Empalmo
noite dentro a três quartos (e em nenhum o leito) de medida vazia; ponho no
prego o tecido (e quase nada mo dão por ele) puído pela caliça que se desprende
das sombras. Sombras vertidas pelo mundo da rua em frente, projectada a subir
pelas paredes dos três quartos. A vizinhança uma árvore grande porte, um
estorvo de braços a sujar-me as paredes, rasurando de movimentos claro-escuro texto
em branco impresso à lixa e força de braço, deixando à mostra o osso e coisas
minhas. De luva grossa atrasando o gesto, interrompo o dia à conversa sobre
outro dia, o atando com fios de óleo queimado, sobre aquele eu derramando formas
de perfil (seja frontal) ferruginoso; rostos tornados rijos pela têmpera de um
pensar excessivo, espalhado ao comprido do espaço apenas sonhado. Jogo a última
carta naipe mãos agarrando paus à mesa meu peito; unhas encardidas rente ao
sabugo dos dedos, roídas até ao carvão pelos dias incisivos. Teus olhos
diferentes pelo par amarrotado no papel do bolso, mal olhado mesmo assim visível
que um dos olhos tem nele o sol engastado, o outro a noite sem fim. Nariz em
cera pronunciado de trás para a frente perto de mim, conferida a curva da lesão
pela vida que te alçou a culatra atrás, e sobre ti atiçou a alcateia elementar.
Curvas rasgadas, à escala pretérita, parte do rolo impresso com traços
rejeitados pela necessidade de outro desenho; o macadame da morte, espalhado
sem rigor pela construção do teu rosto. Esta morte que é medo maiúsculo (ou
sorte); o não saber (me dizes depois se era isto) porquê ao barulho que os
dentes fazem rilhando à noite suas imagens incompletas. Azulejos noutra
divisão, brancos, de linha fiada até à altura dos olhos, passando detrás à nuca
em filete de pouca espessura, partindo daí plano inclinado a encontrarem parede
aprumada, interrompida na sua opacidade pelo que de fora vem, mundo, por vãos
de janela em número par. Se sabe que dia é, porque natural é a luz que morde os
vidros. Quase nada do que tenho para comer, to ofereço em tosco vasilhame, ao
que se vê fundo a ocupar os espaços vazios entre nós. Outro de nós que não
conhecemos, encostado ao plano secundário rosto baixo a não permitir que se
cruze com ele nosso olhar, inclinado a ver por ele esse outro fundo só seu. Larga
tudo sombra, se é acertada a luz que em tudo tão bem cai. Aqui o chão vai de
hexágonos, parte movediça, pisado ponto espaço ponto por andar desajeitado,
despido da roupagem de usar por casa ou interior. Como certeza e acrescento,
não é lá grande coisa.
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