quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

VÍTREO





Espelho ardente, percutido
Pela maré de águas vivas que são
Tuas unhas impacientes – elas
Sabem castigar, sabem
Tirar a um a sua harmonia. Notas
Soltas, arrancadas superficialmente
À ausência.

Matéria reduzida
A água, tudo a acontecer
Fora de enquadramento. O mecanismo
Utilizado para interromper
O rio antes da boca
Tua. E teu (por mim)
Corpo aéreo, transparente,
Espessura mínima
A separar mundos
Tão diferentes. Também
Um sol a evitar
O interior humano
Das construções momentâneas.

Líquen voraz
Das almas sôfregas, em formação
Atonal. Te indispões
Verticalmente a tudo
E ninguém.

Por inteiro (não
O coração) conta ela
Pelos dedos meu número
Complexo, umas vezes
Voltando ao lugar
Já passado, a rasurar
Minha pele petrificada. Uma
Vida que são outras, muitas
Em que se toca
Com nervo intimado. Viciado
Pelo inesperado, de cabeça
Tenho esta hora e pouco
Mais.
Pinguécula de mar, embutida
Olhos adentro. O hábito
Que temos de nós.

A palma da mão
Abriga no seu interior
Um corte profundo, cicatrizado,
Atravessando a linha
Da vida, uma delas, alterando-a
Para todo o sempre. Fogo
Abandonado para ali
A arder, enquanto respirares
O mesmo oxigénio
Que o alimenta.

Linhas em perspectiva
A desaparecerem num ponto
De fuga, preenchidas
Por numerais aparentemente
Desordenados. Para nada
A tender. É corpo
Estatelado no chão,
O som da queda atrasado,
A cair ao lado,
Desenhando-lhe o contorno. Retrato
Falado ao contrário,
Sugado pela boca
Que tudo quer
Calar.

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