Corpo baldio, fundado directamente contra o
terreno onde é isolado. Se lê à transparência vegetal, seu cunhal delimitador. Se
compatibilizam seus elementos diferentes, os vários traçados no interior de
todas as especialidades – vezes há que não servem, palavra ou corpo, então se desenham
outros. Enxertados de ferro vivo em osso queimado, apontam nesse corpo outra
palavra. Se verifica o andamento dos trabalhos na frente da obra por se erguer
e alterar, se realiza o levantamento da altimetria do mundo em volta, se
desenham ruas só para ele. Se aldraba a empreitada se por aí resultar lucro se
não, se subtrai, subdimensionando a estrutura de si mesmo – enganar os cálculos
por pouco. Se escolhe parede ao acaso num lugar, sem projecto, ainda antes de
ser levantada, martelando aí uma ideia fixa de ferragens em desalinho,
desconseguindo medida igual ao chão a partir de cada uma dessas ancoragens aos
ornatos que ficam da pele enrugada.
Corpo só por hoje, objecto mal pendurado,
amanhã sonhos fora um nada de esquadria. A suspensão de um certo ritmo
iniciado, batendo com os pés outro ritual de andar perdido e agarrado a músicas
de máquinas a trabalhar. Todo movimento, ripando o invisível à superfície. Passar
palavra, escarificar acentos na lança da grua que tudo ergue acima do
entendimento, hifenizar manhã, indo dos meus olhos ao lugar do teu coração. Passar
palavra sobre isto, consentir-te o acto servente. Adestrar a tempestade ao
corpo. Fragmento herdeiro de um fragmento. Na verdade, o fim – iminente,
duradouro no tempo em que estou para aqui mesmo a dizer mais do mesmo, esta
ampliação do nada à escala um para um, dado como exemplar.
Massa pobre, insuficiente para revestir esta
tosca estrutura à mostra. De tudo um motor, montado em paralelo a um coração a
gripar, violando a esperança dócil. Depósitos no fundo a que nunca se chega, no
que se esperava de coisa animada pelo verbo plural das mãos operárias,
reduzindo os espaços ao vazio de ocupar numa linha de horizonte traçado pela
insónia. Forma silenciosa, impaciente. Pisar a lama da fundação das coisas a
trazer aqui, descalço, esfaimado, enregelado nos cantos do corpo, espalhando à
mão, por cima deste instável, um admirável emaranhado de fios de cobre roubado
sabe-se lá onde às obras dos outros.
BOCA SECA, COLUNA HÚMIDA.
És edifício com categoria
De risco. Ao incêndio
Provocado pelos teus
Maus modos, pela forma
Diferente que é a
Fala de nós acesa. Minha boca
Vem em teu socorro
Para o rescaldo, quando
Já nada
Sentimos.
Em carga, resistimos contra
O esforço do horizonte,
Essa solicitação
Mecânica à qual
Garantimos
Estanqueidade total.
Ah, tão fácil escrever FRÁGIL numa das faces,
e oferecer a outra a menos de um corpo, e apontar neste à parte a direcção de
um muro, as alterações de humor. Sonhos esquartelados, pelo bater da linha azul
a dividir a marcação do seu chão de estar. A suspensão de um certo ritmo –
bater com a porta, bater o pé. Passar palavra. Começar o quadrado segundo o
prisma; repetir as esferas, lançando-as como balas perdidas para o cilindro do
esófago. Borrifar para tudo; o sangue dos outros, o meu sangue se já nenhum
houver para dar, e se tiver mesmo de assim o ser – esperar, esperar sempre que
tal não seja preciso.
Indo eu a caminho de coisa minha, outra
ocupação, esta, a de assentar fiadas no ar, em blocos de cimento desaprumados
pela contrariedade. E medo. Só isso. A narrativa, por si só, não detecta o
verdadeiro problema. Recapitulando: origem, unidade, aceleração igual a menos
mundo, e por último, a dispersão ai de mim por todas as outras coisas a
acontecer. Noutros tempos, um ponto bastaria para ditar nosso próprio fim. Volta
e meia, o que há a trocar de cá dentro lá para fora? O simulacro de Deus,
intervalando por entre os vazios a ocupar. O traço da argamassa celeste,
trocado pelo volume da mão tornada tensão, violência, precipitação para o
espaço que não há a mais; isolando nas suas ilhas, os significados por atribuir.
Variações de cor, tomadas como refeição e
engolidas com água. Mudar a direcção aos ventos se necessário; ser tão
pássaro como eles, levando presos inertes de cal pela boca que tudo apaga. Voltar
ao chão, e fazer a queimada final ao que não tem explicação. O contrário de
exterior. Particularmente o tempo, se nenhum. A falta de um número que ponha
ordem nisto. Cortar a direito, reservar o caldo da pele para mais à frente. Virar
costas a um narrador descontrolado, entre aqui ali, nos libertando de ficar. A máquina
intencional, acelerando em livre curso, na direcção de um ecrã teórico. Se apagando
até ver. De velho, inaugurar o tempo.
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