segunda-feira, 30 de outubro de 2017

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS VÃO DAQUI A NADA






Linhas de alta tensão se vão ligar ao horizonte. O sol se apagou já, se riscou dele o vestígio de lá, longamente, até à diluição. Fora de tom, o comboio suburbano sai, a horas, nos levando a olhar, olhos nos olhos seus, vermelhos de artifício. Para trás mija a burra, nos afastando, com sua diversão, do nosso caminho. Adolescentes perfumosas, lábios incandescentes, de uma só pelica de tintura, acrescentando pouca espessura ao corpo dito para fora, começando por ali a sair, alinham-se, ao meu lado invisível, tirando à vez o retrato de si. Atrás de si o fundo começa lá, que, se começou, não se deu bem por ele a explicar, à primeira frase. Daqui uns dias, mais mortos que vivos, ainda a semana irá a meio, sobrar-nos-á um único sorriso a meio gás, a mim e a ti, isentos de sentir o que seja sobre tragédias.

Governam-se bem, esses que nos governam; faz de conta se abre conta, fincam a baba do discurso vazio no baço de quem os suporta ainda assim. Falam sobre nada que não é connosco. Dizem pouca coisa, pouca terra. Abrem fogo sobre a inteligência de quem anda cá anda, assim-assim. Sim, mando dizer que não contem comigo para a discussão, hoje não vou jantar a casa. Deixem o que sobrar no forno, ou comam tudo. Se lhes correr mal a confecção, cheirar-me-á a esturro quando melhor me convier. Tudo se deixa arder, que nada é com eles, apesar de afirmarem convictamente que é tudo seu. Morreram deuses e reis quando calhou, não morrem mais se cada vez menos são? A acção do acaso, conjugada na primeira casa da primeira pessoa, irá romper com o costume de comer calado. Porquê? Porventura acreditas que a palavra não mata? Mata sim, se riscada na jugular posta à vista pela mão que a aponta, palavra ponta e mola a atravessar o chão que desaparece sem dares por isso. Senhores ministros e respectivos enteados, pois é verdade que vale tudo e o azar acontece. Acidentes? Não há, para isto, unidade de medida. Esta terra vento e vínculo, pássaros, e as árvores do costume, de onde venho, largando o passado passando à memória, é tudo quanto tenho de haver. A vós, nunca vos respeitei. Para mim, nada mandem vir. De vós, nada espero. De vós, quero a distância segura da nuvem prima afastada o suficiente para que não enlouqueça por um instante e tenha a sorte de um de vós passar ao lado. E depois, logo se verá o que se não sabe. Alguém se desgraçará, dando o exemplo a quem precisa e tem vergonha. Alguma força será ainda a tua, ó tirano sem parentesco algum à minha febre, que desviar me fazes da frase que ia lançada. Ficamos por aqui, morreste para mim. E hás-de morrer para os outros, cedo, não venha ela tarde. Ficas de castigo, enquanto acontece o que está para vir. Ficas aqui, e só de aqui sais quando eu to disser. De política, é tudo.

Dizia eu das moças, que sorriam. O caldo entornou, e a terra ardeu. É tudo. Cada vez tenho menos espaço onde ir gritar que vos desprezo, ou só gritar. Pensava ir. Agora mesmo, parecia isso ser o que havia para andar. Quase nada sinto o tempo todo, depois choro sobre desconhecidos, sobre quem me não é nada. Só isso. Chega bem. Sim, as moças onde as largaste. Riem, tem graça. Rimo-nos todos, se nos contam bem a piada. O resto não conta quase nada, nem à força de matemática. Eu sou um só, não me divido por dá cá essa palha. Riem, de nervoso miudinho. Uma à outra entre si dizendo nunca, por nunca, saio bem ao olhar o passarinho. Chiam travões, chega o comboio. À estação ali em baixo, em se apeando larga medida de gente, se põem a caminho inverso do outro de ainda há pouco. Orquestráveis pevides secas, chocalham de encontro às paredes, enclausuradas em suas cabaças ocas. Ou isso, ou um instrumento a sério, alterado na mão do capoeirista; se soltando a corda ao berimbau, ameaçando o eclodir da dança no seio do grupo. Ainda não é o tempo, parece. Têm-no tão controlado, pernas para um lado, braços ao outro e a cabeça na lua. Não têm é ninguém, que pare um pouco para os ver. Não liguem, dancem pois. Falem-nos de iemanjás de águas turvas, ou das bestas de vistas claras. Ou calem-se para sempre, lutando entre si. Nada há, já, a perder. Vozes maquinais, mulher e homem. Corpos grávidos, de vários meses à míngua da vida, grávidos de fadiga. Podias ser tu, ou eu ainda. Não somos. Nada. Assim. Entalhes de morte pela pedra, alegorias de fazer a vontadinha aos outros. Eu não, e perco sempre. Fodam-se. Dure o que durar, foi demais. Não há fome que dure por muitos dias, nem vontade em fazer por isso. Comes e calas, às escuras. Não foi para essa noite que tudo ficou mais claro. É sempre sobre nós, que a bainha das dúvidas se descose. Diz do roto o celerado nu; não tem roupas que lhe sirvam, mas há-de sempre andar por aí. Se houver ainda mundo, e este olhar que o ponha no lugar. A fêmea marca seu compasso distraído, batendo a tempo agulha que salta em passos altos; vai calçada de um brilhante metalizado. O motorista do autocarro com destino a ir-se vendo, devagar, até chegar à estação fluvial, sobressai do fundo negro a que está pregado, vindo à frente da luz de presença. Aguarda o último passageiro que entre, falsamente paciente, batendo o nó dos dedos no tabliê do veículo. É outro comboio que chega? Nunca chega. Pára. Se descontinua. Sim, este, e mais gente, o deixaram para trás se sabe já. Vão de maioria, quase noite a fazer-se toda ao piso da tarde que foi, em braço flectido qual pistão mecanizado, acabando à extrema num pirilampo azul. Espelho, espelho deles, qual ali é o mais danado de belo alienado? Eu não conto. Vem você, e explica por suas palavras. Não chego bem a tempo de assistir a um grupo em branco, ensaiando o corpo acompanhado a palmas, cordas, cantares e vento preso, liderados na figura de um profeta micro perfurado pela impureza da incógnita. Arenito. Pau-brasil. Estórias, não de aqui, se intrometendo à confissão que, aqui, se lavra. Tudo é outra coisa, não acontecendo agora. Dás por isso tarde, e não vais assim tão atrasado. Dás as costas. Vaivém. Pau-preto, corrente de ferro, pele curtida, fio de telefone, braçadeira de plástico, corda de nylon, isto tudo à escolha nesta hora do avesso que é a minha, sim, e só, sim senhor, meu dono e perfeito ninguém, cosendo a bainha ao silêncio, ao quero eu, oxalá, que tudo vá para o inferno. Palavras parecidas com palavras de outros. Tudo nosso venha a mim. O que é só meu, construído de pedra solta, jogada à forma, emassado de fel compósito. Diáfano procedimento, o de encafuar dedo onde só tem olho. Metamorfoseia-se-me o sotaque de vários portugueses, nunca suaves, dos lugares onde estive, dos lugares onde quase cheguei. Não perdes nada com isso. Chega outro comboio, sim, e se ainda aqui estás, não te admires. Gente sai daí, vão direitos a seguir uns aos outros, daí vieste e ficaste de lado, certa fiada trinta por uma linha de mosaico, pondo um pé primeiro no que sobe de escada automática. Chora criança, vem autocarro, vai a passar outra composição que não pára por aqui. Seu destino de alguns é desconhecido, e outras coisas não.

A dama pedia, ainda há pouco, e a última palavra foi dela, para que riscasse eu a lista das compras. Funciono assim melhor às vezes, pois vou direito ao que devo. Anoto, sublinho, repito o que está na folha de serviço do dia anterior, neste mesmo dia que quase acaba. Levantar a obra, acompanhar um ou outro trabalho, medir o espaço em unidade, cortar a água à entrada da habitação, procurar a imperfeição no que parece bem construído. A lista não está completa, não; pois, se para ela nada se deu ainda. Me distraio muito por menos de nada. Estanco a correria do pensar, a estes pesos-pluma habitantes de um sonho de exterior acontecendo, indo ao ar, da rua, e me concentro na tarefa do pôr e dispor, que bem irá ficar, esta parte inteira de prosa concreta, precisa, material, com o texto a soltar um rasto de solidão só por existir. Ela vai achar sua piada, e por ela não falo. Vai sim, oh se vai. A saber, para que não nos esqueçamos logo mais. Quando estacionarmos no parque subterrâneo, sorriremos um ao outro, cúmplices, por termos chegado ainda a respirar ao fim de mais um dia, descansados pela criança em comum deixada em lugar seguro. Nossas mãos em nó de se soltar quando for preciso, e nós em atravessar a porta automática dando para o interior regulado de temperaturas do centro comercial. Um de nós perguntando ao outro se tem moeda que dispense, tenho sim como resposta, dar em mão, e levá-la à ranhura aberta na estrutura do carrinho de compras. Sempre vamos a falar rápido, a nos despachar a ser outra coisa. Já disse, e repito: a maior parte das vezes, até nisto encontro alguma piada. Vamos para aqui assim, nesta parvoíce, namorar para os corredores do supermercado. E não me ensaio nada de, num repente, levar mão aos teus seios fartos, no meio dos olhares dos outros sem querer, e dizer em voz alta aos teus ouvidos que te quero. Foder. Tu sabes, amor, que é fome que nunca acaba. Que coisa bonita para se dizer, dizes. Desato a gargalhada, quando me apontas como o último romântico. Me perguntas, paciente, pela lista. Não a risquei ainda, ainda não foi preciso. Só lá vamos onde aqui te digo, mais logo. Confirmo o relógio, ainda há uma hora para aquilo que tiver ser, e isto assim se dá não muito à pele. Quando for essa hora, digo. A ver, se me não esqueço de nada. Aponta aí. Não sigas nenhuma lógica especial, mas sim a necessidade a cumprir e rematar. Por outras palavras, embalagem de detergente para a roupa, confere uma unidade, palete de leite, confere uma unidade, pacote de manteiga, confere uma unidade, caixa de chá preto, confere uma unidade, caixa de chá verde, confere uma unidade, palete de iogurtes naturais, confere uma unidade, garrafa de azeite, confere uma unidade, conjunto de latas de atum, confere uma unidade, saco de arroz, confere uma unidade, saco de massas, confere uma unidade, caderno preto, confere uma unidade, caneta azul, confere uma unidade, saco de fruta, confere uma unidade, saco de café, confere uma unidade, conjunto de rolos de papel higiénico, confere uma unidade. Carne e peixe nos dão os pais, que são uns anjos respigadores. E ganhamos os dois, sabemos, o que nunca chega. Se aqui tudo não estiver, não te fatigues e transtornes, passa pelos corredores que já conheces, olha de esguelha só o que preciso é. Roupa interior, não. Lâmpadas, não. Interruptores, substituir só em caso de, não é para menos, mau contacto. Se comutador é, a duas lâmpadas, uma que seja que fique acesa, já não é mau. Está tudo ligado na cabeça, por qualquer estranha ordem. Sendo preciso, sacas para fora as teclas brancas, descolas o espelho, desaparafusas o mecanismo, libertas os fios – o castanho é força e os dois pretos, neutros. Fazes igual ao que está. Replicas. Para a criança, que nada falte ou lhe falte pouco para que seja feliz. Ainda há dias lhe comprámos calçado, amanhã será roupa. Quase tudo lhe deixou de servir, durante a última estação quente. Tão grande pulo deu. Sim, acabo, que estás por certo já à minha espera. Não é assim tão mau, que perto estou, aqui ao lado. O que se ganha com isto se perde em pontualidade. Também te amo, se por acaso der jeito. Até já, meu amor imperfeito. Depois te conto como foi, verás por ti, por detrás ao que foi dito nestas frases. À mostra quase tudo vai, que não ando cá para enganar ninguém senão a mim mesmo. Era o que faltava, e falta, sim, ainda, ir comprar cigarros, que se me acabaram. Parece. Clássico desvio. Chego aí já, num instante. Cheguei. Vês? Agora, antes do combinado. Que sorte. Afinal há tempo, metade ainda de uma hora. Não sei o que me deu, de há um tempo a esta parte. Chego sempre cedo a tudo, eu, que acordava só, quando já tinha de estar em lugar algum. Corria, corria e, parece, nunca lá chegava. Acostumado de atrasado, aparentado de ausente crónico. É certo que, depois, em jeito, torneava a culpa com a razão do paliativo. Sólido. Coitado de mim, uns cabrões sempre os outros. Deu jeito, não dá mais. Corro ainda agora, não me canso menos, mais ainda, mas prefiro ser eu quem espera. Não quero ficar a dever nada aos outros, muito menos tempo. Já cá estou, amor, e de propósito, não to digo. E sabias já, de outra frase, que falta me faziam os cigarros. O estacionamento subterrâneo, nesta hora morna, tem a calma necessária à montagem dos absurdos, uns pelos outros se dão melhor sem plano, com uma ou outra vítima à mistura pela pena. Alguém. Fazendo viagens a pé até junto do veículo, um hábito fechado a sete chaves, certo de si, abrindo com músicas diferentes, diferentes portas. Alarmes desactivados, ignições experimentadas. No seu posto. Mais do mesmo, em suaves prestações, não te queixes depois. Conta com alguma coisa, e a mais não és obrigado. Comigo nunca contes, pois posso estar ou não para aí virado. Dadas as mãos, lançados os dados, fomos por aí ver o preço às coisas. Do que precisamos afinal, senão de mais tempo? Mais tempo, para um de nós se encontrar a meio da ponte lançada de boca pelo outro. À mistura com cartão vincado, aromas artificiais, e o vidro das coisas que afinal são outras, nos mostrando deformados à superfície do assim existir. Regámos já um momento de azeites virgens, vens de volta. Dá-me um segundo, tu, que ainda há pouco te não cabia uma azeitona no buraco do cu. Te gostando, te cravei um dente e, olha aí, te chamei um figo. A dois passos, o desejo é o vizinho nunca se vendo chegar, mas se fazendo notar pondo a casa a trabalhar. Escolhes a lixívia, como quem escolhe jóia ou fragrância, mirando, de alto a baixo, seu rótulo, lhe abrindo a tampa, aparelhando o olfacto ao seu gargalo. Escolhes a lixívia cheirando a sabão natural. E passas mal se, a casa chegas e, disto não há. Te sai torta a linha do dia, se por um acaso não tens uma porção líquida desse apagador de misérias, para o atirares ao esmalte da banheira, à louça sanitária, bidé sanita e lavatório, à cerâmica que pisamos.

Outro dia ou pouco mais tarde vens, pequena, a medo, pedir que te rode os brincos nas orelhas furadas de fresco. Condutor guiado pelo teu sorriso, acedo à ordem de avançar, de te apertar nas costas o vestido de brincar às galas. E vais, brincando, solta de mais crescer, às casinhas de estragar. Baixo a guarda aos olhos, te chegas à frente, com outra roupagem que te coube em sorte escolhida a dedo. Trocaste de personagem com outra menina da mesma idade, e nem com uma sequer fala baptizaste a anterior. Não há um nome de que te lembres de entre todos os prováveis, mas lhes chamas todos os nomes que eu sei. Dizes, que falta te faz um acessório, vais, vens, com uma carteira quase pele, negra, a tiracolo, abarrotando até ao fecho de notas de um banco a fingir. Na sala ao lado cantam, e contam metades de estórias que, comigo a somar, não dão resultado. Peças de madeira, com desenhos berrantes de bonecos diferentes; encaixando-as, sai um número. És a primeira a dizê-lo. Fizeste já, o um e o dois, um pássaro fora de mão saído ao céu, um par de botas e um gato brincando ao rato. À terceira, decididamente de vez e alçado, uma casa já fumega pela chaminé atada de presente, é hoje. Cedo te fartas, meu anjo, da distracção, e sais a correr dizendo para eu ficar. Até já, pareces dizer, enquanto te afastas, a sombra mal te acompanhando. Voltas em nada, feliz, pois escolheste para ti o jogo do lobo. Plantas cogumelos, em pequenos montículos ao redor de árvores sem copa. Colhes flores, para as plantares do outro lado da floresta. Fazes a cama com tempo, ao bicho preso à berma da tua mão solta. Pões no ar as borboletas; trincas a língua, tensa, ao manteres o gesto de as animar. Com o que tens à mão, brincas em silêncio. Está calmo ainda aqui, antevendo o distúrbio que a qualquer altura brotará de ti, minha cópia de mim, de outro e este tempo, meu coração a mim atado. Escolhemos cores e esquemas de várias demãos. Ofereço-te água, recusas. Insisto nisso, bem. Mergulhas uma vez mais, na brincadeira. A sério, vestes o lobo de alfaiate; estranhas não haver mais com que o vestir. Aplaudida criação.

Apanhados à superfície, impressos na folhagem, raspados ao de leve por um halo de aparo. Se encontraram agora. Se atiraram ao pano de fundo, eliminada a imperfeição de não haver porta que desse para aqui. Primeiro. Nome de cidade, dia da semana, número ao dia, deste mês neste ano. Alguns outros. Uma e outra ainda, além daqueles, sentados lado a lado. Uma falando à outra, abanando a cabeça, parecendo fingir acompanhar-lhe as palavras. Naquela. Há coisas piores, e dias diferentes. Acabou-se a brincadeira. Fica para aí, animal com raiva, afastando para outro lado os maus desta estória. Despir a velocidade, apontar ao furo do olhar a chuva da noite. Diante do amanhã, tua boca julga que está. Eu e tu em nós. Levem-nos daqui. Dias contados, unhas compridas. As sombras, à transparência, coagulam o espaço de se levantar. Pões a arder outra casa, no mesmo cenário. Sou a tua puta, não sou? Me dizes assim sempre, já em brasa. E ainda não sei a quem hei-de de falar sobre isto. É sobre essa noite passada por nós, sabes? Encafuam arquitectura em espaços arregaçados ao não haver tempo. Ferida a beleza, me ponho a andar. Um copo de água, sobre a vidraça da boca. O espelho quebra, de tanto astro que lhe cai em cima. Depois se foi, da hora para um bom quarto. Consome-se o que foi carne, espessura de contacto e correcção de dioptrias. Espontânea combustão da memória, no trocadilho que se esfuma de imagéticas. E como se arde, à vista de todos. Parte de mim é cinza, à outra parte mando vir mais um copo de água. Estanco um pigmento de cor, à ordem e desmando deste olhar de todo espectro. Sou a própria Mata dos Medos, e menos não posso com a própria sombra que me faz refém de superfícies onde tocar. Sem te anunciares, me entras quarto adentro e, mal respirando, é o bastante para te denunciares à minha concordância de fios em contorno. Despertas meus monstros desavindos, suspendo a eles o ofício do sono, em franco golpe de aríete. Mal abro os olhos e vejo quem és, acalmo. Dissolvo os tendões. Volto à noite de interiores. Assobio para dentro, devolvo a alimária ao espaço fechado da minha ânsia. Deito os bichos na berma do nada, puxo-lhes até cima o lençol que os esconde e lhes desejo bons sonhos. A insónia nunca me foi um lugar. O sono sim é protecção ligeira, quase verdade. Venho a dias, aos caídos, como insuflável de boneco abandonado na época alta. Ainda algum ar e corpo, nenhum curso de água. Chão de cidade. Estacionado onde me estampo, acelero o olhar para ir onde não posso. Travam à beira. Param. Semáforo vermelho. Um lado. Andar do outro. Anda tudo ao mesmo. Au Revoir Simone, ou outro nome que te caiba.

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