sábado, 3 de janeiro de 2015

ESQUINA






Um troço de rua a casa de alguém no número a que pertence. A loja do talho no rés-do-chão, a casa de habitar com varanda no primeiro andar. O quarto-escuro no segundo andar. Por enquanto a rua vazia, onde me encontro. Construído agora, depois demolido, totalmente coberto pela sombra dos edifícios. O telefone de moedas, ainda hoje existente, em frente desta casa rodeada de outras casas. Na vitrina do talho, ao lado dos miúdos, uma fotografia de um casamento tirada, percebe-se, na mesma esquina ao fundo da rua. Outros cortinados, matrículas diferentes. Eles dois ela ele, por volta de não sei quando, unidos pelos braços. Semblantes carregados com o sinal da dúvida; as rosas que ela segura, ramo enorme, parecem manchar, abaixo da cintura por dentro dos tecidos, seu vestido com o seu sangue. Parece. Ao lado desta fotografia uma outra fotografia, onde não se repete ninguém até agora, da esquerda para a direita na legenda a senhora mãe, a irmã, o pai e outro senhor. Volto à rua, agora habitada, onde três crianças ensaiam a pose na vidraça dos veículos por aqui estacionados. Duas delas olham de frente, uma de estas sorri, a que sobra duas mãos nos bolsos, agasalho apertado na fivela o olhar caído no chão. Batem certas as horas na esquina, minha puta chega. Sobra.

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