domingo, 14 de maio de 2017

UM CHAPÉU DE TRÊS BICOS





A concentração de todas as distracções: a maldade e o vício, a plástica presença das mulheres. Os velhos dramas, e alguma maquinaria, como local de todas as paixões. Esboça-se a construção do efeito, um universo imaginário no mesmo ano dessa morte – o suicídio do único filho. Cresceu o escritor numa vida movediça, conservado na sombra; justo ao corpo os seus desejos: servir, enganar. Viagens, épocas inteiras. Traduzia em tanta maneira, o horizonte com pseudónimo. Desastres – elegante filosofia, alguma coisa, ao vento e ar livre tempo. Esfriam os dias, não saímos. Prazeres esperados, prazeres; a prosa que tudo invade, razões tão sólidas. Limpidez nocturna, inimitável dia – luzes que estimava. A morte no interior do estômago, a música, um químico. Nesse tempo eu estava só; eu sozinho dizia chapéu, seguindo o meu caminho pelas casas dentro, para qualquer coisa, para o chão, poucas vezes alguém. Haver sido um nome, a inspiração; esperar o dia o dom quem sabe, o olhar triste, indiferente pelo mesmo tempo. Deus moderno, instrumento de proporções fantásticas. Pragas, aos incapazes de suspeitarem o corpo num espaço menor. Cerrar o rumor para o lado oposto, no primeiro dia de frio. Meio anjo armado, buliçoso, qualquer representação de princípio no dia imediato que sobrevive a si próprio. A morte parecer-lhe-ia pouco, também o tempo, o traje de seus lábios. A respiração e as vozes, excepcional vocação abalando o mundo. Nenhuma alma, todas as imunidades. Mas ao contrário. A fisionomia imprudente das manifestações sempre novas, as lágrimas aperfeiçoando. Febre-amarela, implacável, transmitida à linha da sua mania. Um dia irreconciliável pode dizer-se, levemente inclinado sobre a noite que noite, que noite!

Este céu não pode ser vosso, são as memórias que o dizem sem voz, sem olhar, sacudindo o peso de acordar. De combinações engenhosas, a doença sofre do tempo todo, a fantasia, incorrecções; o peito a sufocar de preconceitos, impreteríveis diálogos. Todas as fatalidades, fogo em casa, o pesadelo da vocação – todo o mal vem daí, ser grande, musical. A morte veio, era um homem só em feitio, verdadeira figura desse naufrágio. Era a frase final, para repetir até então a vida. A arte, a pior das coisas, nessas noites sem coragem, como um homem qualquer. A propósito, o corpo não lhe há-de crescer, não a tristeza e depois olhos de certo modo em sucessivas composições, mil incertezas.


Pela rua, ao ir sem nome, faltou-lhe o sol. Um dia morre.

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