sábado, 3 de maio de 2014

LUNAR






Fala só, que quase te esqueço, última sílaba, à deriva pelo nome que é o teu incompleto na minha boca ausente. O esboço carregado do que não existe de ti, inundação de espelhos, o braço irregular por fim a mão, estilhaçada em reflexos – entredentes a rejeição da tua margem trágica. Vem só, nem que seja através de uma fotografia, em que te percebo central à estação mais quente desse ano inumerável - centelha constrangedora de sol tu és. Nunca sei o que vestir quando estás e aconteces, o que fazer demais ao corpo, para que atravessemos juntos a difícil areia antes da praia de baixo aos pés laterais às árvores de sombras que aí se dão. Ton sur ton até ao transparente da recordação da tua cintura desviada – só a água das nuvens em conta-gotas, é ampliação suficiente para o que esqueço do teu diâmetro de olhos, interrupção da pele contínua que me altera por inteiro. Elementos de água irregular que te arrastam de volta param no limite do céu imperfeito de onde nunca saíste: afora ser minha distracção. Fala só, por entre o inconfundível desnorte da minha direcção, largada aérea dos animais variados do que sou e não, rente à estrada principalmente deserta. Minto ao de mim inclinado, separado pela última espessura da pele que te não pertence além do lençol que cobre outro nada de mim, num lado esquecido pelo catavento manufacturado com a parte óssea de um peixe de terra, colocado no abismo da cabeceira terreno vizinho à cama. Vem só, deixa para sempre a tua família de desencontros conjugados nas formas todas de ser planta carnívora das nuvens, espaços ocupados pela forma de dizer botão despejado da sua casa descosida – roupagem dispersa por cordame cansado das bestas de aço antigo, pacientes geometrias de precisão. Relojoeiros de espaços abertos manuseiam o material único de sal anulado, impróprio para as feridas que ultrapassam o centímetro quadrado, beneficiando esculturas de luz sobrante às coisas equilíbrio instável no princípio do teu nome. Noite adentro precipício do corpo, desequilibrado no interior de uma roupa de lã incómoda porque é a tua medida de braço e não do meu a mão que afasta a ideia de um gesto da boca – a tua é a mesma que diz distúrbio e é branco o teu contorno nessa noite onde quase não existes, traçado pela mão disponível que esgravata a palavra superficial com um pedaço de lenha inoculada de inverno. Vem só, deixa o teu território de rio e atravessa a nado o delíquio da minha ignorância – estou de pé na margem, amarrado a um cesto de vime vazio de detalhe, entoando uma canção triste na ponta de uma marreta, música de construção inversa. Preenchimento de fendas aleatórias na junção dos materiais incertos em inícios da mesma parede desencontrados. Do outro lado divisão, o desenho de um mapa de inexistências onde o teu coração assinalado na ponta de uma faca, imperfeito músculo de gente deslumbrante. Encontram-se estranhos em desvios intencionais ao corpo que se perde da carne para outro estado de existir. Como então não sei, amanhã as costas voltadas para o mar que não obedece àquele corpo neste, ritmada saliência. Não te pertenço como a nada consigo pertencer se me não altero – embriago-me de corpos que dançam na penumbra dos espaços e de álcool se não existir outra coisa. Fala só, num lento perpassar – pele cosida – pela tua pele de superfície pontuada de vertical impertinência. Adquiro o tamanho do arremesso a um só lugar, é carne que te não pertence. Do animal anterior ao nome, rasgado pela memória da terra que nos anula o peso posterior da queda. Fala só, veículo desconfortável em contramão noutro lugar com esquinas e arestas vivas, devorado pela ferrugem de predadores húmidos, vestidos de dia alguns da cintura ao joelho pouco mais abaixo. Que me deseje o novo dia à luz e vista desarmada – me aclaro calmo, enquanto o céu não se turva da animália florida de incisivos. Vem só, boleada berma dos sapatos, meu palco instável onde danço à frente de ti a coreografia alternada da calçada bicolor, indiferente ao teu momento simples apenas movimento assinalável do corpo que desvio com um assobio raso de pássaro. A partir da berma – a criação, em série, do alimento alegórico dos pagãos – música de sopros o coração que a engole atómica, do mundo em que se emagrece encontro o outro. Infeliz coincidência, colisão provável – separa-se algum do vento mediano às coisas construídas – na parte que me não altera o pleno do grito aprisionado nas vértebras se te encontra. Alma fulminante é de ti que sou e de outros a prazo, nunca mais rápido. Como hábito, espero pela ruína da última espessura – pátina – amaciada por munições de rocha definitiva. Sóbrio descreve-se o meu líquido graduado de todas as misturas – um estado. E estou hoje um nada mais alegre, distinguível pela pálpebra nervosa, alfinetada de veias instáveis tão só. Ser feliz – a estatística absurda, mineral. Liberta-se da terra inorgânica, irresponsável a voz engarrafada em nomes vítreos, das coisas pronomes pessoalíssimos para quem mal se conhece. Custa-me respirar e ser vapor mesmo assim, profano o corpo à tua luz em imersão frequente de polaridade – um jogo completo de ossos. Sinal no corpo a tua influência.

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