1.
Choro
sobre a pedra, à escala exacta
De
uma fotografia. Sobre ela
Me
debruço em enxurrada
Sobre
um bebedouro
Que,
aí, acaba entre cantos.
Sons
em movimento, água impura
Da
vida, em uma frase
Que
mal flutua.
Esta
é superfície pétrea, leito de cheias.
Chapa,
em espessura
Roubada
à memória
Milimétrica.
Sobretudo
Pedra,
uma memória delapidada
O
suficiente no tamanho
Da
mão de cada um, atirada
Para
o abismo onde sirva,
Perto,
um segundo
Da
sua presença.
Segundo
repetido pelas paredes, o tempo
Uma
imagem desfocada
No
que diz, em seguida
Esquecemos
com o corpo
Mais
pesado.
A
memória é fadiga pelo corpo
Material,
se verte muscular
A
ditadura desmembrada
De
um corpo várias resistências.
O
corpo, maleável assim, projecta
A
memória pelo absurdo
Final
à pele, a extrema
Divisão
em que nos desenhamos
Em
perspectivas de fuga
Por
ruas desabitadas, outras
Almas
que não a nossa
Atormentada.
A
memória em assalto rouba
A
atenção que prestamos
Às
outras espécies, o barulho – avião, comboio (corvo albino, centopeia rigorosa).
Máquinas
perfeitas se recortam
Das
outras imagens
À
punhalada, sempre
Na
mesma dimensão, se separam
Pouco
do corpo de nós
Loucos.
A
memória pela margem
Seca se imprime
Do
caos, para o qual
Não
temos mãos a medir, mãos
A
alisar cantos que se calam
Em
icterícia à pele por um corpo
Doente
de escalas.
Choro
sobre a pedra, concentro-me
Assim,
unidade
De
água acrescentada
Às
folhas mortas pela boca
Em
ralo. Impede-se assim
Um
coração de escoar
Em
dor, para longe
Dos
olhos que apenas vêem.
Choro,
camuflado de movimentos
Pela
chuva de Setembro em todos
Os
anos passados, agora não
Consigo
precisar, enquanto me recordo
Mal de onde venho
Águas
quentes me ferem
A
alma em sons de vinil
Antigo
– pontual tortura – picotado
Pela
agulha ébria, toda
A
largura de um sulco onde
Nos
arrastamos.
2.
A
memória é cansaço
Por
extenso, o que é
Um
corpo abreviado. Dor
Pelas
rótulas pequenos incómodos
Pelos
dias; se julga
A
fadiga no seu todo
Sem
acrescento, logo
O
corpo se aventura e conquista
Terra
estranha ao ar, em volta
A
guerrilha de joelhos inflamada
De
músculos, a blasfémia
Em
grito arremessado
Ao
que ainda mexe em um canto
À
esquadria, em silêncio
De
movimentos, é tudo
Quanto
se pede a um Deus
Que
morra um pouco
Por
nós, na nossa vez.
Habitua-se
um corpo, devagar assim
À
morte para sempre.
Habituá-lo,
ao corpo
A
não ser preciso se necessário
Por
momentos, a ter direito
Um
lado de si esquecido
Por
todos os espaços preenchido
Por
braços e travessas
Medidas,
nisto os olhos reparam.
Numa
montanha que desaba
Em
pálpebras, o peito
Assenta.
3.
Coitados
de nós – assim se acredita
Dos
olhos para dentro – já não
Fornicamos
como queremos,
Desde
sempre e desde que
Fomos
separados da matéria
Viva,
do que bebe
Água
e só água, tudo
Com
cor própria.
A
paz dos outros, indiferente, coitados
Livres
de ponteiros
Pela
cintura, o dia
Marcado
por uma hora
Incerta,
aí
Mentimos
com a nossa força, de cada um
Alavancada
pela construção
Singular o que temos dos outros que,
Assim,
mentem
Também
acerca de outras coisas que não podem ser
De
outra forma.
Pelo
engulho da vida, mentimos
E
não há uma hora
Para
dizê-lo ao corpo,
Não
o faças.
Atrás
da orelha, uma escada
Abandonada
à pressa pelos inquilinos
De
passagem, a uma determinada hora
Num
bairro residencial atafulhado
Pela
insónia.
A
ninguém interessa, atrás da orelha
Hospedeiros
pobres de sangue, sempre
A
orelha, que se corta com o gume afiado
Da
língua todas as conversas
Em
pele e osso, assim o corpo
É
fácil por assim dizer
Uma
vírgula erecta, o que separa
O
animal da memória
Do
homem, esquecemo-nos dele
A
cumprir os lugares por nós,
Onde
deveríamos estar
A
esta hora se não
Estivéssemos
nós
A
fornicar, aqui, uns com os outros
Entenda-se,
não por monólogos.
Nada
é mais importante, nada
Nenhuma
outra conversa
Nos
distrai tanto, tirando talvez
Para
fora o tema
Da
braguilha a fome
De
géneros. Putrescíveis
Sensibilidades
em corpo, as mais
Saudáveis.
Segundo
quem sabe
Da
coisa, tudo
Desaparece
para um canto
Onde
sorri e assim
Nos
fazemos
De
difícil, tanta coisa há
A
arrancar em cubos
De
nós.
4.
Por
contas, a matemática
Do
vento ao moinho
Velho
de urtigas não é
O
mesmo do eco, há anos
Gritado
pela boca
Da
pedra no alambique
Cansado
de cobre
Pelo
esquecimento ainda quente
De
ausência, a memória
Arrastada
pelas cordas
Dos
homens na facilidade
Da
noite, para um
Ferro-velho
de hipóteses.
A
herança do pó as coisas
Deixam,
quando vão
Para
longe de nós.
O
afogamento como sintoma
Do
perdão que se pede
Sem
arrependimento
De
facto.
O
prazer é um inferno,
Um
objecto à força
De
músculos e células.
Toda
a camada espessa
Se
liberta, vem à tona
Do
mar no corpo.
Moroso
o tempo
Sobra,
a angústia
Por
soluços de espaços
Em
branco, o rancor
Pelo
corpo se inquieta
De
emergência.
5.
Arquitectura
decadente, o corpo
Mal
medido pelos vãos rasgados
Na
fachada onde chamamos
À
atenção por gestos, linguagem
Gestual,
um choro
Pornograficamente
mecânico
No
ponto em que se fixa, a mania
Na
janela em frente, a vizinha
Finge
a queda de uma mola
Da
roupa, para longe
Do
peitoril, atirada
Com
intenção para uma
Parede
dos fundos. Se torna
Diferente
no regresso
À
esquadria, nua
Da
cintura para baixo, se estende
O
sorriso pela corda se volta
Para
o canto escuro, onde
A
mola se encontra ainda.
O
segundo de um cu açoitado
De
perfeição, pela mão
Diz
adeus é esquerdina
A
Felicidade dos Santos
Em
nome da gula, masturbo-me.
6.
Escrevo,
à vista
Um
homem mal tratado
De
alma, veste-se
De
uma cor neutra
Que
lhe anula o corpo
Abaixo
dos olhos.
Os
seus olhos são fossas, transbordam
De
uma lâmina líquida, toda ela
Da
matéria em cal
Degenerada,
viva
Decomposição
do que quer
Que
seja a sua refeição
Mal
digerida, várias vezes
As
mãos no rosto tremem
Pela
boca as frases
Repetidas
baixinho, quase
Só
para ele, tem vergonha
Do
que pensa, se parece pois
Confirma
sempre com os olhos, como
Eu,
à sua volta
Cada
frase torta, que abandona
À
pressa em um
Caderno
antigo de linhas.
Segura-se
ao fim
Do
banco onde se senta, como
Se
fosse desfalecer, por causa
Do
último verbo anterior.
Inspirado
por um outro, mato
O
texto – continuo a escrever.
Seus
olhos, se parecem com ausência
Da
vida, fossas
De
morte profunda.
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