A
noite se simplifica nas roupas do lugar onde mãos se enfiam. Mãos mandatadas
pela maior parte dos sons da escuridão presente. Corda esticada em estridência
de ruas, se convier convence-te do seu contrário. Faz vir à memória uma manhã
ainda que perturbada, que tudo é lama em um ponto de orvalho. Palavras obscenas
resultantes de estradas interiores à cidade escondida da paisagem das horas no
corpo, o horizonte dentro de bolsos rasgados pela verticalidade da luz que fere.
Agulhas travadas pelo atrito dos membros em tecido. É quase tudo material se a
sombra repetida não contar como lugar para o corpo. Gestos de espécie alguma,
se abrandam intensos pelo desenho de mãos transformadas, convertidas à humidade
do desejo. É quase tudo material o que range além dos dentes. Símbolos de
marfim, motores em pausa, cremalheiras rápidas em desaparecer. O abandono à
direcção sem sentido, descrita como minimal pela espessura recolhida nos braços
da circunstância – estremece o solo por momentos, oscila universal. Maxilares
pontuais se libertam do seu tempo-espaço em branco perceptível, pela fronteira
dos pássaros que acabam o céu. Céu rasgado pela insónia em colapso de
pálpebras, vertidas estas pelo vão tosco dos olhos que se enganam no dia
seguinte. Cartilagem dos tons possíveis da extinção. A voz que sobra de tudo
ninguém a espera, assim se pergunta à noite – paro de te dizer?
A
plasticidade dos ódios reduzidos a um antebraço se anuncia de vincos pela pele,
inexplicável superfície de um hábito. Esse quase amor perfeito de tudo em todo,
emergência de sinais. Massa óssea de calote espontâneo no encontro ao outro,
ouvidos lhe dê os olhos que esculpem imagens na lápide das nuvens do mundo –
uma frase inacabada. A mão se desarticula de sentido, confirmada à linha que a
nenhum lugar vai, o pensamento manipulado pela música em bruto, pratos de
choque abandonados às silvas da colisão no meio da faixa de rodagem.
Articulações de modo áspero, na cor em sentido na marcha das coisas esquecidas
do outro que, assim, fica um pouco menos de nada. Maravilhoso estímulo de pele.
Como eu nunca te toquei tanto. Posso estar aqui a dizer umas coisas, é
possível, enquanto me estrangulo de voz pelo gargalo o sol se prolonga de
estilhaços pelo vidro da garrafa. A mão no queixo adianta a conversa interior,
verbos de garganta aos estremeções. Mas parecia…o olhar ressalta pelo ponto de
horizonte em fendas de espaço entre as pedras da calçada. O odor engarrafado do
corpo, como a esperança que se dilui putrefacta pela derme ao ar.
A
mão pelo bolso num instante, enquanto o sol repousa ao lado do corpo em
estilhaços que perguntam pela sombra da qual se quer vingar… (soluça). Falam
simultâneos ao vento que pontua as frases soltas de um homem, todas as folhas
no final dos braços em árvore… (tosse o corpo) …no vulcânico interior de um só coração
em chamas… (ah bom, pensei que) … o significado esquecido das coisas,
regurgitado uma e outra vez em silêncio alto… [pois os gajos, é assim…já começaram a
pensar de maneira diferente, mas aí…estão à rasca. Pumba! Desculpa… (tosse o ar
à volta do corpo)]. Um motor afasta o sentimento para longe do homem que se
expressa por palavras sozinhas, não numeradas pela boca que as expulsa como por
uma porta entreaberta para as coisas vivas da noite diurna (quantas vezes será preciso
morrer?). A voz se mistura, lenta, com o que há à volta. Enquanto o corpo se ausenta de barulhos à ordem da pedra do isqueiro. «Não deixo aqui nada», diz para depois o homem. Agradeço.
A
saliva fácil do instinto, vertida pela espessura transparente que separa o
coração das coisas, da paisagem interior de um corpo meio vivo, a outra parte
mar. O homem esquecido de si mente pela boca, abrigado pelas esquadrias
diferentes da sombra. O gelo extenso da insignificância de tudo, encadeia de
invernos o rosto. À pele fria os dedos se esquecem de outros dedos, indelével a
palavra exacta. Que se diga sentir, o que seja, combinação paralisada de verbos
– constante aritmética – que separo para o nome simples da loucura. Um vento
sem importância, transmitido pelo meio corpo que sou sempre pelas superfícies.
A facilidade que tenho em me lembrar de um título para as coisas que digo,
assim, do pé para a mão.
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