sábado, 2 de agosto de 2014

INCISIVOS












Pelo areal de Agosto estendo o meu cansaço, traduzido por braços lateralmente arrependidos do corpo grave. Nem praia nem campo, um horizonte tranquilo de rodapés. Acumulam-se rimas sem rosto, suadas pela boca do outro o que acompanha alguém, assim seja a sua vontade. Estático consentimento. Palavras amarrotadas pelo vento – afinal os dias também se lamentam. Da parte do Virgílio, alguém se aproxima com mãos amplificadas da voz. Percebo parte de um retábulo: a Virgem «Dobra o joelho e põe as mãos, porque é tudo excessivo e diante do excesso só a humildade.». Por entre estas palavras, o espaço onde se procura um interruptor para o personagem dizer que vê melhor, mas não muito. O de mim, que por aqui continua, fechado em incisivos cansados da falsidade do material em que se decompõem. Nuvens vermelhas obrigam um céu – a minha boca escancarada – a desistir, pondo a nu os restos petrificados da matéria abandonada. Raízes obscurecidas pelo lume brando do tédio, em que se esfumam. Cavernas sem eco, fracturadas a meio da gengiva, por onde um rio de sangue órfão das correntes vitais. A amputação assumida na ardósia riscada de nervos, na articulação subtraída de uma operação aritmética. «Deve ser coisa importante pois ouvi a campainha tocar várias vezes, uma a caminho da porta e pelo menos três dentro do sonho», provoca o Chico seu sonâmbulo em uma fonética de estorvo. Enquanto aqui, o compasso dos instrumentos de pele se acomodam à linguagem das folhas a propósito de braços, a árvore que me domestica os tons através dos caixilhos. Entorno-me das luzes verdes dos aparelhos humanizadores, pelo meu espaço de estar. Vivo por circuitos, proponho-me em sopros à corda que me anima de nós. As palavras dos outros possuem a textura rígida de um abraço distante a corpos estranhos, à falta de melhor. Últimas palavras – agora em voz surda, Samuel – as que me desfiguram a alma em cantos: «Crânio e olhos fixos despalpebrados. Onde na estreita vastidão?»

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