sábado, 25 de abril de 2020

LÁPIS-LAZÚLI

À boca das urnas pigarreavam
pássaros perdiam
o pio encravado
no megafone desinfectado.

Mãos de pele
adulterada cortada
pela memória
de uma canção suave
despachada a toque
de caixa.

Assomando ao promontório
da varanda
vestido de palhaço
o cravo trata-se
disso e só
o tema livre
quantificando o metro
quadrado no mapa
das quantidades açambarcadas.

Não venham
mais.

Mina mole
anarca esborratando
um sorriso resistente
por detrás do pano.

A máscara joga-se
à máscara.

Camada sobre camada
de neurose avulso
mineral como a sua
sede de deitar
tudo abaixo e...
caga nisso!

Não abram a janela
por favor não
vão p´ra dentro
sintonizar a rádio
Revolução Rosinha
girar o botão
no volume máximo
sentar no falso
tapete de Arraiolos
e receber nos cornos
os cacos da cristaleira.

Arranca a fita dessa
cassete engolida pois
nunca será
à papo-seco
que se descoserá
de aí uma
serpentina bonita
a te enfeitar
as orelhas moucas
num brinco de
princesa.

Sobretudo livra-te
de me vires bater
à porta de lágrima
no olho e na mão
o postal
que nunca me enviaste
de Grândola.

Já então
não me dizias
nada.

Estarei cá sim
mas não
para o mesmo.

O plasma de um
buraco negro
não se esgota
nas nossas veias.

Atiramos a última pedra
aos cubos
a preto e branco
a dar com pau com
o sorriso fossilizado
do Usurpador.

A chinesa estendida
na prata deixou de
ser bode expiatório pois
engoliu-o.

O novo cliente paga
com o corpo enfim
somos todos agora
putas a encher chouriços
noite dentro procurando
seu fio seu fim
caindo de maduros.

A tasca está fechada
Catarina sim mas
o tampo de mármore
da mesa ao fundo
sujo do pó
dos dias espera
mais à frente
daqui nada
tuas lágrimas
a abrir lá
o poço dos desejos.

Daqui ninguém
arreda água-
-pé.

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