domingo, 3 de dezembro de 2017

PONTO MORTO





Volto o rio para trás
Das costas lá vai
Disto e só. Lá,
Águas concisas, negras,
Por lhe bater
A noite. Sento.
Sinto. Muito
Acorde imperfeito,
Esgadanhado
Nessa guitarra
Impressa de memória,
Se aproximando, e pouco
Me beliscando
A forma vista
Ao perto.

Novos loucos
No lugar antigo,
Tomando a praça
Construída, se dobrando,
Se alterando,
Enchendo a caixa
Ressonante
De eco suficiente.

Mastigam a pastilha
Dos dias, levam
O casaco despido
Enrolado no braço,
Passam aos pares,
Olá! Se lavando
Em sorrisos,
Falando em saudades
Tuas.

Entre tanto
Aponto àquele que,
Vindo de ali
Ao fundo,
Abre porta
Acende ponto
De luz,
O normal,
Não fosse quem o fez,
Um motor ter
De propósito
Deixado a trabalhar
No meio da rua,
E quem o esperava
Não muito longe,
A arrefecer.

Que isto vos interesse,
Não. Nem isto é trama
Que se desenhe
Com alguma calma
A mais,
De encontro
À perna traçada,
Evitando olhar de frente
As circunferências
Do azar, iluminadas
Pelos candeeiros
Em branco
Sobrando à noite.

Nitidamente se ouve
Discutir sobre
Horários não
Cumpridos à risca;
Por um fio,
Quem nos avisa,
Aguenta os cavalos
À prosa, segura com a mão
Aquela porta
Meia aberta.

Lugares de ofício
Com gente dentro
Muito fora ainda,
À vista desta rua
Que os estranha
E deforma com uma
Longa eucaristia
De reflexos. Sentados
A laborar para o boneco,
No último dia
Inútil, de mais
Uma semana.

A volta perfeita,
Embandeirada em arco,
Dada à pedra
Do edifício
Em boa
Altura.

Meio arco e tanto
Tapado por uma árvore;
Um instante
Disto apenas
Um quarto
Visível,
Ao passar por ali
À frente
O autocarro
Preso à rede
Da madrugada.

E o motor,
Caralho,
E o motor,
Se não é ele
O mesmo. Fico assim
Achar. Um meio
Fio de urina
Reflectindo o sentido
Contrário ao ponteiro
Das horas.

O vento despega
As imagens ao tempo
De serem réplicas de
Um pouco já passado, já
Não aqui
Me apanhavas;
Ramos de árvores
Desfigurando
Ao segundo
O barulho que
Me rouba olhar.

Passas a correr
E há ainda vida
Nisso. Meu igual,
Sobre ti
Aterram asas, frias
Coberturas instáveis
Puxando a linha
De terra para dentro
Do momento, para fora
Da tua boca
Escorre espesso
O fumo do que há
Em ser
A manhã. Flâmula
Desarticulada,
Turvando o entender
Aos calceteiros
Do caminho mais curto.

Superfícies de contacto;
Máquinas de sentido
Único, desaparecem,
Silenciosas, pela corete
Da voz que as anima.

Em caixas
De luz, onde
Mal se percebe
A palavra
SAÍDA, à cor principal
Do olhar indo
De branco, o que nunca
Com nada
Se casa, forçando
A curva à pergunta
Que se planta
Em volta, disposta
A tudo.

A condição adversa,
Climatérica, falo
Agora a frio, é
A pontada romba
Inclinada pela unha
Me arrancando ao sono
Deste dia sem princípio.

Me defendo
Com um punhado de:

Notas musicais,
Traçados de condutas,
Enfiamentos de condutores,
Juntas betumadas a parafina.

Este sistema forjado
À demasia de um voo
De curta distância. E
Vou andando, se
Se não importam.

Patas felpudas, tesouradas
No horizonte. Um olho,
Quem o tem
É soberano verbal,
Fechado em
Espaço aberto.

Liberto o cão na caça
Aos ouriços nocturnos, ele já
Não está nem aí, nem cabe
De contente, desaparecendo
Por detrás da sombra
Das árvores banhadas
Pelo zinco da lua. O chamo,
Não vem mais.

Rilho os dentes, e
Durmo. Se há sonho,
É lá fora.

Espalhadores de poliuretano
Superficial, queimando
A hora pulmonar, indo
E vindo de longe
A longe, dentro do mesmo
Quarto, avivando
Os veios à madeira
Do chão,
O preparando para outro
Inquilino, insensível
À loucura da máquina
De afagar e ao forte
Odor químico
Que permanecerá até
Que se vá embora. Insensível
À vida, vai
Vivendo. Em bruto
Conjugar da palavra
Solar.

À guitarra, um solo
À terra.

Virá o dia, e alguém
Não atenderá
Por tanto
Entender.

Avisado estás,
Apita ou
Guarda essa moeda
No bolso;
Estás convidado,
Para um copo ou coisa
Que o vale,
Mais forte do que
Eu.

Coçar o piolho, levantar
A casa do estorvo
Em que se encontra,
A levando ao grito
No interior da tela
Esticada.

Floresta sintética,
Barbatana dentada,
Dedo em riste – fechar
À chave
Estas formas
Na estante do sentido.

Arrastam os pés
À mesa de encontro
Aos meus ombros;
Se rompendo em vermelhos
Circulares, me cantam
Aos ouvidos um fraseado
De fantasmas repetidos
No ecrã das coisas
De se apanhar
E deixar.

Uma palmada nas costas
Ao tempo mesmo
De um nome ser
Empunhado por quem
É, oferecendo
À consignação
Do meu parecer,
O movimento de serras
De corte
Fazendo o giro
Algo tarde,
Aos crepúsculos interrompidos
Por gargalhadas velozes.

Pitch control,
Self control,
Pest control.

Do estrangeiro que me sou,
Estas palavras enxovalhando
O contorno crítico
Da urbe à memória
De um qualquer
Arquitecto agarrado
Ao passado e á maravilha
Deste aquele
JUST ONE FIX. Por ele,
Nada ficará
De pé.

Se envolve o segredo
Em um pano estampado
De brancas aves,
Artificiais enteadas
Da porção geométrica,
Alienígenas.

Param as mãos
No vermelho da superfície
Eléctrica, para onde
Me inclino, traduzindo
Sons impossíveis, saídos
Do núcleo fremente
Àquele realejo abandonado
Sobre a paisagem
Do pensar.

Pássaros pilotos,
Tocadores de ar pesado
Ligando os pontos
Pelas costas
Ao Absurdo.

Máxima incongruência,
Mínima influência.

Dependência total, delirando
De infinito acabando
Por dar em
Louco melhor, melhor
Assim.

Jogos de arcada,
Diálogos e vendas
De garagem.

Roupagem que encolhe logo
No lugar do pescoço, e um
Colar de rebites
Directos à pele, são
O ornato de
Que não
Prescindo.

Flores enrugadas, travestidas
Em forma
Singular, sem modos
Pousadas
Na sala de estar.

Uma ampola de coisa
Nenhuma jogada
Como trunfo,
Ao tapete
De entrada
Na habitação do personagem
Ditado ao comum
Dos mortais.

Me caem todos
Os parentes à lama,
Patinando. Vão
Uma última vez
À terra,
Matar saudades
Da jardinagem artística.

Matar, sim,
A junta aos ladrilhos
Do argumento atravessado
Na garganta, disposto
Cintando a mestra
Impossível de aparelhar.

Em plano inclinado
Se destravando, descaindo,
A viatura
Assombrada, vai
Certa hora
Em ponto
Morto.

Como que afectado
Por trembolona ou
Banho de zinco,
O rosto fica
À banda, em sentido
Desfigurado, enquanto passam
Pelas brasas
De uma leitura.

Venha o diabo
E escolha,
Quem de nós
Melhor tinja, a
Acrílico seu,
Pardo pranto.

Sejamos breves pois
Nos cai em cima,
Não tarda,
Novo velho
Dia.

Luzes de presença e
Trepadeiras sentimentais,
Murcham, escalando
Pelas paredes. Alto
E bom som,
O que não puder
Nunca ser dito.

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