Desocupo
o agora de moradas erradas, de botões por apertar, das visitas agendadas para
um dia qualquer por ser um dia por comiseração atendo a última chamada do dia e, calmo, faço
a triagem da catástrofe por acontecer falando baixo sem pressa lânguido sopro de última humanidade ao
ouvido da dúvida em corpo do outro lado
sugerindo que se afaste lentamente para a rua mais próxima e por favor que
não toque em interruptores. Espero que alguém, esse e outros, desliguem por fim
de tudo dizerem depois falo e digo que não é nada é só o que mais faltava uma canção nada mais uma nota e outra, depois nada espero se mais alguém, senão muito bem até breve que o tenho que fazer um sossego e removo a espessura às paredes que faltam,
as que ainda mal me separam a mim e à loucura que é minha bem sei branda
do resto. Formo, com o que fica e é tão pouco se suficiente, ângulos indefinidos como o
são entre a madeira do corpo e a pele dos outros dias, que engomo em cima do
horizonte deitado em cavalete num canto qualquer qualquer canto no espaço que me ocupa esta frase. O
poema se desprende da boca momentânea das coisas, rilhando suas palavras, umas
nas outras, habitando as assoalhadas da memória maior para a mais pequena
tempestade de sons parcelares ao meu
encontro, em passo apressado vozes me
mordam todas de uma vez que seja uma
e só a cicatriz a lamber pelo meu cão
em desordem assim não cão
qual cão sangra sua raiva sem
dono assim minha, como à palavra assim regada por ela, a gasolina mais fiel à estopa
de um aparo desconchavado tenho medo e não é pouco de dizer outra coisa que não esta tarde, não o que sinto rarefeita coisa esquecida no peitoril maltratado que tenho
no lugar do meu coração. Não
me comove quase nada um beijo se
tanto fica por dizer disto tanta
coisa ao outro animal como eu de mim levam quase nada e mãos pequenas onde cabe a febre por entre o egoísmo de tudo ignorar, isolado das
marés e de uma dança atrasada no seu fim,
para um espaço que é vertical sobretudo por dizer um homem se altera em ângulos. Seu corpo meu corpo ocupa o lugar da circunstância, a direcção
tanto céu como horizonte. Preso por um fio, à mão o esquadro se levanta pela contrariedade. No
lugar de antes agora desocupado, para lá estar um bando de aves
que se não afasta do seu segredo marítimo (atraídas pelo suor em ponto meio-dia). Se
afasta este homem em diagonais curtas
desenha seu lugar imediatamente ao lado, recusa assim um caminho a direito.
Lavra homem uma maré de nadas, se afastam as águas pelo seu pulso, o rio
recolhe sua lágrima prende-a em
corrente ao pescoço desses bichos todos vigilantes. Confirmam eles o princípio de
um chão que desaparece. Volto
ao mesmo lugar sem querer e sem fazer um esforço por entender. Vira homem
o rosto para o outro lado o que
acontece logo ali no cabo dos pés. Lavra homem uma maré de
nadas, sua vegetação esquecida em profundidade revolve com a arma encurvada, ataca humilde a pedra por ali espalhada,
disposta como laje fúnebre (seu corpo aquele a despe de superficial, a afaga para
as extremidades afasta o que a cobre
levanta-a como corpo que é, castiga seu dorso e, se nada tem do que
procura, a devolve ao lugar de antes). Personalidade
dobrada no corpo, a partir dos pulsos mede um tempo que é só seu e do rio que o permite pelas margens o sossega em ponteiros. Se encurva,
se transfere pelos lados de um
rectângulo mal desenhado. Outra vez se levanta a pedra
em um movimento simultâneo a outras quantas batidas cardíacas. Outros vêm, pela
sombra do caminho inverso. Outro chão
construído por entre os pilares do pontão, onde atraca a nostalgia vinda de
longe. A paisagem
é interrompida por gritos da pessoa que
é também mãe, assim evita sua criança de
ser criança. O rio reclama seu espaço
de há pouco, uma ave e outras se afastam em montículos de lamento às
águas que as atam pelos tornozelos. Desaparecem devagar todos, e como num final de sonho. Estas
palavras modificadas por vozes sem
género se sobrepõem em camadas de um
mesmo tecido insignificante, quase um
corpo a desaparecer na fogueira difícil,
a comunicação interrompida por uma dialogante solidão. Inconsciente ou não altero estas moradas que nunca
visitei juro com
a mão em números pares e ímpares como
toda a gente que por lá mora.
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