domingo, 11 de maio de 2014

GÉMEAS






Pela corda sangue o que as une nó. Desfasadas sorriem as gémeas são uma relação desarmónica. A dois tempos saliente a patroa da agitação, da outra distingue-se pelo adunco do nariz, agulha que dita estridente a direcção. Da que se leva e deixa: os segundos do tempo encerrados nos olhos também gémeos instáveis confirmam o grau inclinado do parentesco com espasmos dúcteis de pescoço na direcção branca dos dentes ordenados do hábito da outra cabeça de estranho o casal. Ainda assim cega não é a seguidora, pois tem a personalidade do complemento directo afinado sistema imunitário para a sobrevivência. Validam-se ambas rituais matemáticos de impulso – do letárgico alteram-se substanciais e alcançam um diálogo a meio, sabendo exactamente a palavra onde vai. Confirmam entre si valores da moeda corrente, em múltiplos de cinco: dez, quinze, vinte e cinco a partir daqui à vista. Nunca lhes ouvi a aventura de outros números impossíveis de cinquenta e outros não. E uma diz para a outra de si: quinze duas blusas dez cada par de sapatos e se ainda houver sete por cada chapéu. O projecto desenha-se pela vergonha o corpo nunca vestido a partir do que lhe é interior o vestido por detrás da muralha de números cifrados no caderno de argolas, nunca relacionados com o artigo que permitem comprar – usam-se gráficos os símbolos para apontamentos subtis de intenção: asteriscos sorrisos ou os seus inversos dois pontos. Gémeas na carne desencontradas: uma é esqueleto da cintura para baixo a perna completa na interrupção da outra no discurso do movimento. O osso calçado da pele desenvolve-se pelo corpo de ambas alternado, instrumento de caminhada solar abrupto. Tardoz e principal o alçado deste ser único, bicéfalo sentimental existem outros dois corpos assim gémeos inexplicáveis. No abandono das coisas laterais ao espaço de locomoção por onde passam caravana isolada da sede de qualquer escorrência; de respiração líquida o útero: jogo de feira popular do sorriso roubado às crianças à entrada para o fantasma do comboio com contorno demasiado cómico para ser sólido assustador. Engano-me – o palhaço mata e chora, chora sempre em duplicado, pela amargura que é o seu riso desfigurado em seguida pela maquiagem em destroço de um rosto demasiado humano, uma mancha de dentes – o tempo gasto-o com roupas largas. Bidireccionais gémeas alma única, deslocados troços de corpo direito esquerdo volver sorriso desequilibrado junto à linha de horizonte. A partir deste ponto mal coordenado nos eixos, é de construções adentro ósseas o corpo – primeiro é esqueleto o corpo se o contarmos de dentro para fora, a uma escala próxima do um para um, quase real a uma cota altimétrica desconhecida. Corresponde a cabeça do ser dual a uma nuvem a mais no desenho de uma cabeça de morto já limpa de todos os tecidos, interna à pele moldada do osso rudemente amaciado, semelhante ao céu de tempestade – neblina turvada no tom escuro de uma frase periférica, proferida a partir do núcleo naturalmente perturbado das deusas interiores – gémeas que nos perturbam a saúde da alma, ao portador o corpo a elas transferimos: não o queremos e nos pesa. Doação de órgãos. A ideia de salvação como um familiar físico distante, muralhado atrás de quantitativos apenas números sem contorno de rosto, apontados por mãos gémeas distantes ao ponto do que se nunca vê. A voz hesitante de uma delas pelo fio de contacto – trapézio. O familiar nos garante à voz viva, trémulo, que o encontro acontece fatídico como as poucas gotas de sangue que nos une. Ainda se projecta uma sombra, antiga arte à linha, planificada no papel das coisas branco encadeamento de todas as possibilidades e nenhuma. Escrever – das coisas do Homem, do nocturno dos animais o mundo onde desistimos – é criar essa tempestade perfeita onde nos inscrevemos a mais antiga tradição funerária: abandonar a pele ao corpo réptil pelos cantos da Terra. Ainda se projecta uma sombra, antiga arte à linha, da minha ignorância sobre uma estereotomia de enganos à esquadria do chão. As mãos imóveis ultrapassam o corpo sobre o tronco, transição de milímetros ao ponto final zero de tudo a carne reaproveitada. O percurso da cor através das linhas de tensão, invisível tapeçaria de mãos deformadas em girassóis alçado único para a luz mínima – a palavra interrompida na carne. Aguardo calado o relâmpago, os olhos gritam o lume que crepita junto aos corpos esquecidos pela paisagem, para que se não movam no inteligível da frase. Aguardo calado o relâmpago, e cego depois o olhar com o encrespado da vegetação rasteira pelas extremidades sinuosas da estrada para o que vai pela berma a ser matéria de incêndios: poderosas mandíbulas de betuminoso faminto de veículos desgovernados, imprevisíveis no individual da travagem entre os obstáculos translúcidos, aprisionados no sinónimo de impossível. Imprevisível fim de tudo alma gás o corpo, corpo estado, último cidadão dele próprio quando nega o outro em crosta – purificada infecção de membros idênticos também de si o resto de outros corpos vasos comunicantes, por onde se movimentam cargas circulantes de lágrimas magras: pele e osso, as gémeas.

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