sábado, 11 de julho de 2015

LAMENTO






Dizer que lamento
É abusar da confiança
Que deposito no fundo
Profundo significado da palavra,
Qualquer que ela seja,
Ainda que só esta
Seja a roupa que uso
A fingir. Preocupo-me e
Ocupo meu tempo, com algum
Atraso, a realizar
Que outros sintam
O que eu sinto, como
Qualquer coisa
Que por ali passe
Por sentimento. Mesmo
Por isso lamento
Não o poder lamentar
Em um momento – O que dizer?
Quando tudo passa
Por nunca mais ser
Outra estação em que
Me esqueço que é
Este inverno. Entendo sim,
Quando não posso, digo
Explicar, assim imperfeitamente
Porque existe
E se trata assim
De esta natural impossibilidade
À compreensão de tudo,
Sobretudo isto que é
Esta imagem errada
Por ser assim
Tão errada, se comporta
Como mata-borrão
E então
Toda esta água tomada
Refém de uma boca
Que ousa um silêncio.
Lamentar o que não posso,
É por fim admitir
Um lugar que não existe
Para o coração, no interior
Da pedra, em volume
E só isso fica, um corpo
Insurgente à superfície
Esboçada, incerta a medida
Que é a de cada um
Por cada inverno lavrado
Na pele, rachaduras em flor
Sufocadas por um
Manto de neve, onde é
Afiado no seu gume
Este fio de luz.
Cego assim, de tanto ver
Em branco. De tanto branco
Te vestes primeiro
Que nos entendemos
Depois. Há esta palavra
(por isto por aquilo) amor,
Que de coração pouco tem
De absurdo.
Esta pedra tem o seu lugar
(encontrado)
Marcado com uma cruz.

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