Pelo
areal de Agosto estendo o meu cansaço, traduzido por braços lateralmente
arrependidos do corpo grave. Nem praia nem campo, um horizonte tranquilo de
rodapés. Acumulam-se rimas sem rosto, suadas pela boca do outro o que acompanha
alguém, assim seja a sua vontade. Estático consentimento. Palavras amarrotadas
pelo vento – afinal os dias também se lamentam. Da parte do Virgílio, alguém se
aproxima com mãos amplificadas da voz. Percebo parte de um retábulo: a Virgem «Dobra
o joelho e põe as mãos, porque é tudo excessivo e diante do excesso só a
humildade.». Por entre
estas palavras, o espaço onde se procura um interruptor para o personagem dizer que
vê melhor, mas não muito. O de mim, que por aqui continua, fechado em incisivos cansados da
falsidade do material em que se decompõem. Nuvens vermelhas obrigam um céu – a
minha boca escancarada – a desistir, pondo a nu os restos petrificados da
matéria abandonada. Raízes obscurecidas pelo lume brando do tédio, em que se
esfumam. Cavernas sem eco, fracturadas a meio da gengiva, por onde um rio de
sangue órfão das correntes vitais. A amputação assumida na ardósia riscada de
nervos, na articulação subtraída de uma operação aritmética. «Deve ser coisa
importante pois ouvi a campainha tocar várias vezes, uma a caminho da porta e
pelo menos três dentro do sonho», provoca o Chico seu sonâmbulo em uma fonética
de estorvo. Enquanto aqui, o compasso dos instrumentos de pele se acomodam à
linguagem das folhas a propósito de braços, a árvore que me domestica os tons através
dos caixilhos. Entorno-me das luzes verdes dos aparelhos humanizadores, pelo
meu espaço de estar. Vivo por circuitos, proponho-me em sopros à corda que me
anima de nós. As palavras dos outros possuem a textura rígida de um abraço distante
a corpos estranhos, à falta de melhor. Últimas palavras – agora em voz surda, Samuel
– as que me desfiguram a alma em cantos: «Crânio e olhos fixos despalpebrados.
Onde na estreita vastidão?»
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