sábado, 24 de janeiro de 2015

QUALQUER PARTE







Homem-vela a dormir, apagado,
Entre os livros inclinados para a eternidade
Da madeira. Versos serpenteiam, veios
Ao desencontro das notas assinadas
Pela culpa. Dispo a pele à pedra
Com o cinzel sossegado
Dos loucos.

Tua esquina dobrada, cinzas
Jazem no cinzeiro da terra: animais
De mim, vincados na ruga
Obscura. A boca em espiral
Se abrevia no espaço
Em fumo.

Uma sombra nunca a mais
No desenho cedilhado, meu
Passado para sempre. Agora
As margens avançadas
Por ramos. As árvores se separam
À mão pela garganta de um
Anel derretido, duradouro.

Nos meus lençóis. Se explicam
Do fundo do quarto, à porta. Aí
Mora sozinho
Um mistério.

Velo-te. Um eixo de simetria, ainda
Por desossar. Um entendimento
Do teu corpo em carne. Gémeos
Lúcidos, habituados à partilha
De toda a loucura, esta
Levada em ombros.

Praia-mar baixa-mar. Assim
Se esvai a vida, pelo orifício
Escondido da alma. Adormecido na tábua
Da paleta, um tom
Carmim.

Estás nua. Da cabeça aos pés
A sílaba multiplicada, capilar
Humidade que por mim sobe
Vinda da terra. Sabe-se
Lá. A alvorada começa, com um grito
Da luz pelas coisas
Aparentes.

Do teu silêncio meigo, a expressão
Lavrada à superfície
Do meu rosto. Pelas ombreiras
Atravessadas as divisões, no espaço
Assoalhado meu coração.

Sou planta cotada, por traços
De medo. Pelos cantos
A tua arquitectura, desavinda se desenha
Debaixo de um céu. Podia ser
Um tecto, a rematar o todo
Infinito que és. A tua luz
É véu levantado. Assim
Os significados possíveis.

Anseio por voltar à terra, àquela
Onde todas as sobreposições
De antes de mim gritaram
Às pedras e à tempestade acima
Serra abaixo, o contrabando
Dos gestos por haver.

Ateado o fogo ao céu, soprado
Pelos alvos anjos, todas as cores
São as palavras que silenciam, instáveis
Maestros do acaso.

As colinas do sonho, atravessadas
Pela pressa em ser
Lugar ao corpo. Este e aquele
Que vestimos do avesso. Braços por pernas
Do que fomos, seremos
Lábios em concha, mãos carnudas e ervas
Daninhas. As nuvens se arrancam ao tecido
Da noite.

Sem comentários:

Enviar um comentário