segunda-feira, 20 de julho de 2015

ENTRE QUEM É





Olho para onde
Os outros olham. Também
Olho pelo cão
E ele mal
Dá por mim. A luz
Da tarde, desce
Pela escadaria de pedra
Sôfrega por volumes
Ou, por outras palavras,
A quem vestir
Seus vestidos apertados
De sombra.
Olhamos e nada
O horizonte é. Um
Estaleiro arquitectado
Sitiado por tapumes,
Erguidos da terra
Do sonho
Onde acumulamos
Toda a tralha
Que é a vida, e
Escondemos de um outro
Ainda nosso projecto
Insano.
Olho para onde
Os outros olham. Também
Isto se repete, e
O cão por aqui continua
Igual há pouco,
Travestido porque é outro
Género de ser
Sombra vestida.
Chão decomposto
Em vários outros,
Separados por uma
Junta serrada. Por aqui
O eixo é
Aprofundado. Mais
Algum tempo.
Fios invisíveis
Cortam o plano
Em vários outros
Pontos altimétricos. Marcam
O centro do motivo que é
Ocupado por anjos
Moribundos, sem nome,
Cobertos por fardas
E calçam botas,
Tudo em tons de negro
Seu halo
Transformado
Em escudos e viseiras
Transparentes,
Não venha a pedra
Do início aqui e
Acertar olhar para o chão
E levantar o olhar
Que é o seu.
Canto que é escuro,
Vincado
Por ele, um encontro
Com duas direcções
De música vária
E misteriosa
Fauna de silhuetas,
Destacadas
Do seu fundo berço.
Uma estátua
Com dois rostos – um
Chora e se vê
Outro ao espelho. Espreita
Alguém de uma janela
Sem cortina,
Vemo-la como
Figura a querer ser
Outro olhar
Desenhado
Do lado de fora.

Uma arma virada ao contrário.

Luz de circunstância
Lateral a raspar
Uns rostos, quase
A sorrirem, as mãos
De alguém a segurar
Um animal sossegado
Ou então
Distraídas, indisponíveis
Nos bolsos do agasalho
Carregado
Pelo inverno.
Gesto, ruga ou alma:
Bocas escancaradas,
Esboçadas com imaginação
Animada, porque acompanhada
Por um esgar
Que a confirma
Plural.
Aqui entre nós
Pequenas coisas,
Um império perfeito
Por nada dentro
Ter. A dizer
Um ao outro
A arrumar
O que não temos,
Está lá tudo
Devotamente dentro
O devoluto.
Os pássaros recortam
O céu,
Nos oferecem
Uma figura destacada
Da luz uma forma
De se dizer que o dia
Está a acabar
E tudo se mantém,
Senão já como forma,
Como tudo que é
Inexplicável.
Uma colecção de relógios
Geometricamente dispostos,
A aproveitarem
Os veios traçados
Na superfície da mesa
Em madeira. Tão escura
A louca é: relojoeira
Em causa própria,
Adianta ou atrasa
Um sorriso quando
Está na hora
De se mostrar
Certo.
Quando a dúvida é
Suficiente acerca de um
Plano,
Serve-te da garrafa
Com pouco de um rio,
Faz pouco dele
Ao lhe negares
A direcção de onde
Nasce, e para
Onde terá de ir
E é vê-lo
A desenhar
A tua inclinação.
Com os pés encharcados,
Grita o de ti mais
Lá para baixo
Onde começa
A rua a subir.
Que não te demores,
Se é
Para agora, pois quando
A água se interrompe,
Tudo desaparece.
Fios de força,
Por ter sido
Atiçada a eles a animália
Eléctrica,
Se atravessam ao ar
Em espinha, minúsculos
Pontos de rótula
Separam a que vem
Da que vai,
A haver berma se encosta
Ou se trai
A luz toda enjaulada
Nos candeeiros pela noite
Dentro, vão
Às escadas de subir
E descer,
Encostar a palma da mão
Ao interruptor
Das estrelas. Nada acontece,
O serviço é suspenso
Na mesa, depois
Levantado aos poucos
Até não haver
Mais do que um
Copo.
Olho pelo cão e ele
Outro, está de branco
E todo sujo,
A olhar de lado
Enquanto se chega
Um pouco mais
Para esta frente,
Por cima de uns
Caixotes de madeira,
Numa motorizada
De caixa aberta,
Ao lado do cão
Vai um miúdo
A conduzir. Outro
O pai dele, a segurar
As mãos aos travões.
O que está com o cão
Olha para quem
Vem atrás,
E não se volta.
Acabo já com isto,
Que outro alguém
Atravessa a estrada
A olhar
Para outro lado.

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