O que era desta noite
começou, a fazer dia.
Desconhecidas formas,
tomadas terras
de empréstimo,
na convulsão dos poros
se convertendo em
ar e sangue, restos
mortais dissolvidos
na escuridão se indo,
se estendendo na corda
do olhar lá para fora.
Árvores e vegetação
rasteira, sobretudo,
e uns pássaros
preguiçosos pingando
pedaços da precipitação forte
que se abate no
presente tenso.
Palavreado enfermo,
esta escrita
chocando alguma
com certeza.
Coincidindo
nesta espera às vozes,
esperando reconhecer
alguma, passando
ao longo destes corredores
de morte à espreita. Faço
sala, aguento mais algumas
horas aqui, acompanhando alguém
chegado ao desespero
de ninguém mais
a jeito encontrar,
os intervalos registando,
os despindo da malha apertada
por onde quase nada
passa sem ser
notado. Não fui eu
ainda, mas não faltará
o dia e esse chegando…
espero não
ser apanhado aí com
peça de roupa interior
branca.
Sofro do contágio suave
destes olhares
virados para a parede,
doentes de tudo
o que me vem à cabeça.
Persistente tosse,
criando volume
a mais onde acaba o corpo.
Andores,
cadeiras de rodas,
a passos bastantes
do nosso empenho
derramado, dilatando a espera
enquanto nomes não
são chamados. Negros
números ao fundo,
habitam o espaço em branco
do tempo marcado
no lombo de um
relógio. O ponteiro
dos segundos acelera
um nada a narração,
do círculo que se parte
à dúvida. Escuto
André Maluquinho,
assim chamado,
à triagem dois por três
episódios seguidos
de paranóia
ainda não tinha nascido
o sol; de apelido
está servido,
enlouquecendo se repete
por si só.
Moedas caem mal,
no estômago da máquina
das bebidas quentes. O dedo
acompanha o botão
ao fundo; o motor do moinho
se liga, iniciando
a mistura do compósito
quase café a ser
levado à boca.
Não consigo – diz aquele
que ali desiste, empurrado
pela palavra que lhe sai
da boca para fora, quando
a tosse o devora por dentro.
Músculos dispersos.
O lugar do umbigo,
sedimentado contorno
fixo ao corpo estranho.
Sensivelmente.
Meu velho
par de jarras;
olham um para outro
à escala natural num sólido
calmo; para quem a tempestade
de tudo é sempre uma coisa
que se dá lá fora.
Resistentes à infância
a que nunca chegaram,
náufragos de gestos,
a se perderem de si em
cisma de penicilinas.
Somos
transferidos para um
espaço interior, outro, onde
há portas em contínuo abrir. Passamos
pelos raios X: ossos amargos,
um nada de arrependimentos.
A morte certa
que se deita a perder
à maca junto de nós,
pedindo água ao enfermeiro que
passa, drogado
por madrugadas iguais. Corredores.
Aparelhagem vermelha,
de emergência. Lha deu, a
água; fica a morte bem
por agora, de copo na mão e
olhos fechados sonhando
viver prolongada
nos corpos vindos a si,
abandonados ao festim
da causa perdida.
Humana.
Mãos encharcadas de
anti-séptico, cercando
a curva deste rosto a dar-lhe
num horizonte qualquer. A velha
não sabe ler; sendo eu
o que está mais à mão,
me pede o favor de
lhe vasculhar o aparelho
à procura de um número
para onde estabelecer
ligação. E nada. O único
número com nome
ao lado é o de uma
filha vivendo
longe em outro
país.
O meu velho
par de jarras, geração anterior,
veio junto celebrar
ao Hospital
quarenta e cinco anos
de casados.
A velha chegada a nós
é chamada a ir lá dentro,
fazer exames ao sangue; mas não
espera pelos resultados. Se
levanta, me
agradece as atenções,
se benze e sai
porta fora. Já
na rua, pergunta onde é a saída.
Sobra linguagem, sobra
o que dizer ao falar de nós e
dos outros esperando
o nada, se eliminarmos
a manhã que trazemos
nascendo ao corpo.
Contar piadas sobre
a troca do sangue
em análise, e
a forte possibilidade
de aparecer por aí
homem grávido.
Chegamos perto
da viatura, nada
de automatismos puro
clássico. Ter de pôr
chave à porta
no lugar do condutor,
assomar ao interior,
a mão levar
a destrancar a porta
próxima, ainda não é desta e
esta me serve para
um gesto anterior ao final
pronto-a-abrir,
chego perto
já cansado; repito
o contrário
a fechar tudo e
vou descansado.
Me perdi já por aqui:
fazer continua a ser
mais fácil que o dizer,
leva um nada
menos tempo mas
a mão se acostuma, mais
depressa vai
aos trincos
que à pena.
De aqui, arranco
em primeira se
a máquina não
se ir abaixo,
que é dia de chuva.
Se calha ficar,
e me sento onde for,
o que sai mais que
certo é fechar os olhos
ao que passa. Por ali
apareço, ainda assim
a seguir. Uma
trinca na fita de registar
e é tudo.
No que nesse pouco
tempo acontece,
se perde a mão.
Insuficiente de meios,
me encosto ao
nome próprio em dia
a menos. Digo Deus,
ouço pai
dito a medo. Esta voz
chapiscada nas paredes brancas
do transtorno, querendo dizer
aconteceu isto que
te não disse ainda, não
to disse
e aconteceu à mesma
mas não te preocupes, não só
por ainda não
o saberes assim como
porque já o resolvi
lá dentro, enquanto
não estavas
para aí virado.
Acordamos impacientes,
preparados para a insolvência
do impossível, e
amadores em respostas
para tudo. Dou à perna e
chego no teu quarto,
o do meio
da casa. Dou com as
peças de um jogo
de água, formando pé
de tamanho abaixo
no chão que nos é
igual. Ando
rente ao muro
das veias, escorrego para
jusante. Encontro
uma criança apertando na mão
uma urtiga acabada de colher.
Asma de hélio, encravada
em feição metálica engordurada de
tempo passando.
De delito em delito,
comum, o sentido
se deforma. A piada
bem metida dentro da tua
incompreensão.
Teu olhar me levando
a segurar nessas calças
ainda pingando
mijo até ao chão. Porquê
se pergunta, nada
se responde só
me olhar olhar chão,
me olhar fechar olhar,
encolher ombro,
apresentar como arma proibida
aos civis uma lágrima. À vontade
volver, repetir a gosto
até rebentar de
não o fazer. Daqui nada
é outra coisa, nada
disse ainda agora e
já aponta com dedo
domesticado outra
peça de roupa pouco mais
seca.
Quase um suficiente
em que se acredita que
se escapou ao pior. E não.
O de vestir se completa com
o de calçar, sim,
as pantufas deixam marca
por onde andaram.
Conto correntes;
dou à perna para
junto do rio que vai
exaltado, onde me interrompo
traço ponto
mais tarde na mesma tarde.
A me acudir.
Vai tudo à máquina. O vómito
quase tomando conta
do sentido. Sol posto
outra vez. Pleno de
cafeína e refeição esquecida.
Espesso nevoeiro,
o macadame do caminho
frequentado pelos aflitos
fugindo de si. Ao mesmo.
E os nervos
de nada segurar
por um momento. Obrigado
meu igual amoral.
Aceito este contrato
de boca assinado, o renovo
quando pedires com jeito.
A ligeira violência que
em mim se contrai
ao distinguir nos outros
a aptidão para receber
um coração nada seu
lhes batendo fora de mão
por dá cá aquela palha.
Vai tarde. Disso
vim avariado nada
sinto. É pouco.
Um telefonema
mês a mês ou
mais espaçado ainda
dizendo que
está tudo bem,
à mesa do café
é a vida e não
é.
Deixa-te andar
lá por fora fazendo
pouco do tempo
que vai fazer amanhã
não hoje não
descansa, parece
que há muito
e não há mais
que este tempo de
me ir habituando
a mim.
Já passaste, atravessando
à pressa para o outro
lado batendo
com os queixos no passeio,
ó criatura disforme
de lapa incrustada
no peito à mostra
embelezando o impossível.
Subindo descendo
no ferro das elevações,
luzes se vão acendendo, devagar,
nos espelhos. O que se move
em torno se mexe
em mim, me complicando
o sistema de ruir.
Travessas mal pregadas
aos escombros do corpo
a fingir. Tanto
de coisa sensível,
outro tanto de
caligrafia feita num oito.
Cacimbar nos lábios teus, pousar
a tinta no chão. Ainda
nos ouvem.
Te abres, sua prenda, em
ruidosa desordem,
me fazendo mal
a curva dos teus princípios
recortados em vinil, e
alteras a posição das marcas
por onde passámos
há muito levando
a mão à alavanca do irracional.
O fundo branco da folha,
o que te toca no peito,
a nivelas a olho
com a grossa linha
de um horizonte.
Extrais de uma couve rouxa
o pigmento do
teu distúrbio. Por meio
de linhas e sombras, inicias
a sequência de uma
figura triste.
Toldos, bandeiras,
roupa interior
negando posição duradoura,
se entregando
aos diversos alçados do vento.
Inventas carne fresca,
a colocando ao dispor do
predador por nascer
do teu ocaso. As águas que
te ocupam a maior parte
de um segredo, são
fraca metáfora a explicar
atravessamentos a salto
na última fronteira. Pele e osso.
Ensaias maiúsculas
de sulco profundo,
na tomada à letra de
um conto distante. Frio,
irregular. Passar
a chuva lá fora
não passa de um estratagema
para te ires de aqui, nesta hora
incoerente.
Por mais de uma vez,
mudas a posição ao céu
com o tempo do teu olhar.
Raios o partam. O mar
se perde da noite, emitindo
um estranho silêncio liquidando
a normalidade que assumiste
ao te ires deitar mais cedo que
o costume.
Levantas a mão
não me chegando a tocar,
a desces em aparo
me entornando para cima
algumas formas distorcidas
numa selva
de algumas fitas
de luzes led.
Notas de pelugem
atordoadas pelo sulfito
depositado, má-fé,
no fundo de mais
um dia a se ir.
Teclas dissonantes são
ritmos se agarrando
à curvatura do copo
escorrendo por aí fora
a memória.
São já poucas as ruas
com dois sentidos.
Interrompo, sem tragédia,
o já longo período
de sobriedade. Bate leve ainda,
mas sabemos já
onde isto hoje noite
fora me vai levar.
Paredes, esquinas,
fantasias de grossa matéria.
Subam agora
vamos andando e
tão cedo não voltamos. Amanhã
talvez. O que ficar para depois
deste ponto contará
o resto.
A tentação de sair
da linha, atravessar
a palavra num ângulo
mais desfavorável,
se insinua.
Combinações de números
há muito não usadas
a se contorcerem para lá
do papel do papel
rasgado. É oportuno
ir à despensa medir
o cordame acumulado;
vão ser precisos
todos os nós do
marinheiro nunca encontrado.
Meio nada
cantado rimado.
Tornozelos, regiões de sobra
onde se perderá
o encantamento da aparência.
Hábitos,
os da Joana
desentrançada de estações
se triangulando com
colchão e parede, ditando
dezena de pai-nossos
aos que hão de vir.
Vamos rápido
a dar com pau,
nunca chegando.
Marcas circulares,
tons arroxeados e
lugares multiplicados por xis.
Respigar as dobras da pele
lambida do avesso. Te dou
o cu, leitor, se me deres
alguma esperança. Vem
à vontade à bruta pois, que
a Rita Hot Pussy
de outro modo e grosso
caralho artificial
preso à cintura,
de mistura com
umas belas tetas,
já me atirou antes com
o castelo ao fosso
faz pouco. Quando
muda o tempo, se dá logo
por ela. Não há crise. Se
besunta o olho com
gel de apagar dor.
Matulões enxertados
em corno de cabra,
me olham de viés
sem saberem bem
por onde começar agora que
me coloco à sua disposição. Pelo menos
enquanto não passar
o efeito desta droga forte.
O que era assim
tanto?
Mordo os cabelos
de quem passa, ainda
a rir não sei de quê e
os convido a tudo. Abençoados
sejam os que me ignoram.
O tambor da febre. Somos quase
desse espaço por vazar. Cão fica aí,
que hoje ninguém me irá ver
a passear na rua. Fechei a porta
a quantas voltas, quando muito
se enviará um sms
às putas que desprezei
e que ainda me ligam. Se uma
ao menos me responder,
será um problema. Atiro
então as chaves da porta
da rua para dentro
do cesto da roupa suja;
para as recuperar
terei de atravessar
toda espécie de merdas. Cabrão.
Homens de mil lugares vêm
a complicar a situação,
me fazendo recordar de
saltos para a água
de pé na prancha de
uma piscina olímpica
abandonada num verão falhado.
Querida o caralho. Sou um
palhaço impresso no dorsal
a se descoser nas costas de
um monstro. Está a passar.
Depois de tudo, ainda não
sei como te irei matar
pelas costas. Tenho um
fígado daqueles
e honra nenhuma. Meio
verme meia idade. Lúcido
fidalgo degenerado, companhia
para ninguém. Serei sim
e só mais um
dos filhos de puta
em quem irás tropeçar.
Sendo horas,
me jogo ao caminho mas antes
te espeto a língua
no cu enquanto de mãos livres
limpo a faca
que te encolheu e
levará a moradas diferentes.
Sem saber como
nem porquê lembrei
Pasolini e os da Chueca. Ordenadas
abcissas de lugares onde passei
ao lado, vestindo à pressa
fantasmas circunscritos. Amigos são
estes que nunca me pediram
coisa alguma além
do silêncio de seus nomes e
do fogo posto
aos seus corpos
momentâneos.
As velas
dedilham cordas
de sombra, sua toada
desfigurante aguarda
o assobio tardio.
Rasurado a priori
o que ficaria de pé
entre nós. Saudados
à vinda da palavra
contrária, incandescente,
lúbrica.
Mestre de poucas cerimónias,
esse pobre diabo a quem
prometo um anel de noivado.
Ó virtuosos
de gume díspar, depositai
em mim a esperança do que
nunca virá a acontecer. Vos estimo
por obra e graça. Continuai
batendo nesses pratos
e bombos. Escutai, que
solam à besta retornada
de roupas rasgadas onde
se fixam crachás com
rostos de centelha pálida.
Nos prendemos
às cornucópias
de sistemas vulgares.
Dou assim voz às superfícies,
enrodilhado nas aspas sãs
dos invertebrados, sou
das carnes e suspiros. Água
passando por baixo às
estruturas frágeis da memória.
Vai, porca,
faz-me o que é vulgar fazeres,
puxa por nós.
Lembro ainda, safada,
quando pela primeira vez
te quis ir ao cu
e tu que não,
não seria assim
tão fácil não e
me assentaste uma
murraça na tromba,
me chamaste cabrão não
parando de dizer para
quem quisesse ouvir se
o que eu queria era cu
serias tu quem me irias foder,
eu em baixo
tu sempre saindo por cima.
Faça favor, madame.
Nocturno estribilho
em maior dó. Qual
quê?
Sinto muito,
uma culpa que
amanhã ocupará esta habitação
ao deus-dará. Vai só, lá
onde estou não
passando de moda.
Baixo a guarda,
viro quase bicho chiu
não o espantes.
Viemos cedo,
celebrar o princípio de
uma bela fantasia.
Saí à pressa,
o combustível suficiente
para chegar perto da
próxima vítima. Pulsa
ainda algo além do rio,
além dos ventos. Paro
na estação de serviço,
posto avançado
dos bêbados, peço
duas garrafas de vinho
branco e tinto, a empregada
demora olhar para mim
como a perguntar se estou
bem se derretendo
um pouco com os meus
modos ousados, fazendo
só já a conta e
lá vou eu. Poderia,
com algum esforço,
ser ela a vítima. Não é,
porque não é. Fica assim,
sendo meio
puta só
na minha cabeça. A dita
entre aspas. Se amanhã voltar
por aqui serei feliz
como já fui
antes uma vez.
Papel de embrulho. De
picha de fora
presa nos dedos,
digo olá
aos de fora. Gritam nomes,
esses à distância
de uma faca
mal amanhada
por entre as roupas que
os escondem.
Declinamos vá, somos
vaca sagrada
ou outra coisa até
que se diga manhã
substantiva.
Te mando calar,
enquanto te consinto
a foda pedida
entredentes. Vem-te
rápido.
Alto e bom som
acordas a voz. Bravo.
É tempo de poupar
nas milhas, indo
aos lugares da noite
de outro qualquer. Não
espero eu outra
coisa desde que
te foste embora. Sim,
não havia um plano
traçado, por mal
riscado que estivesse,
por assim dizer.
Faz um frio
aborrecido de morte
e eu para aqui
armado em
mete-nojo.
Não não és
só essa falha
em sentir. Fiapos de carne e
paz podre,
entalados entredentes.
Desembrulha o que te coube
em sorte. Perdoa
à pergunta varrida, essa doida
no caminho da língua. Escreve
a branco sobre breu,
o que foste lá fazer
giroflé flé flá.
Atira, não me falhes
vê lá. Não me faças
de propósito aí ir,
qual endireita,
te libertar a pontaria.
À cidade, preta,
chamo-lhe um figo.
Carrego esta húmida fala
nunca uma casa
onde pensar a divisão.
De aqui ali
com este aquele. Ninguém
se cansa de estar
sempre a correr para
o mesmo lugar.
Atira, cabrão, atira
sobre o que mal vês. Então?
Atira, cabrão.
Movimenta as terras;
abre caminho à força
até à cave,
antes que seja tarde. Arrefece
as emoções.
Joga as cartas que
te atiraram ainda que
de um naipe sonolento,
às portas de um
fósforo o afiando de
chama ébria. Vira
o disco e toca o mesmo
melhor assim este princípio
de gente. Colhe a planta
da última localização
conhecida de nós. Empata
algum tempo num
jogo esconde-esconde
com o vento, acende
um cigarro
se conseguires.
A mais te amo
quando fechar os olhos e
os sinos chegarem
àquela parte
à música tocada
do princípio ao fim,
de ouvido. Toda esta
mansão feita de inveja. Ou
talvez culpa graúda. Escuta,
e anula o silêncio
das cordas que
nos atam a meio.
Minha puta,
foste longe demais, acho.
Acredito mais e
mais nisso; apesar de
todo o mal que te fiz, não
era motivo de força maior
que justificasse todo
este sangue empeçonhado. Não
temos cura. Sossega,
encosta-te à almofada e
em frente de seguida,
sem cortes, vê o filme dos assassinos
por quem tens um fraco. Fala
a doer, nunca te fiques
por aqui. Ou dormes e
ficando por cá talvez
a rádio passa teu disco
pedido, riscado, é certo
mas ainda assim
música para os nossos
ouvidos e nos convençamos
que é mesmo
preciso mudar de vida.
Vou ouvindo dizer
açúcar, talvez ouças também,
o mesmo amargo
de boca a mesma palavra
porca que nos agasalha
em mais de uma
fria morte passageira
– “depois desta vida
vai vir
a outra”.
Canções atacam o pescoço.
As águas se quebram,
em nosso nome
sem dúvida. Como podia eu
esquecer o que vim cá fazer.
Apanhamos um táxi para
o resto, noves fora
o que for. Choras;
está meio à mostra
a cebola guardada no bolso
da tua camisa, higienizada pela
tua incúria. Tanto me dá
se é à boca que é dada
esse parêntese recto,
qualquer coisa serve
para me livrar
de ir, lúcido
como nunca.
Podemos levar
como verdade a caliça
sacudida das estrelas?
O pó-de-arroz
do universo? A forma alienígena
das canções? Noite velha virá,
infligida à goela como
o vermute vertido
entre vidas diferentes e
tempos de sempre.
A consciência,
essa má companhia
querendo sempre conversa
após o coito
interrompido por uma
morte em vão. O sono causa
esta diversão
que já nada acrescenta
a um dançarino abandonado
à fome na boca
de cena escancarado
para o mundo,
lhe fazendo aflição
o sol sobre si projectado
pelo homem das luzes.
A superstição da escrita,
enfiada na pele
à força. Vestir ao rosto
um agasalho de expressão nula,
e as mãos depois quietas
continuando a matar
o tempo depois deste.
O comportamento vago
das coisas se sentindo
observadas; suas medalhas de santo,
pespontadas no coração
com fio de resina.
Deixamos cair,
à falta de melhor,
apreciações sobre
espécies diferentes
de vizinhos e mortos
chegados, falando devagar
seus nomes numa língua segura,
tremendo nas esquinas e
fronteiras dobradas. Se
ajusta um pensamento ao seu
osso.
Saí largado
pelo corredor fora,
virando para dentro
em cada uma das portas
de quarto. Advogado de infinitos,
e de vestidos de chita;
tocador de corneta,
esfrego nos dentes a
corrente motorizada da
falcatrua ensaiada em
cada dia.
Me julga Ele morto;
saiu por aí perguntando
como era eu antes
desta manhã; a roupagem
se de tachas se de brocados.
Nada ninguém disse.
Pela voz
parecemos acabados,
aos ouvidos do mercador
de cordas. Conto os dias e não,
não me pagam mais por isso.
Põe-te louco fora de mim,
vem para cá.
Brinco em casa, eu sei,
tarde na noite
sempre a chamar por ti que
já chegaste
faz algum tempo. Toco-te
de ouvido. Fazemos as pazes
amanhã, hoje
não consigo;
apanhado que estou por
este luar de estática. Enjoo
facilmente, de amores-perfeitos e
máximas paralelas.
Talvez exagere nos ventos
e sombras, no que novo é
para ti. Sei não,
se a criança fugiu
a meio da festa que era dela.
Posso pouco com
a Primavera, a rebentar
pelas costuras de planos
plantados de fresco. Ponho
a mão na tua
consciência, rogo pragas
por ser mais
do mesmo nada
meu. Uma vez
disseste que tinhas
um problema sério
com loendros.
Julgo saber
por alto que
o ano em que saiste
cá para fora
foi um número
como outro
qualquer. Variado,
instável.
Uma canção de nada serve,
tira o resto do dia
para ti. Vai.
Espaços em branco, deixámos lá
para trás. Vai assim. É essa
mancha que não sai
ao tempo.
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