Emanada
do alto, categórica, a tessitura de mil cães famintos acomodando-se à raiva
isolada em um corpo por ser. Corpo convertido (cortesia dos vindouros): sinal
feito com dentes, recortando a imensidão de carne a abandonar no baldio da
alma. Esqueletos de arame a aguentar carne temporal, se agitando em todos os
sentidos esta voz prolongada, cortante, obrigando o conjunto dos ossos a aproximar-se
do chão. Paredes-meias cordas sustentam instrumento simultâneo, disciplinado
por mãos sem dono. A escuridão ficará,
tudo o mais…
É
a percussão da morte a dar lugar ao gesto fluido, a dois novos corpos se
arrastando; mãos dadas, mão solta tocando ao de leve a textura das memórias
individuais. Estrada molhada, o sol vai alto na medida limpa do céu. Banco de
jardim. Parte do sol, tatuado temporariamente no teu pescoço repetido e outro,
reflectido na caixa de lata onde guardas, comovida, palavrões que esquecemos,
mal que os dizemos um ao outro; passeias as unhas no fundo falso, o revolves,
tirando à sorte um que nos mostras, rasgando depois o papel onde está, sem
expressão. Cada um sempre um à frente nunca ao lado; o que não é um nem outro a
faltar ao respeito à esquadria do caminho que o tem no chão. Agora. A súplica
infinitamente desnecessária (olhos náufragos, deitados ao silêncio liquefeito),
a servir como divisão, outra, passagem vital, entre instantes. Súbito entreolhar,
destemperada gargalhada cúmplice. À faixa do meio apontar, conveniente seja ao
enquadramento ditado pelo storyboard.
Molhar os dedos, virar a folha; corrida breve entrar no edifício, percorrer um
corredor luz nele a entrar pela janela única na parede à esquerda. Avesso sentido.
Vamos. Que seja esta aquela escultura de vassouras sensíveis ao vento, deixada
à vista no centro do espaço exterior. Volante à direita. Maquete de igreja,
luzes a mais no interior quase fazendo desaparecer as paredes onde se prostram,
implantada em acidentado terreno crepuscular. A porta se fecha; a última coisa
a passar é perguntar por teu nome pela frincha, veloz, que é dia a
desaparecer. Vista de cima, do sono. Luz branca. Meia-circunferência. Flores irreconhecíveis.
Brinquedos de corda, ao abandono da razão. Gestos a prazo. Luz atirada para
debaixo da mesa, desvio de atenção. O mesmo sem que to peça, teu rosto, meu
espelho de fazer desperceber os dias; o que se passa debaixo da nossa janela
comum. Soprar a cinza do cigarro que sempre me cai no pano. Enquanto é dali
fora, buzina ensurdecedora a cortar a noite em quantos avos. O abraço do
silêncio a apertar presença que fazem estes dois, um ao outro, miseráveis,
andando ao tropeço inverso no chão celeste. Conseguir à força nada, que água
não é ainda um nem outro.
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