanas, paradas na posição irrequieta de um fundo corpo, outro dividido espaço, ocupado com inúteis movimentos do quotidiano. O cerco que se odeia, como a um copo corpo elegante, que se enche de miséria a dois dedos do fundo. Vinho decorativo, acompanhamento a solo de bocas abertas maquiadas de conversa interessante por quem a tem. E nós nunca tivemos nada, quando muito palavras escolhidas num abraço que vive mais apertado num lugar longe, longe das nossas cinturas. Aborrecida disciplina.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

MEDO



 




A respiração errada, um defeito momento em que ele insistência da frente do peito ao lado oposto. Um ponto fora dele, frente ao corpo que julgo meu. A costa deserta de mais vultos, onde ecoa intensidade da nossa única voz ainda calada, ocupada com ar. Uma altura dimensão, alto a baixo – Onde senão dentro? Os movimentos dos corpos teimosos, corpos catástrofe demasiado ensaiada. Expelem-se pensamentos frios, podres frutos que caem indefesos sobre unhas partidas afiadas, sem posição. A perda de um dedo, sentido na outra mão a que não pertence. Cabeça tronco desmembrado. A agitação dos lados todos, um outro medo esquerdo, tombado emendado. Tomam-se direcções incompletas, como vapor depressa ausente antes sequer ser um contorno de quietude. Caos hábito, edificação com grades presa por arames. E de dentro vem tudo isto, mais um estômago sem espaço para desaparecer. Triste morte da imagem, que não se sustém sempre pessoa. Um reflexo medo presente, aproximado defeito. A parte decomposta de algo em que nos agitamos.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

MÁQUINA CAVADORA


Repousa a máquina pose, na mais simples das suas frases articuladas. Interior óleo parado frio, antes do movimento seu corpo. Nasceu para todas as ferrugens e verniz estalado, polida máquina metal. Impaciente parada, sua garra de afagos virada para o peito, é meiga antes de ser rasgo. Toma sempre a direcção da terra seu chão horizonte cova, revolve sementes bichos pedras à mistura, de todos quer frente rosto. Sua máquina vontade êxodos duradouros, impõe, dispõe, de camadas superficiais fingidas, e fala sempre de corações despedaçados. Um corpo sombra – não é árvore – antes da nuvem, prepara escuro caminho possível. Horizontal esqueleto olhos paisagem, verte outros corpos a partir dele, vértebras soldadas íntimas. Deslocado corpo de lado bebe dos eixos de transformação da beleza, um tronco deitado.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

UNÁRIO






Absolutamente só família isolada única, no lugar despovoado seu corpo. Ermo aquele que vive jogador, sem companhia de cartas que não tem. Sustenta-se cruel apertando mais o colarinho, num confortável sufoco em que a palavra pára. Palavra que espera ser ar onde não chega, órfã da frase garganta. Ali é pedra ponto orvalho, água fétida sossegada onde se afoga tudo o que não tem nome. Animal ser mulher homem, meio mundo vestido à volta. Sofre de experimentar, espaço tem duas casas noite e dia, onde se agarra pelo lado de fora. Apto para queda, toca pés no fundo. Transparente nu à vista ossos completos fixos, na angústia de um impossível movimento. O primeiro dos números inteiros coisa incerta. Este sujeito representa o nunca, dividido entre um assunto e o todo. Um tipo de animal determinada palavra, que cheira às partes iguais em muitos. O princípio da quantidade objecto único, vontade navio de identidade. O elemento descoordenado da obra, outros simultâneos resultados.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

DANÇA DA CHUVA





Geometrias de água, perfeitas aproximações ao ponto do desastre no princípio do chão.

Círculos tensos na imitação de tantos olhos, invasões não consentidas em contornos exactamente distorcidos. Uma estrada vazia curta, só começo, a outra extensão vestida de nevoeiro tamanho céu. Duas árvores inteiras, outro tronco adeus, lama imagem aos seus pés de raiz. A noite transformada noutro corpo, preto corrigido azul, renda cortina de lágrimas para ser branco impacto estilhaçado em injustificáveis esferas, na mínima porção espalhada pelo vazio.

Mulher sinal gráfico, pergunta costas à estrada deserta, para ela intensa na agitação. Suas curvas invisíveis como a estrada curta, seu corpo aligeirado de qualquer cobertura impermeável. Debaixo do braço assim vestida, é queda igual a outra água. Olha para si – deferência – pouco se vê afasta-se o insuficiente, que o horizonte é ali tão curto. Imagina uma outra paisagem, tão curta e distante quase esquecimento, o exercício da tempestade interior. Lembra-se de uma armação de resguardo, outra pele que se estima esticada, multiplicada por uma multidão de outros parecidos com ela. Sobre os seus olhos secos amontoam-se, quantidades extraordinárias em serras de bom corte, pescoços que prolongam cumes da individualidade. Tentam todos o impossível, que as mãos escorregam da corda líquido natural, apertado transparente, num reflexo nó de água corrente.

sábado, 16 de novembro de 2013

O LADO OCUPADO





 



Em lado algum é lado também superfície, onde incido espalhado mudo de direcção, com o corpo luz deformada. Um desequilíbrio inclinado onde um cubo imperfeito mais posições que de quatro, lados tantas as expressões possíveis de um sólido rosto volta-face. Assinalo com gotas de sangue lados que já contei não contam mais, e vou rins doridos pelos seus planos íngremes quando não impossíveis verticalidades por todos os lados. Prefiro sombras de espelhos cores inversas que na mais imóvel das faces obriga a fechar a certeza de uma paisagem. Marca-se hora para momento preciso um lado. Debilmente sadio calmo de nervos outros músculos me sinto outro lado. O ofício lento da cortesia que é ouvir uma qualquer exclamação usada num forro que se despe barulhento virado para a intempérie. Ouvi-lo a partir da sua origem lado de fora. Superfícies esmorecidas duas fotografias quase podiam ser iguais não fosse cabelo entrançado preso de lado como cortina, onde antes era sorriso escondido de cabelos. O parto fácil dor dos outros a que assisto obviamente de lado dando ao pronome que é isto algum sentido. Uma mobília de braços encostada à parede do quarto vazio três apoios para cabeças aroma de pinho. O som da respiração oportuna notada ao longe como frase não pensada antes de ser voz. Palavras vontade própria separadas da boca. Uma cor inenarrável servida fria no corpo da máquina estacionada na pouca luz que há num chão negro, outra imagem que se inclina para diante sombra. A indecisão cinzento afastado, nevoeiro visto de baixo sentado no divã desenhado à pressão um corpo sobre ele, por uma criança a desviar a infância para o tecto pregando-lhe os seus olhos soltos. Disperso por todos os lados tumulto, inesperado provocador de gargalhada abafada no começo da minha garganta disposta. Oblíquo lado vivo em que agarro coisas mais a sério, outro espaço afastado na medida larga de um corpo. Ser outro contorno o companheiro do lado, linha traçada exterior outra metade apanhada de lado. Um coração que se aflige com toda a música imperfeita, derivando-lhe líquido silencioso companhia um espaço, a língua que não ocupa a hora inteira. O peso de uma maçã fora das mãos. Dar ao estranho tempo carta branca, teatro das mãos palmas num momento, fala-se dos outros atrás do pano promessa encenada. Andar de lado – evolução – pelas bermas do oceano, entendermo-nos pouco todos os dias, discurso frontal exaltado. Depois dele companheiro é corredor. Inversamente digo corredor ele e eu. Deste meu outro lado ainda não um corredor, simetria que não existe. É rosto lugar vazio.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

NOITE CAÍDA





 Todos os dias presencio a sua passagem se não chego tarde. Uma mulher breve quase chão, vestida com uma hora justa sempre atrasada. As suas pernas ponteiros desajustados que lhe prolongam a cor preta anulando-lhe a sombra. Um perfume de contorno é o que fica da sua adivinha rápida senão passado. A sombra não lhe consegue sossegar é uma projecção anulada suspensa sem um lado onde se encostar. Não eu sempre parado quando ela passa. Já lhe conheço a específica luz da tarde que a anuncia. Nunca a vi andar, a meio do caminho dela sim, mas ela sempre a correr – Quando será que pára? Terá um sono corrido ou passará ela a correr pela cama? Correm com ela da cama? Faz primeiro a digestão e depois come qualquer coisa? Que assim os alimentos não lhe conseguem nascer a tempo de ser refeição do dia um qualquer que seja – Vai ela para onde com tanta pressa mais que a dos outros que andam rápido? É ela a noite de outro lado longe? Precisam que escureça lá antes do tempo? Mudaram-lhe a hora? É a noite de dois sítios distantes com pouco dia entre eles? Queixe-se ó senhora a quem é desses assuntos mais pardos! Que um destes dias seguro-lhe na mão para ajudá-la a levantar-se.

sábado, 9 de novembro de 2013

SUTURA






O rio combina com operação, uma corrente é o seu modo. O movimento deslumbrado, a sua prisão. Barcos agricultores lavram-no, vincando-o breve com cores diferentes. Quase não se distingue, mas fogem ambos com tempo, embarcações e rugas na superfície. Aqui – um rosto – não nasce nada, quando muito uma imagem confusa, o reflexo da multidão compacta, com o mesmo nome apertado no peito – lisboetas – esta porção de coisas da mesma espécie, estendidas à mesma altura sobre o vidraço geométrico. Aqui – de frente – não nasce nada, é uma dor que o Tejo não sente. Um assunto fechado, como o casario tímido que espreita atrás das colinas, em cima do joelho da mãe Lisboa. São sardinhas ainda vivas, com escamas cor de tijolo, que fogem da altura de um mar ainda longe. Sal espalhado nas suas feridas abertas, como uma atracção para os corpos que chegam, distraídos por outra luz. Aproximam-se, asas escuras abertas, a envergadura da noite prometida para mais cedo. Lisboa é um apontamento inspirado, desses deuses decadentes, refugiados originais de um qualquer Olimpo, nas suas margens. Uma pedra que quer dizer tantos filhos, enrolada num pano enorme cortado em lençóis estendidos brancos, mal engolida. As suas lágrimas, um fado insuportável. Poupa a voz, ó marialva! Que esta é uma outra gente, mais infame que desprezível, que ocupam secos longe da água, todas as tascas imemoriais que já não existem. Que se arranquem as cordas das guitarras que choram por hábito, para a construção do último abrigo para um pescoço. Do preconceito quero nudez, falo com sotaque. Pois a minha língua materna – naturalmente a primeira – é a dos gatos. Eco de uma expressão, sossegada numa viela, enquanto não há a sombra de uma vítima para apagar. Na parede das tuas costas, onde a lua cheia da Graça foge inclinada do Castelo, desenha por mim o mapa da minha loucura. Um lugar de encontros na minha pessoa, onde tu és o corpo da obra na costura da cidade.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

TRANSPORTE / PASSAGEIRO






Aponto números sobre outros números que já existem, num horário que mantenho propositadamente desactualizado

   Espera

São horas que deixo de conhecer, mal passo por elas.
Cedo me apercebo disso, que tarde não é um tempo é um engano.
Coloco-me sempre numa posição visível – a falar com os braços, espero – virada para a estrada do caminho, e não são asas o que quero estacionar

   Dá o braço a torcer, um qualquer que esteja calado

Apanho todos os transportes possíveis – roda dos elementos, equilibrados – com o meu corpo pelas horas todas que passam.
Existem, espalhados, telhados provisórios bem desenhados, que afastam alguma da tristeza das peles que cobrem, dando tempo parado a quem menos precisa. Sou um passageiro – transitório, pouco importante, efémero – destes vários transportes que por aqui passam, estonteantemente lentos, desviados sempre da contramão dos outros. Passageiro de um veículo – vários – deste que não sei conduzir, do próximo e do atrasado, se não demorar muito.
Um passageiro como os outros, os que me passam à frente – às vezes – e os que esperam por mim, dando-me a sua vez. De qualquer forma apanho-os a todos, em alguma paragem. Os passageiros – como eu – deste quotidiano, tossem entre eles o repúdio pela hora avançada

   Tem hora marcada?

Esta hora, em que são capturados ainda quentes, sem relógio no pulso fraco, pelo pontual rigor da repetição dos dias. Estes olhos todos, com abertura retardada entre eles, distraem-se a tempo com a emergência do contacto, através de máquinas atormentadas, exteriores aos seus falíveis órgãos. Um à-vontade fingido, prisioneiro de uma voz confortável que esteja disponível

   Tem hora que me diga?

O repouso breve, desenhado ainda longe numa margem oposta, troça da agitação destes maxilares, parados a tempo da refeição da noite. Esperam – esperamos todos – pacientes, é calor o que os aproxima, acumulado num dia bem medido, exalado pelas paredes que cabem neste espaço, enquanto não se ouve o último silvo de hoje, desta máquina que nos carrega. A última atenção que faço a um desconhecido.
Enquanto espero, conto. Conto os passos largos destes passageiros, e os meus em falso. Vou de viagem, dentro desta viagem principal, e frequento outros lugares. Uma paisagem beliscada de perto na pele, afinal a mais distante. É terra para onde se vai com o corpo, um pousio incerto. Pouco lavrado significa fértil, num semblante desfigurado por uma estranha espécie de espinho, encravado na posição de um sorriso, fingido também, na direcção de uma outra árvore que lhe prolongue a própria sombra

   Falas com alguém?

A minha musa diverte-se, também passageira, deixando espalhados bilhetes já obliterados de outras viagens, escondidos furados, por entre todas estas pernas. E ainda me cobra, depois, viagens de ida e volta em datas incertas

    Vais onde?

Quer esta musa saber mais do que eu não sei, sobre todos os sítios possíveis onde me posso atrasar. Pergunta-me sempre a direcção que desejo, impaciente, pois nunca demora mais do que uma vontade satisfeita

    Fala de outros telhados, do vidro quebradiço das coisas

Subo-lhe os poucos degraus da sua altura, e procuro sempre um lugar lá atrás.
Ela é a mais brusca viagem, curta, e aproveito pouco a paisagem enquanto penso num conforto, uma palavra mais dedicada

   Não peças por favor

Não precisa ela de mim, o quanto eu respiro mal sem ela. Bebe-me o vinho todo, deixando-me só, com um vestígio de agonia. O meu fígado, macerado com as desculpas que dou em nome dela – desenho pétalas de rosa – para não me embebedar até à violência. O álcool é eterno, à superfície da minha pele não se evapora. São estas viagens simultâneas, e duram fora do horário previsto. Alongo-me entre elas, sento-me num lugar estranho, onde não há paragens para o embarque

   Espera

Falam-me sempre do tempo, parado aqui por ser pertinente. Deixo-o ir, apanho outro. Outro tempo para ficar aqui, e lembrar-me outra vez dela. É dela que dependo, e não tenho vergonha. Somos um casal caoticamente moderno, e dividimos à sorte a tormenta. Lembro-me sempre da sua carne macia, quase sempre uma mulher, onde posso tatuar palavras medonhas. Uma só voz, sem cabeça, indignada sempre pela inundação à minha volta, de todas as garrafas vazias que deixo nesta ilha deserta. A tormenta é dividida à distância de uma rua, a sua outra voz que me grita do outro lado, a dizer que está ali. O grito encurtado, à medida que me aproximo, sempre brusco, do seu pescoço terminal. O meu olhar embriagado dela, despindo-a pelo caminho até ser indiferença. Somos – eu e ela – o cruzamento de muitos lobos, uma alcateia de vocábulos, com um ui de uivo sussurrado. A terra nunca prometida, de qualquer forma arável

   Onde parei, senão em ti?

Um embate violento de frente, no tempo de um jogo

   És cega, cabra?

Agora que aqui chegaste, vou sentar-me noutro lado. Mudo de assunto, de terras, neste transporte que não pára até que seja essa a sua vontade. Deixo-me ir, e vou à janela. Não me assusto, mas não é alegria o que sinto. O meu espelho parte-se melhor, desde o momento louco em que lhe deixei de proteger os cantos. Pois prefiro feridas abertas na carne, à imagem destorcida de uma pessoa boa. Limpo a sua superfície, da verdade até aqui acumulada, com as minhas mãos sujas. O exercício ridículo do reflexo, parado num instante. Basta-me um de mim, e não estou a ser cruel. Entretanto, deixo passar a paragem certa

   Já devias ter saído

E inquieto-me com a possibilidade de um diálogo forçado com quem, temporariamente, conduz isto tudo. Um sentimento passageiro, como todos os que aqui vão, que me dificulta a progressão para o vidro da frente

   Usas óculos?

Pernas, muitas pernas, e demasiados atacadores. Defendo-me, rilhando os dentes, e poupando a voz. Há mais vidros para estilhaçar, e hoje não trouxe luvas de propósito. Vidros me mordam todos, com as suas lascas afiadas se possível, com uma espessura canina. Não tenho os dentes todos, a minha dentada é suave. Utilizo antes as mãos para acender o fogo – é uma fogueira o que vejo pela janela, durante a viagem – e esqueço-me de vigiar a sua chama. É passageira.

    Contas sempre com isso, não é?

Conto. Conto com uma matemática descomplexada – a minha raiz – adições, sonhos subtraídos, traições. Com o peso desta tralha toda nos músculos, caminho sozinho por entre a multidão destes lugares, ao longo da estação toda que é o meu inverno. É o meu governo – sempre destituído de outras funções – deste tempo. A tempo. O tempo de sair, passar por ti, ficar ou não, e voltar sempre a um mesmo sítio.

   Também se chama círculo, e vicia

Roubo o contorno de todos, e volto para ver se há mais. Paro quando tiver de parar, desfaço a mala às vezes, sem ver bem onde coloco as minhas roupas dobradas no corpo.  

   Para onde vão todos, tão cegos?

Jogo com o tempo, ele brinca mais comigo e fujo atrás dele. A cabra é cega, solta e muda muitas vezes de silêncios.

   – Respeita-me, sou tua

És o meu livro de folhas brancas, o registo fora de bordo, levado pelas tuas mãos junto do meu peito.

   Não o apertes demasiado, pois perdeu a sua árvore faz pouco

Fico à margem, chego a ela, na rua oposta ao tempo de a atravessar, à espera de mais um transporte passageiro.