sábado, 8 de julho de 2017

DEIXAR SEQUER LUGAR







A única diferença
Era ninguém.

E no entanto
O incómodo por ser
Ainda de dia e
Mesmo assim…

Duas casas vazias e
As roupas não fecham
O medo dentro do corpo.

Barulhos fixos
À meia-luz se extinguindo
Mais lá para os fundos. Passos
De alguém
Feito numa liga mais leve
Que o tempo contado.

Despidos
A expressão e seus modos
Perguntam porquê
Mais isto
Fora do lugar. Ponto
Singular.

Acordava se aquilo
Era acordar acordava
Para o pesadelo o rosto
Submerso no caudal
Incontrolável do hábito. As margens
Roupa da cama
Uma muda
Embebidas na mesma solução.

O odor a químicos
Processados e rejeitados
Pelo corpo que tudo quer
Gasolina suficiente para
Em vida
Acender vela aos mortos
De mim. Contar ossos
Esquecendo que há muito
Se não sabe o programa
Ao manual da disciplina
Ou este liga com aquele.

Trazer ossos à mostra
Uns centímetros acima do nível
Da noite vinda
Passada a ferro
Pela posologia
Diversa. Munição
A fingir que me faz
Esquecer
Do menos importante
A lembrar:
Corridas de morte
Insultos irreversíveis
Puras ameaças
Das quais se escapa
Por uma unha
Negra.

Sílabas atrasadas
No palato. Queimadas
Extensas todas as direcções
No baldio inclinado
Da alma.

Empresa diversa e
Aleatória.

A criança que ainda não sabe
Andar por si
Agarrada à ombreira
Da porta aberta
Na biblioteca
Ameaçando os pássaros
Com palavras
De um dia
Mais tarde prometido
Às mãos que a seguram
Por um momento
Antes da derrocada.

A mãe vem lá chora
O que puder ser
Para já.

Se não é isto poema
Por si é
Distracção suficiente.

Chamar alguém e nunca
Pelo nome
Jogar os dados
Com força
Acima do pensar
Para que voltem
Viciados das alturas.

Juro
Sobre a tua pele
Palavra de drogado. Sim
É tudo verdade
Conveniente.

Saltei para lá
Um muro de pedra
Arranjado à mão. Me precipitei
Sobre a encosta
De altas ervas
Enquanto quem
Me acompanhava
Foi pelo outro lado
Bater à porta
Do familiar.

Manobras de diversão
E ninguém de nós
Tira proveito algum
Disto. Rir aqui não
É o melhor remédio.

A língua em
Que se diz isto
Atada selvagem
Pela flor
Da papoila.

O vento esse passa
Sonolento e solto.

Meios riscadores
E de mudança
De direcção:
Freios de cetim
Dentes de correia
Meio mundo
Metido em
Camisa-de-forças.

A mão ligada
Ao Senhor
A cunha em lugar
Do espinho.

Firo o peito
Com a faca da esperança
Fico a ficar
À espera
Virado para o lado
Em que o dia virá
Em que venhas a ti
Saída como nunca
Os olhos já a encontrar
Sangue novo.

Se o corpo se
Deixar acordar
Acordar e não
Haver lugar
Para ocupar. Pode
Acontecer e não
Sei como to dizer
Por outras palavras
Se nenhumas
Ficarem de pé.

Joga-se aos fins
Se faz o destino
Abraçar o fundo branco
De onde vieste
Repetir o mesmo gesto
Até que se apague
De nós
A pegada do início.

Vais a ver e
És ninguém. Vai lá
Ao princípio disto e
Vê se assim
Não é. Está
Lá escrito por alguém
Por mim não
Faz qualquer diferença.

Voltas para a cama
E só agora
Vês o que te aconteceu
De bom mau.

Estimada gata
Que se zangou contigo
Te virou as costas
Não sem antes ter
Pousadas as patas
Da frente em cima
Dessa cama
Onde te mexias
Modificando a expressão
Torcendo os bigodes
Ao odor forte
Que vinha até aqui. Era
Eu sim cedendo e
Uma das putas
Com quem me dei
Na altura me dando
Ela tudo o que eu precisava
E não. Nome
E corpo nunca
Estão a mais.

Terá sido o bom
E o bonito.
Depressa nos tornámos
Sérios e muito
Feios.

A casa não era minha
Havia sempre alguém lá
A esmurrar-me a porta do quarto
A meio da noite enquanto
Eu e quem estava
Deixávamos sair para
O resto da casa
Os barulhos
Estritamente necessários
Ao eclodir do escândalo.

Diziam também
Não a brincar que
Ali não era
Nem bordel
Nem sala de chuto.

Da conversa a seguir
Não há aqui futuro.

Me passou
Tanta coisa
Pela cabeça agora
É isto.

Assenta na vedação
Da tarde um pássaro
De cordel ligante
De frases inertes
Às quais me arrancas
A só voz.

Espaço livre
De gentes e bens
Sou o ponto mais afastado
Desta casa insegura. Antes
Da primeira coisa a dizer
Armo a mão com a lâmina
Da rotina entro
Nas divisões de todos
Os pisos antes do telhado
A cair.

Por cada
Vão aberto na parede
É o medo
De ficar à porta esperando
Pelo que não sei
Que me leva a entrar
E esperar tudo
O que possa de mal
Me acontecer.

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