sábado, 7 de fevereiro de 2015

CONTINUADAMENTE A TRACEJADO





Espaço por encerrar, continuadamente
A tracejado. Se comove a terra assim,
Em sua camada vegetal. Escarificada,
Despida. Operada a peito
Aberto. O coração das coisas é
Lamento de todos
Os significados.
Me repito. Reverbero
A luz que me é confiada
Pela faísca da geometria, intersectada
Por teus ombros. Meu meio-
-dia de afectos.
Braços rombos erguem
A espátula comum aos sentidos, todos
Tos removo, esses óleos
Dos últimos acidentes.
Pulmões plantados, pela raiz
Do vento. Mil lugares
Afagados pela mão
Elementar. Quando irrompe,
O desejo é a rama saliente
Do teu tronco.
Teus pés beijados pela maré
De destroços, uns
Barcos antigos em discrição,
Tuas veias longas em ruptura
Das paredes. Ascendem ao céu
A respirar por tubos.
Lã tresmalhada
Descobre o corpo que se afasta
Pouco mais, para um
Piso superior.
Lábios afloram a palavra
Em silêncio. Se vinca o rosto
Em apóstrofos. É afiada
A faca, animada pelas entranhas
Da matéria a que se dá
Nomes, multiplicações ao acaso
De números e suas coberturas
Inclinadas para tudo.
A impossibilidade, nada mais é
Que atmosfera fértil
Por lavrar. Pela mão invisível, o lugar
Ocupado pela particular
Semente, o segredo
De cada palavra em formação, uma frente fria
Em degelo pelos ossos
Absurdos.
Pássaros de interior, insensíveis
À cúpula escancarada, assim
Se apaga esquadria marcada
Pela cor azul, baixa chama
Transformadora de um sonho
Brando.
Voz carotadeira atravessa,
Viciosa circunferência, a superfície
À vista desarmada. Material
Circulante, impelido para uma
Das diagonais do mistério.
A pele à luz
Do acaso, se vinca.
Minhas lágrimas, aprisionadas
Limalhas. Pelo canto em ângulo
Dos olhos, onde o mar
Ensaia a corrosão
Da memória em imagens
Lambidas pelo zarcão.
Minha família –
Sou da mãe e pai além
Da mulher que transfigura
Meu animal em gesto
Reconhecível. Minha filha me faz
Falar: Da noite,
Quero o luto – em raiva,
São os cães.
Entrelaçado de nada, o cordão
Do mesmo sangue que nos separa,
Qual Tejo impertinente
Entre as margens. Redemoinhos
Isentam a memória de outras
Responsabilidades. Terminam
No final dos meus braços. Palavras
Ancoradas na parede
Resistente. À espessura
Do meu entendimento, sobram as vagas
Mar dos outros, descontinuado.
Abandono-me à mobília, a uma data
Qualquer. O pesadelo é reparado
Sobre os ossos, quase ofício
Esquecido. Essa a arte
Do estofador das almas.
Zona exígua parca em madeiras,
A única cadeira disponível. Onde
Sou velho mal tratado, pouco
Vestido. O último órgão se despede
E me abandona à sorte
Do último suspiro. Parto
Difícil a terra, outra mãe
Que me engole e acomoda
Em seu ventre alisado
Pelo caminho das formigas.

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