Mil
ordens dadas
Aos
motores de toda a espécie;
A
filigrana da palavra
Atravessada
pela saliva,
Intencionalmente
bruta,
Vinda
expulsa pelas frinchas
De
um dizer por entre
Tua
dentição incompleta
«A
agulha entra um pouco atrás
Do
lugar por onde saiu», DIZEM
Num
mesmo fraseado, destroços
De
dias velhos, encurvados,
Atirados
por condutas
De
cores absurdas
Que
nunca se usam.
Roda
- «Não invente!»
Jante
preta, pneu branco,
Inversor
de corrente contracorrente,
Num
abrir e fechar de olhos
A
piscar…a piscar…a piscar
O
amarelo do semáforo
Capturando
a tua fuga
Desnecessária.
Amplitude
De
pernas num
Compasso,
Ouçam
agora e aqui
Sons
de sirene,
O
ar interrompido por
Carro
de bombeiros,
Desgraçando
a rotina
À
gente condutora,
Obrigando-os
ao desvio
Incómodo
junto à berma
Da
estrada em paralelepípedos,
Estes
grumos de granito
Empapando
o leito
Do
caminho onde a velocidade
É
limitada. Ao mesmo
Vagabundo,
lhe é permitido
Aparecer
em lugares diferentes,
Das
duas uma se não
É
o mesmo, se não parece
Aparecer
em lugares diferentes:
Sentado
sozinho
Na
paragem do autocarro
BUZINAM
não para ti,
Sossega!
Garrafa
de cerveja
Ao
colo, embalado
Numa
embriaguez serena, quase
Se
não dá por ela,
E
sim, só ele duma vez
Veste
a noite
Ao
contrário, os ténis
Negros
de Inverno
Nesta
manhã incómoda
Branca
de Verão,
Calças
fato treino
Até
ao umbigo,
Camisola
escura sem importância
Para
agora pôr-me
Para
aqui a escrevê-la,
Casaco
fato para estar quieto,
Casual,
o cabelo levado
Em
monte atirantado às raízes
Do
crânio, imobilizado
Pela
gordura das ruas
E
de anos sem data, nela
Passados.
Assim deixo-
O
de ver até ver,
Ponho
o edifício da Assembleia
Da
República para trás
Das
costas, desço
À
rua do Poço
Dos
Negros, viro
À
esquerda na direcção
Que
leva o eléctrico
Pelos
carris ascendendo
Ao
Largo Camões,
Mas
antes, muito antes,
Descobrir
o IRREAL
Que
é nome nas portas
Fechadas
a esta hora
De
um bar, o papel
Que
leva preso
À
montra que dá para a rua,
Anunciando
filmes passados
A
ferro pela música
Inventada
agora,
Dobrando
a mudez,
Piscando
o olho
Ao
génio destes realizadores:
FRITZ
LANG
JEAN EPSTEIN
SERGEI EISENSTEIN
LADISLAS
STAREVISH
A
cada um conheço parte fraca,
Um
pouco assim-assim,
Que
os cultos exigem o seu tempo e é já
No
próximo sábado se lança
Aqui
um livro do poeta
JOÃO
RASTEIRO, que me falta
Agora
ler «RUÍDOS
E
MOTINS» que se propagam
A
um corpo sério,
De
movimentos
Continuo
um pouco acima,
Ainda
é cedo se tanto
Umas
oito e quarenta,
Mas
tenho já fome
De
contos e poemas,
Um
nervoso miudinho
Em
querer aplacar
Esta
ânsia de papel
Impresso.
Dou por mim
A
outra porta dizendo
«LETRA
LIVRE», por ora
Fechada
pois só alguém
Aqui
estará a partir
Das
dez.
Vou
acima venho abaixo?
Volto
para trás, e não é
Que
dou com ele
À
esquina
Junto
do semáforo,
A
piscar de presença
O
Vagabundo erecto,
Remexendo
no caixote
À
altura do umbigo, se alimentando
De
comida
A
meio caminho
De
apodrecer.
Limpa
a boca, enquanto passo,
Com
as costas
Das
mãos, segue o contrário
Ao
meu caminho, um quarteirão
De
livros fechados por dentro
De
paredes intransponíveis,
Até
que seja certa
A
hora. De Santos, “SR.
TESTE»,
fico ao largo
Fazendo
tempo
Sentado
à mesa dos que,
Todos
os dias,
Levam
em passo de corrida
Lenta
de Morte,
A
luz que nasce além
E
se põe aquém.
Ninguém
agora por aqui.
Minto.
Sou eu
E
o Vagabundo ali
Ao
lado, sentado virado
Para
mim sem me olhar,
Traçando
suas linhas
De
Terra ao Horizonte
Curto,
que parece
Esquecer
num ponto
A
seguir a ser
Olhado.
Me desaparece
De
vez. Esta
Agora!
Ia
Agora
mesmo
Embora,
se não
Tivesses
voltado
Outra
vez de onde
Desapareceste
ainda
Há
pouco, fazendo troça
Das
arestas que cortam
Mal
a tua figura
Destacada
do tempo
Que
regurgitas. Fazes isso
Tão
bem, quase
Que
te tenho inveja,
Engolindo
em seco
Os
ponteiros «RAIOS
PARTAM»
- me ferindo
As
pernas que teimam
A
imobilidade
Indispensável
à ideia
Em
desordem. Tens a mão disposta
Em
cimbre alinhado
À
fachada do rosto
Em
derrocada. Penso
O
que por aí vai
De
sonhos desfeitos,
Ou
mera desfeita
À
Ordem das coisas.
Por
trás de ti,
Um
pouco mais
Ao
fundo na rua,
Alguém
põe
Uma
carta no correio.
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