domingo, 16 de julho de 2017

DESFRAGMENTAÇÃO






Era, de novo, o engano jogado ao comprido dos pés. Aos caídos, andar por ali de costas voltadas para a porta da divisão onde tudo mexe, por si. Iniciava agora, o infindo levantamento de dimensões à sala dos incisivos. Se depositavam em rodapé, a pouca fé nesta estrutura e a caliça vinda dos dentes rilhados em noites de aperto. Morderam todo o isco, e de forma diferente a mesma coisa, quem por aqui passou e ficou ainda que por uma noite só. Por subtracção, assim se sustenta esta ciência sem enunciado. Dentes-muralha, domadores de carne precisa, imaculada construção do todo envolvente. Voltar atrás, nada a lembrar um caminho de antes, não fosse ter passado por ela, pela corda desnivelada deste mar preso ao chão. Isto é, lançar a confusão pelo corpo abaixo e nada lá em baixo por onde começar. Lancetar a parcela passiva, o torpor, ao que não perturba a coisa, sendo ou por vir, nem um pouco. Dispersa, a mão trata por igual qualquer peça de caça, qualquer peça de roupa dobrada para dentro da minha atenção ao comum circunscrito, de lados irregulares onde não ponho os pés vai para muito. Inverniço floreado, mais árvore ali plantada, impedindo o lado inteiro ao olhar. Se prende à frase, o espigão acabado de entrar no olhal. Terra-a-terra, sem metáfora associada. Se perde por desaparecer. Houve um longo suspiro, áspero e sedutor, de encontro ao sonho de voltar a pisar o palco da rua. Corrigindo a jogada da chuva, deitando a manilha seca à terra, o actor nas bermas. Suas sombras, transmitidas com o esmero angular da credulidade ao público ausente. Acto contínuo, simultâneo em vários suportes, um tanto destes demasiado daqueles. Vai-se a ver, e foram todos; deixaram para trás a escada de incêndio, à consignação de um retornado por entre os mesmos. Mestras presas por um fio. O vazio a ocultar, entupido por massa de presa rápida, ficando depressa ali à vista o gesto adeus para sempre. A Deus, à falta de melhor. É deixá-lo ir. Fechado por dentro, num compartimento envidraçado, saio do caminho por onde andam outros. Cubículo acidental, que o problema da habitação é outro, onde ruína e desordem ruidosa mal chegam. Pensar a música textual, em silêncio teórico. Um dia destes, ainda venho aqui comer o absurdo desta refeição. De uns andares acima, se despenhando, chega o som castigador da lixa em grosso grão, mecanizada, parecendo arrancar pedaços brancos a um céu ainda de pé. Assobiam lá longe, para o depois de mim. São as palavras a bater no ceguinho. Palavra, que palavras eram; tratava-se de muitas juntas. Trinta-e-um de boca. E a máquina é de novo ligada a quem a ela liga. Metade da primeira semana, a porta é mantida aberta, venha de lá quem vier. Ser chamado à pressa. Ó amiga imperfeita, como sempre, nos encontra a sorte jogada a meio da rua. Sempre vens, perfeito, isso é que é preciso. Deusa de papiro, em tuas roupas foi o tempo em que se ajustava a curvatura do meu olhar para as tuas esquinas, onde me virava. Não admito aqui, mas sou vítima dessa maneira estudada. Trejeitando teus lábios, o que não podias dizer diante de quem mal te acompanhava em género igual ao meu. É preciso ter bastante cuidado com as palavras. Não levo a mal, sabes a tabuada toda na ponta da língua, e tanto não faço questão em número como não faço contas à vida. Temos, hoje, um entendimento diferente. Na parte que me toca, dei por mim assim. Igual a zero. Dando graças à demasia deixada no tampo de pedra, por mão solta que não a nossa. Do nosso sangue desigual, corre uma estória que se conta a si. Boa viagem e poucos furos. Agora não tenho tempo. Chega a ser perigoso, o que cabe em poucas linhas. Uma destas tardes, por norma, cumprindo seu direito de resposta, aparece o funcionário das domóticas impraticáveis golpeando por nós pecadores, fios neutros numa fase diferente. Diz ele que está quase a chegar onde quer eu que sim, que se não preocupe. Sabe ele que já não acredito nele, que nos damos de barato. E tu te manténs à parte, no quarto ao lado em cima da cama, esperando nova ordem ou simples boa noite. Havemos de ir, já dizia a outra. Falta de ar, nesta manhã que nunca deixou de ser, igual a este dia e outro; manhã interrompida à brusca, pela asma de galo negro estacionado no lugar vazio a meu lado. Animal tingido da noite à mesma, sua. Sobe aqui mão invisível, apanhando o pico de galo, e por aqui o alimentando com a sua própria carne. O ritual de cantar, não tem custódia onde assentar. Arranco a chave à ignição, faço minha sua voz, saio a correr, morto por me ver daqui para fora e sair com vida ainda dia. Rodas dentadas. E certo olhar esgazeado. O martelar rigoroso, do operário fingindo entrar na miséria material. Se dá último nó, ponto, à rede a toda altura que nos protege dos olhares que vêm de fora. À vontade, picam a parede movimentos circulares no lugar exacto, à justa passagem desta composição. A poeira se larga do chão tosco. Martelam, martelam. Martelam no que ainda está de pé. Céus. Batem na mesma tecla. E é por pouco, que me afasto para o lado, continuando ainda assim a ouvir canudos, no calibre desta cerâmica em sangue vivo, indo abaixo como a ir-se, deitar em algum leito de margem perto. O marteleiro vê, olha primeiro, de frente para o horizonte que irá desimpedir. A parede, que nos divide e aparta de um sol acima de nós, é espessa mas não ficará cá para sempre. Já foi. O tumulto, dos escombros passados por cima por pezinho de dança, e o silêncio do marteleiro, faz por fazer prolongar o tempo, enquanto não é outro tempo, de partir. A frio, assim vamos, nos fundindo no todo a pôr à vista; sem nada quase sentir, abrindo profundo o roço, a tocar nos ferros do ser, que vai da boca aberta à voz até bem perto do coração. Inconscientes. Varre-se o chão para fora, com a lâmina da pá ao alto – besouros de metal incandescente, se fixando, e encontrando seu lugar à pele do tudo acontecer. Meu nome, ao contrário, entregue ao vento andando forte por aqui.

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