domingo, 1 de junho de 2014

DIA DA CRIANÇA






O cão agora desperto, rosna
Pelo dia o seu
Abandono, um barulho que trespassa
As lajes, pouco mais
Difíceis os seus ossos.
Em cada piso, em altura, pouco menos
Audível, quando
Aqui chega calmo.

Pelo prédio escorre
Um silêncio impossível
E um estendal de aço é
Percutido de um lado
Paro o outro.
Os pássaros atrasam-se
Pela manhã, automóveis domingueiros
Deslizam pela mudança
Que se lhes permite
Passarem despercebidos.

O sino dobra
Pelas onze horas, se liberta
Das crianças o grito
No dia que é
Mais delas dizem – Vão ser:
Velocidade
Floresta incendiada pelas costas
Animais dóceis
Mais delas dizem – Vão ser:
Vão ser um
Acidente por onde passam
Incólumes à tangente
Dessas crianças, três
Fogem do destino, as outras
Vão ser o que quiserem, onde se puder ser
Nuvem rigorosa no contorno, longínqua
A cidade horizontal
Dos bichos.
Uma cantilena soprada
Nas gargantas
Pelos desocupados, se memoriza
Cada título gordo
De tinta num jornal, em papel
De extinção.
Este dia é outro
Dia que se arrasta
Imperceptível, alguém
Engana alguém
Em algum lado
Isto acontece agora.
Beijos dados
Por engano, a morte
Simples.

As cabeças deixaram de ser
Divididas por linhas de água,
Passaram a ser
Corpos polímeros, encravados no molde
De um sorriso.
No café do bairro, à esquina
A voz se engrossa do caudal
De um nome, a igreja
De quase todos é a maior
Entidade empregadora
De machos recentes, acabados
Por nascer numa paleta colorida
De indefinição.
Se gostam e mal não há
Nisto, dos bigodes e barbas
Caem casamentos que se não entendem
Na hora da anestesia, as crianças
A haver sol, pedem mais
Gelado.

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