domingo, 27 de setembro de 2015

DEU-LHE O ESTRANHO





Veste camisa, apertada até ao último botão onde acaba o tecido ao pescoço. Em branco; a impressão de um jardim ao abandono, rendado à sua volta. Seu olhar aponta o caminho às mãos; vendo, afasta para o lado o fio inicial da cortina em construção, separando por expressões o que somos da sua matéria perpétua. Por isto, um punhado de diagonais. Um nevoeiro entretecido, usando esta linhaça, espaçado à altura suficiente e o mesmo em largura, para que um rosto se fixe do outro lado. Cordas apanhadas a meio; tem segredo por acabar já foi o dia em que o começou, nó simples suave interrupção à recta que ideia, essa a estrangula dando força às mãos, para que continuem até terminarem o que seja em farrapos. Hera acumulada a um canto, por extenso que seja, seu crescimento limitado a esta esquadria esquecida pelo céu. Depois da porta a estátua de costas, parece despir a pedra que quebra sua promessa de movimento, agarra melhor um livro na mão direita que com a esquerda levanta, acima do tornozelo, seu hábito e o vinca, na posição confortável da aceitação do abismo como primeiro passo a dar. Nas suas costas, ainda é dia e luz que sobeja a acompanhar pequenos gestos em que reparo, vultos que mantêm para outros as arestas visíveis. Trocam lâmpadas mirradas, mesmo assim maiores que meio corpo de um qualquer comum de entre eles. Dois lanços de escadas, permitidos pela quadrícula insuportável por onde é descarregada toda a angústia. Por duvidar, posicionados a meio de nada desce e sobe. Outro acesso não existe, senão a máquina transportadora do louco cenógrafo a ocupar a alma distraída, basculando neste meio corpo vindo de outro lado e depressa desaparece…Outros caminhos, um outro só de seu conhecimento; a pedra de Sísifo aligeirada pela erosão repetitiva. Inclassificável mão cheia de nada, atmosfera interrompida por todas as aparências e todas as vozes. Minhas veias são ramos onde pousar, com pele cascuda a cercar esse tecto, turvando-o com a tempestade possível, a pedir toda a luz de atenção ao ponto onde acabo. Desmultiplicado pelo diverso, tomo o sentido de todas as estradas secundárias dando esperança à minha sede por céus. Desconfio da sua presença. Derramam a figura pelo meu rosto, como cães pontuais à marcação da primeira voz que pareço ter; há lugar para uns quantos no elevador da penumbra. Torno suaves seus rudes modos de unhas indispostas, assobio para o lado por entre a malha da paisagem que nos devolve, a todos, a ilusão da separação. Tocam, lá longe, a melodia comum da sombra. Que não é a mesma coisa. Mão oposta em lugar do coração, olhar desgovernado a espatifar-se no encontro com a parede branca. A representação no espectro, tuneladora a conquistar terra aos outros, a apagar pelo interior a fronteira indefinida, causadora de todos os enganos. Lama, vermes. O reflexo de um sorriso forçado, capturado pela luz artificial, atiçados à vedação da carne. Entre planos: encurvado, atado com arame retorcido até ao encontro entre pontos de si mesmo diferentes. A última parede é a noite, esgravatada por tantos em trânsito. Paciente, o observador tem ainda tempo para instigar um último silêncio; cuspir a aberração, traiçoeiramente, nas costas destes posicionados no meio de nada. Amotinados salobros, ou de outra espécie, projectam para fora de si a doença dos sentidos, como escorrência abreviada em vários minérios, atenuando-se na marga do tempo onde inscrevem, é hora, o princípio do seu nome. Terminam doidos, soltam a faúlha da resposta entre semelhantes; mordem e quebram a aresta da sua estrutura inútil. Atravessando as divisões construídas à pressa, perfeitas mesmo assim, tudo fazendo para que nelas caibam seus olhos tristes. E toda a mobília do passado. Espalham o carvão por esse lugar sem pé, expulsando a humidade aos ossos, famintos que estão por altimetria. Palavra de honra. Com acento simples um nó e tudo a continuar a ser um prumo de gente. Demoras a tomar a direcção à porta, ainda perguntas se amanhã nos esquecemos de voltar a isto. À tangente, somos interrompidos por lanças solares, presas de onde vêm por fio invisível. Deixamos tudo para trás. A bagagem é de mão pois é um só o coração dilacerado. Seculares habitantes da esquina mensurável. Emprestam sua mancha ínfima à largura violenta do céu, fingem ser o pássaro mais próximo, de estar em entendimento com esta liberdade paralisante de nada ou além querer ser. Volto atrás e a ti; desdobras o osso lentamente, envolves a curva do rosto com pedaços do vento. Abandonas o alvo enquadrado pelo teu contorno, e os ponteiros do relógio perdem o tempo na tua direcção marcante. Ordeiros em outro dia, prometemos, um atrás do outro a descer o telhado incompleto. Carrego o mar ao colo, por abandonar à sua sorte, se aqueles não voltam tenho de chamar por outros. Vãos rasgados nas fachadas, transmitidos fora de esquadria mais que isso deformados, liquescendo-se por debaixo ao olhar. Da rua somos rosto ao espelho, irreflectido absurdo. Vigamentos soltos, que atravessam o sonho de um lado ao outro, a entregarem o peso às árvores que esqueço quando, solidários, escoramos nosso peito com as palavras que nos fazem menos falta. Um e outro no seu lugar. Por fim, te levantas e deixas gorjeta à luz que te servia. São trocados, dirás, enquanto essa mancha informe que por ti alastra e tinge tua pele é, a nascente, o que acabará por ser uma lágrima.

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