domingo, 6 de abril de 2014

FECHO






num final de lugar, o último movimento
desenha-se na sombra de pedras
insignificantes.

FECHO.

a transferência, caminho
dos elementos que não pertencem aos lugares
ao vento, a água
corrige de arrasto outras pedras.

FECHO.

caminhos mínimos, um pelas hortas
e figueiras fundas pelos baldes de tinta sem cor além
da ferrugem, interrompidos
no perímetro dos orifícios escancarados, a purga
das raízes no mar.

FECHO.

outro caminho, o das árvores altas
de gestos, de membros
extensos de abrigo aos filhos das suas sombras
armam-se de pedras
arrefecidas, fingem-se de frutos uma cor suja, armadura
de casca visível.

FECHO.

o lugar de um domingo
em fotografia claro –
escuro.
a família que já não existe
cumprimenta a divisão vazia
onde estão, ordenados
quietos pela desordem dos anos em que foram
capturados por frias mãos
sazonais.

FECHO.

a memória desviada por um vento
de norte enleado, incompleto, acima
das copas dos castanheiros.
os dedos magoados das cúpulas
espinhosas, ouriços depois da escolha dolorosa,
roupa confortavelmente apertada nos membros de locomoção,
repartida por metade de um mistério
interior, em segredo.

FECHO.

o fruto armadilhado para
impacientes, alimento de extremidades.
temperaturas.

FECHO.

vestígios de pé, na areia
instável prefácio de mar. e o lameiro
lambido de nevoeiro pesado
pela manhã, geada
nos ponteiros à maquina do meio, distribuídos
todos à sua vontade pelos muros
irregulares da rocha arrancada
à mão.
pelo férreo do homem-pássaro, cerebral tempestade
clara, próxima
à noite luminosa atraída pela paisagem
de minas de cobre oculto
abaixo da manta, terrena de sete palmos
de coisas da vida.

FECHO.

revolta de invertebrados, não percepcionada
a partir da via rápida, gente pequena
em geometria, distribuída
por automóveis de concepção individual em número.
a carroçaria e o segmento de direcção, e transporte
das carnes de fumeiro, atrasadas
na decomposição pelo terror
do incêndio controlado
na boca artificial de pedra.
extensões de matéria queimada, a vestir
de lã os corpos na terra.
uma expressão vermelha no rosto.
a caminhada deslocada
da estrada, para a largura
de homem acrescentada da drenagem
do tempestuoso veículo
desgovernado.

FECHO.

pelo eixo da dança
equidistante às paredes do espaço
ditado a partir de um dos cantos, por um manequim
de alfaiate com a pele unicamente plástica,
ultrajada sem conta, à hora diurna
de uma das refeições, pelo todo
da corporação de bombeiros mais próximos, ausência
familiar do comandante.

FECHO.

pelo vidro, reflexos.
ouço corpos coloridos pelo afastamento
à mesa onde a refeição é servida
através de fios, linhas de baixo
graves na distracção do tempo
encurtado entre umbigos.
o odor de cabelos extensos, enrolados
a partir da floresta encerrada
na noite mais parda.

FECHO.

bigodes encerados pelo ponto
de orvalho dos nossos corpos
iguais na tormenta
calma.
ondas de calor rebentam
anuladas contra o branco imaginado
dos mosaicos na instalação
sanitária, onde
aprendo o meu contorno, onde
desenho com as mãos encruzilhadas
para a alma que fica
de negro entre as juntas nas dimensões
imperfeitas do quadrado nascido de uma
fábrica encerrada.

FECHO.

toda a música que se deixa
aí, à porta
ruge ansiosa
nos tempos certos.

FECHO.

mãos meigas de giz, colaboram
em traços a descoberto, próximo
das aberturas na roupagem.
fémures de oficina, moldados
a partir do salto falhado por um
atleta de alta competição
entre pares.

FECHO.

calçadas na cidade, desdentados
sizos de vidraço arrancados
por educação.
às forças da desordem à civil, vestes
indiferenciadas na cor
que as sustenta.

FECHO.

palavras mortas, sulcadas
à superfície das mãos distraídas
da estória, cumprem-se
rituais do quotidiano.
desvios frequentes para
ofícios desconhecidos, bricolages
de cuspo aramado, em materiais impossíveis
de profissão.

as mãos um palmo
de água contaminada com produtos incompatíveis
com pele, onde
símbolos expostos à radiação exibicionista
sem luvas.
a corrosão recorda-se de ossos, salva-se
vermelhidão epidérmica em segundos.

FECHO.

tudo é o mesmo, caos, o chão também
de mosaicos um mar de algibeira, a calma
inundação de um lar abandonado
à pressa.
os tubos de esgoto subterrâneos, túneis
circulares indecifráveis, a comunicação
entre as masmorras de porcelana.
pontificam sem o digital dos dedos, de quem
as moldou máquinas.
a prosa de um sifão maldito, carrasco
encerrado na saída a céu aberto, antes do tecto,
acima da matéria putrefacta que o toca
insistentemente, do que sobra leve ao corpo.
escamas, cabelos extensos, lágrimas adiposas
os calos dos pés escavados até à dor que ensina
a fronteira do corpo, no seu contorno
sensível.

FECHO.

cabos de aço guiados
cegos pelo adentro viscoso da matéria
rejeitada à superfície, estreita comunicação funcional
dos subsolos em cada piso em altura.
paredes exteriores, paredes de vinil
os tubos violentados por pressões
desviadas da disciplina da física, acessíveis
ao comum dos alquimistas do absurdo.
o rumor do céu deslocado, lento
pelas misteriosas nuvens do tudo possível que é tecto
acima a alma
esperança em espessura.
a negação finita dos espaços, parede.

parede de FECHO.

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