sábado, 1 de outubro de 2016

A MORTE DAS IMAGENS



Em observância à lei
Das imagens vigorosas e
À necessidade de ver
Coisas onde não as há,

Refugia-se assim um
Barco saindo para fora
Das medidas de um
Horizonte por amostragem,
Ao alto,
Ao baixo,
Capturado pelo rectângulo
Da fotografia.

E esta multidão feroz
De corpos perfilados e rostos
Virados em frente,
Imobilizados na tensão
Impossível de conter
Com um só disparo.

Instrumentos precisos,
Encaixotados
Em montras pouco iluminadas,
Intocáveis, intocados
Por um sequer
Olhar. Se mostra a Câmara
Dos Ausentes; impressiona
Pela matéria a mais
De vazios,
Em que se destaca
A própria ausência
Do autor
Do projecto
Inicial. A partir de onde se
Atacaria uma frente
Em trabalhos. Nada é tudo.

A alma, um estabelecimento
De portas entreabertas,
Uma sala para
A electricidade das operações
À linha. E ponto.

Falsos impressionáveis
Protegem os processos,
A decalcomania vital,
Julgando assim
Atrasar o fim
Ao momento da morte, esta
Ideia de albergue
Sempre vazio,
De camas feitas, alinhadas
A partir dos raios projectados
Pelo Astro-Rei martelado
Na cruz cravada
No gesso da parede
Travada com outra
Parede.

Porta fechada, janelas fechadas
Portadas abertas – a luz vem
De fora.

Um exército armado
Até aos dentes, perde-se
No Bosque das Considerações;
Decisivos, adiam
A resposta a dar
À infâmia que os faz
Formar, a ir
Vergar o aço
Para corrigir
O valor do ouro.

Escultores de bata branca,
Atacados por todos
Os lados com seus pregos,
Sobretudo pedra e
Trabalhos já feitos
Em madeira, mostram-se
Razoavelmente calmos
Nesta situação superficial
Sem atrito. Os que fogem
À pressa da imagem,
Aproveitam-se da desvantagem
Daqueloutros camaradas,
Têm a arte com eles,
Virando-se para
Os Observadores Abandonados
À sua sorte, exibindo
Bustos de cera encardida,
Motivos de todos os géneros,
Quase de imediato
Promovendo este acto último,
A morte dos objectos,
Chegando-lhes fogo, e um
Amor desinteressado.

Pregadores de barba e bigode
Esquecidos, vão
Encostados ao muro
Que os separa de tudo
Isto, microfone na lapela
Mão à altura do coração,
Entoando frases sem pressa
Rimando quando calha. Entre eles
Organizam-se à vez
De quem fala
Primeiro; os outros,
Esses seguem com os dedos
Folha de livro
Diferente, procurando fazer
Coincidir alguma palavra
Que, por sorte, seja
Igual àquela
Apontada.

Política contraditória
E violenta,
Aplaudida por todos
De pé.

Dependendo
Da viela tomada,
Pode ser
Um edifício sumptuoso
De paredes brancas, caiadas
Das sombras da multidão,
Que não tem
Por onde escapar: praça,
Avenida central ou
Mar. Um primeiro piso
Com varandas e vãos
De porta escancarada,
Usadas por furiosos que
Experimentam o tempo
Na deslocação do ar,
Arfando, insistindo estar
Em mais do que
Uma abertura
Em simultâneo.

A figura asséptica,
Repousando na retina – um morto
Aí depositado,
Fazendo tábua rasa
Da superfície onde
Se retracta.

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