domingo, 26 de março de 2017

EM PRINCÍPIO, FOI TUDO








Ontem o mar
Nos entrava, é só,
Pela respiração a dois
Tempos nossos. Cavava
Fundo no peito
A tarde à superfície.

Andávamos a dois, um
De nós nunca
Virava as costas
À rebentação. Andando por ali,
Juntos à linha
De água, simulando
Acções separadas
Do mundo.

Virámos o ouriço
De pernas para o ar,
Mudámo-lo para
Outra mão – nada sentimos,
Por este ângulo,
De agudo. Cravámos
Atenção às coisas presas
Ao sal. Temperámos
Nossos modos, quase parecendo
Uma unidade.

Foi assim, foi. Ainda
Isso, não parecendo, está
Dado como
Presente.

Agarrámos em nós,
Atravessámos a chuva
No dia anterior. Da Outra Banda
Viemos, pela estrada
Marginal.

Nunca estivemos assim
Tão longe,
Do mar.

Estamos, e aí concedemos,
De marés,
Falados.

Fizemos de amigos,
Outra coisa melhor.

Pousámos a cria
Na cama da noite
Variante.

Depositámos toda a confiança
No firmamento, acendemos
O futuro. Apagámos
Em nós, qualquer
Dúvida.

Acordámos, sentindo
Lábios novos
Aproximando frases de nós,
Desenhando garatujas
Sussurrando algo. Ainda conscientes
De que tudo
Não passou
De um
Sonho passado
A limpo.

Dois seres figurados,
Dois seres
Por inteiro.

Puxei para trás
O pano que habitámos
Mais esta noite, fui
Descalço até ao fim
Do corredor, gravando
Nas plantas o antigo
Aos pés. Abri a porta, e
Tapei o sol com
Minha sombra despegada,
À borboleta na sua
Cor.

Respirei o fumo,
Voltei a mim, me cheguei
A ti. Pouco
Falámos, rasámos os dedos
Ao focinho dos cães
Na casa do lado. Somos vizinhos
Ainda em projecto,
De vida nova.

Ontem mergulhámos
A noite em água
Quente. Soltando aos corpos a
Faísca odorífera,
Da alfazema brava
Deitada sobre erva
Príncipe.

Girámos sobre nós
Se pode dizer,
Sim, o que dançámos
Sobre as estacas
Que nos levam andando
Mais leves. Estes ritmos, não são
Mais que barro
Atirado à parede.

E parecemos outros,
Iguais como só nós. Fazemos
A isto, certo
Desconto.

Somos máquinas
De registar, dias
Tão caros.

Tossimos, libertando
Pássaros de interior
À sua encosta,
Inclinados de nós
Para o céu. Nitidamente, não
Se verá
Melhor.

Cantam aos mortos
À porta de casa. Rebentam
As águas ao dia,
Outra vez sou peixe
Andando por fora.

Sai um
Dia,
Entra outro.

Não podes dizer que não
Fomos avisados.

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