Ajustam-se
exactos – perturbação – alguns candeeiros da rua. Apagam-se no mesmo piscar de
olhos, esquerdo e direito, e desfiguram metade do contorno da face da rua.
Acima da sua altura, do lado aos ombros, também de todos os outros sítios a
partir do seu início, um céu invisivelmente aterrador. Uma linguagem de lugares
estranhos, perdidos desse outro lugar onde existem estranhos, confusos. Para
aqui desavindos, neste outro lugar que se não sabe explicar melhor. Onde estou,
ventos de mão forte insanamente incorrectos, agarram com violência os ramos
despenteados da mais antiga árvore que aqui habita. Sempre a conheci enorme,
bondosa anciã, a professora do canto diferente destes pássaros de manhãs
pequenas. Agora é noite, e naturalmente não existem nestas condições. Corpos de
água sufocados pelo ar, a terra que atira em altura o que nela vive, uma
árvore. Elementos sem sexo, que se anulam em razões igualmente sem lado. Um cão
que se assusta com os ventos, com os ramos, com a água que o ensopa tornando-o
lento. E sem o saber, está no exacto sítio das raízes deste mundo de fantasmas.
Este cão tem raiva – uma doença sozinha – que arrasta até ao caixote do lixo da
berma mais próxima, este tombado desistente. Vêm-se-lhe da boca aberta as
refeições de horas diferentes. Tocam-se as duas bocas num gesto incompleto,
animal e objecto de contenção urbana. Trocam temperaturas parecidas.
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