Conta.
Conta até ao número que souberes, o teu número. E se nada se souber do que aí
vem, mil e qual coisa tal resultado, ninguém te levará a mal. É da tua conta,
são as tuas matemáticas. Subtrai-te ao mais que houver, coloca o menos ao lado
do que escolheste, para ser igual à hora em que arrancas raiz às coisas,
multiplicando livremente a desordem por todas elas. Escolhe a equação que
puderes, mais à mão. Não te esqueças porém que, agora que nos dividimos em
dois, fomos um dia um só.
Divide
também a manhã pelo dia, e nunca será tarde. Teoremas, teodolitos, temperaturas
– tudo cá fica, mesmo se te pões à distância, tomando medidas urgentes.
Direcções ordenadas por setas brancas, a estória que souberes pôr a contar numa
folha lisa. Cabeças de alfinete, tu e eu, vistas de cima pela última vez. Os
corpos, luzes sobrantes ao que foi a noite.
Aos
motores, a mecânica ágil dos condutores de estações. Hoje é dia até mais tarde.
Aos
motores.
O
olhar derramado pelo ébrio, líquida lâmina desconfiada, cortando a direito
sobre tudo.
Com
licença. Passou bem? Lá, agora. E nada de espaços em branco, por entre a
metamorfose do parágrafo automático que me ditas. Perguntaste, respondo. Com
este esgar, transmitido para o longe de um lugar chegado, é o que manda a boa
prática. Meia hora depois da última linha, se continua a nada sentir. Meus
sentimentos, ó cadáver pontual.
Peixes
de fora, nada, aparafusados ao muro de suporte separando águas a ruas
diferentes, uma que desce outra que desaparece. Pássaros sensíveis a correntes
de ar. Santinho. Linguagem igual, acentuada com a distância ao lugar onde nunca
fui. Aponto a trepidação natural dos volumes. Esvaziando o verbo. Criança hoje
e sempre na mesma, correndo por aqui fora, convencendo à pressa pássaros que
são do céu mesmo.
Curvas
e contracurvas em traço de encher vazio, aguardando tinta que o fixe. Ao
momento. Vinganças que não vêm a propósito. Tanto faz fazer-lhe o mesmo. Estás
a olhar para onde?
O
sinaleiro, engarrafado em paredes de vidro; trânsito dele só, tiques e traques,
na via de fora, ascendente em esquece lá isso.
Diz
adeus.
Isso.
Diz.
Assim
está bem.
Estás
bem? Estou? Está
Lá?
Sim,
Sou
eu. Não
Adianta
mentir-te.
Vais
sair? Pergunta
A
criança
A
um
DESCONHECIDO.
Folha
de rosto.
Daqui
para a frente, nada. Talvez soubesse já, aqui chegado, mais não era o que sobra
a um sentido de posse sobre coisa sem matéria – saber que havia aqui passado,
sombras no lugar delas, conversas interrompidas na mesma sílaba. A conjugar
verbo repetir, de trás para a frente, de encontro a uma parede. A ligação entre
materiais diferentes, deixada ao acaso, ficando por rematar a essencial
diferença entre nomes. Códigos diferentes, comandam a abertura e fecho à mesma
porta. Espíritos aligeirados por conta de matemáticas inquietas. Caem todos em
decadência exagerada. Não vás mais longe.
A
meio corpo – metade penumbra, metade nuvem – se atinge a perfeição do
afogamento, se bastando a depositar físico de pernas para o ar, na concordante
à lâmina líquida. Nem sequer sete palmos são precisos, e às vezes um só centímetro
faz diferença toda.
Se
ocupam de ausências, com um espelho na mão, apurando extrair o melhor de um mau
perder. Lá vem este agora, com seus loucos e desnecessária refeição de
modernidade. Lá do fundo, dir-me-ão extravagância ou regular mal-entendido que
mal percebo, vindo a lume soprado pela mão aberta em leque, chama directa, ida
certeira ao coração dos sentidos. Dor será, se não for quase sempre outra coisa
de aqui continuar andar.
A
sola é complementar do intelecto: andas para aqui, em pezinhos de lã, vendo longe os navios que há muito se
foram. Guardas no cinzeiro fósforos ardidos – é a madeira desses navios idos
já, lá para o fundo. Juntas que não casam, espaços vazios por preencher. A espuma
do sonho se expande, até onde vai ou racha a estrutura social das habitações no
corpo. Salas de estar por estar. Hábitos que se adquirem, portas que se fecham
por si só.
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