sábado, 29 de julho de 2017

ÂNGULO DE ATRITO







Antes mesmo de avançar
Para o quer que fosse
Da obra já ganha
Sem ter ainda
Mexido sequer
Uma palha, sobrepondo
Sempre a arquitectura
Das palavras
À engenharia dos espaços
Que as aguentam. Acreditam
Mesmo que é
Assim? Conversa e tal pois
Por aqui nunca se deu
Outra coisa fiada. Forcei
Sempre o tema, negando
À última da hora
Aquilo que me era
Dado. A bem dizer, de mão
Beijada umas vezes
A coisa se dá
Outras vezes dá
Merda.

O engraçado é
Que sempre penso
Ter coisa melhor
Para fazer ou perder
O tempo, mas não,
Acabo sempre
Por ficar a pé
De encontro à mobília,
A olhar para dentro
Do movimento construído
Por contrários,
Suando pela noite
Abaixo parte desse
Mar crescente.

Esboços de coisas tipo
Nunca minhas, tipo
Isto é
Tudo meu,
De uma forma ou
De outra. Se assume sempre
A revessa da margem
Costurada à medida
Da casa cortada
A direito.

Hoje me deixo ir,
Quando podia
Nunca voltar ou
Demorar a chegar,
Como assim
Deixar esta folha
Matizada de pousio. Sim,
Sem brilho, apenas
O suficiente
De película nervosa
A tapar os poros
À maldade do tempo
Passado, sem sinaleiro
Pelo meio
Do caos veicular
Dos versos sem carta
Branca tirada. Vi
Chegar igual o dia,
Ao fundo lá meio céu
Lambido pela trincha
Solar, levantando
O braço para a hora
Original. Vento e pressa,
Elementos estrangeiros
À pele, só por cortesia
Passando um nada
Pelo entendimento
Do dia anterior. Deste
Vão rasgado
Pela repetição de frase
Feita.

O tempo de um
Cigarro passa
Ao mesmo. Dura
Este fogacho o que houver
De cortiça na espessura
Da boca e vala
Aberta à pendente
Da gasolina inclinada,
A olho, para
Outra frase refractária.

Os infernos de cada um
São as paredes
Levantadas com o prumo
Viciado do Homem.

O tempo da manhã,
Adormece o sentido
Oportunista, exausto
De tão pouca noite
E tanto ainda tanto
Se dá como
Foi assim e tal
Ficou.

Desce sempre
O estore, daqui a nada
Me repito, enquanto não
Sei o que fazer
Aos braços de diferente.

Aperto sempre muito
A rosca da cafeteira,
Por agora está feito amanhã
É que são elas.

Nada nasce de novo ou melhor
Dizendo,
Leva efeito
O chicote sem a tensão
Anterior de um corpo
Esforço ou momento
Negativo. Para outro
E outro dia, deixo
O ferro armado
Na disposição que não devia,
Para que nunca se saiba
Por onde começar
A demolição do meu entrave.

O que se gasta
Em palavras, se poupa
Nos vazios deixados à volta
Dos inertes silábicos,
Sem ponta
Por onde se pegue
Sem ponta
De dor aparente.

Falam tanto
Do nada,
Se esquecem
De que se existe assim
Como se conhece
Desconhecer
Tudo como sempre
Foi. Forte
A água martelada
Pelo ofício
Do sol.

Porquê precisar a hora,
Nítida revelação do caminho,
Quando a dúvida
Acrílica fica
Em branco
Onde vai melhor,
Metida entre a chapa
Da mão
E o espelho montado
À volta de si,
Atacado pelo óxido
Das lágrimas vistas
A se duplicarem
Em outros tantos
Assombros e apertos.

Ainda nem a meio vou pois
O café não ascendeu ainda
Ao espartilho de inox. Me dou
Um copo de água,
Me peço logo
Outro a seguir não
Digo mais
Nada.

Aperto a refeição
A meio do dia
Ainda só
Em possibilidade,
Em duas tiras
De papel. Dou o nó
Ao saco que contém
O apenas necessário
Que me irá preencher
O buxo
Por uma hora
Mais ou menos.

É assim possível
Que se veja
A bom ver,
A fuga ao dizer
Concretamente
Ao que se vem.

Fujo de mim
Sem saber o que fazer,
Pobre corpo de uma só
Assoalhada para tantos
Diabos de corda,
Marcados pela abcissa
Oculta.

Adorador de manchas
Nos tectos. Cobras de sal
Atacando o gesso
Nas sancas. As unhas cravadas
À tua atenção,
É todo o alarme
Que disparo de propósito
Sobre a vida. Sobre isto
Nada mais me ouvirá
Dizer. Da boca vai
Lá para fora. A culpa
É de ninguém.

Um punhado de vento é
O instante falível,
Prolongado movimento
Contornando o perímetro
Da pedra arranjada
Em ti, insuficiente
Construção interior.

Me lembro ainda
De ouvir os mais velhos
Que este era o lugar
Certo para todo
Aquele com queda para
O suicídio.

Maravilhosa elevação,
Alterada sem querer
Por quem a construiu
Com risco, dando
Em miradouro largo
De vistas,
Para a morte
A todo o momento.

Sabem já do que falo
Quando digo que não
Há um tema
A que me agarre.

Ó miserável
Terra comprimida,
Cortada às postas
Pelos ventos e correntes
De ar comprimido
Que alimenta esta
Nossa máquina mais falha
Vai-não-vai
Andando, cumprindo
O ângulo interno
Do despique há muito
Anotado nos artigos
Das boas
Práticas associadas
Ao trolha construtor
De artifícios
À escala,
Com volume
E alguma área
De implantação.

Do outro lado da estrada,
No jardim
Ainda mal manhã,
Um dos dois
Homens presos um ao outro
Pela rotina,
Laçam o tronco
Da árvore mais forte
E à vez se põem
À ponta da corda,
Esticando os músculos
Ao braço. Acabam
Este exercício geométrico,
Metendo suas coisas
E uma viola desafinada
No saco a tiracolo,
Trocando uma ou outra
Palavra já em andamento,
No sentido da multidão
Que os engole
Intimamente
Por debaixo às roupas
Da cidade.

Às árvores, essas
Não se lhes ouve
Nem ai
Nem ui. Que não é nada
Com elas,
Metidas que estão
Ao barulho
Com o vento, falam
Para dentro
E cospem para o chão
Uma ou outra folha.

Já em casa,
Me encosto a este pensar
Que devolve sua própria
Construção no vazio
Às divisões. Sim
Em casa, esta
Casa tão vazia
Uma rua deserta
Pintada de branco
E uma vontade
De pôr nelas,
A trabalhar,
Minhas mãos de carvão.

O chão em espinha
Tornado pó vem
Assentar
Na minha garganta
Móvel. Madeiras
Agredidas por estas
Meias-tintas
Do pensar. Aqui chegam
Por estrada incerta,
Os barulhos dos canos
Dos carros a passar
Lá fora o acento
Grave do avião
Vindo aterrar
Aqui perto.

Sei que sopra ainda
Um vento vindo também
De lá, porque vai
Sacudindo as estopas
Esfiapadas, presas em voltas
Às guardas metálicas
Das varandas do prédio
Em frente. E sobressaltando
Plásticos envolvendo
Janelas novas ainda
Por abrir,
Na clarabóia que se vê
De aqui ao meio
Do telhado.

Travam, a chiar,
Alguns veículos rasteiros
E esta descontinuidade
Que me atravessa
Louca, a jogar mão
Às imagens superficiais.

Fios descarnados,
São o suficiente
De traço exterior
Aos monstros que levo
Junto ao peito
Por dentro. Passageiros
Ruins, que passam pela vida
A ir vir
Sem tirar bilhete.

Tocam a música
Das adivinhas. Paranóica
Forma desistente.

Ainda um telefone
De marfim
No seu lugar
De sempre,
A que não resistem
Mãos e ouvido,
Os olhos vá lá,
Apontando para o canto
A ver se se dá
Por alguém chegando
Perto.

A fita do estore
Tangida por esse sopro
Descrito vai tempo,
Tremendo a sombra
Que dá ora
Direita ora
Espessa ora
Barbatana líquida
Indo bem
Neste oceano
De cal atravessando
O rectângulo
Da ombreira. Seus olhos são
A janela que falta
Abrir deste lado
Em frente ao outro.

O esquentador ainda
Por sair da caixa, não
Sei se alguma vez
O vou pôr
Ao uso,
Esquecido que ando
Das estações, virá o dia
Que é Inverno
E vou dar por ela
De torneira aberta,
O peito a implodir
De falha,
E nem uma
Toalha seca
Posta no prego
Numa das paredes. Sair à pressa
Sem roupas ou ideia feita,
Deste nevoeiro à solta
Na casa de banho,
Que se repele
Com outro banho
De água fria
Pelos costados.

Me sobrou uma caixa
De que falar,
Cheia de mosaicos
Na cor da noite, servem
À última música
Que irei tocar
Quando se conduzirem
Com mão forte
Para o chão.

Esperar de pé
O que vem
Tarde, é
A homilia dorida
Pregada pelos rins
Ao torso da impaciência,
Já sem falar
Desta puta
Dor de dentes
Encravada entre
Molares no fim
Da fiada
Interna.

Abolida que foi
A farmacopeia dos azares,
É de pé que espero
Que tudo isto
Passe e não
Seja mais
Um desses
Mal entendidos
Tão correntes.

Aos barulhos da rua
Ao mexer do vento
Nas coisas digo
Até já, pois
São as cordas
A que me agarro
Para não ir
Desta para melhor.

O que é a loucura
Senão uma habitação
Com mais assoalhadas,
Onde é menos provável
Que não nos percamos? Talvez
Assim não fosse
Verdade não haver
Mais ninguém senão
Nossa própria voz,
E deixasse de ser apenas
Um destino de Verão.

Sejamos sérios
No engano.

Sem comentários:

Enviar um comentário