sábado, 15 de fevereiro de 2014
VIGÍLIA
O ar desconfortável, polifónico. Demasiadas vozes no céu, rejeitadas a caminho do longínquo lugar de Deus – se existe, chegam-lhe as palavras, transformadas em vias de um só venerável sentido, quase imperfeito, a partir da insónia onde se falam os nomes todos. Frases incompletas, nuvens curtas no contorno – de qualquer forma, onde é fim. Deixem-me só, a sós com os outros de mim, e ouçamos a máquina na vez do mar. Desligo-me do que é ainda movimento, grito pelas várias gargantas dos outros e quero saber-lhes do resto do corpo. A loucura nunca é só isto, um lugar onde a hora é a mesma parada todos os dias. Hoje tenho este frio, amanhã os monumentos serão diferentes da paisagem que morre à volta, a pouca altura das casas. Uma segunda pele, segura – onde os elementos se confundem com o rigor das espessuras. Descontinuados corpos, entredentes algum espaço vazio. Uma criança triste confunde-se com a calçada, no adro da igreja – os gatos regressam do rio, pingam peixes doces pelos bigodes, desviados do seu profundo. As soleiras pedras – à luz, à sombra, ao invisível dos cumprimentos diagonais de quem primeiro aparecer no céu. Um traço dela – o que vejo é um candeeiro aceso mais tarde que esta hora. Da noite quase nenhuma, amarelecida nos cantos. Bagagem de mão, na mão casaco na outra…e uma faca escondida.
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