domingo, 11 de janeiro de 2015

NISTO O VENTO





Seu ruído tique, qualquer coisa
Fácil de dizer. Repetido
Pelos outros um lado
Enodoado. Pelos arames
Assinalado. Eu e todos, alguém
Fala dos gatos.

Rasgas a intimidade ao corpo,
À mão fácil como papel
A ser separado em outras
Tantas partes do todo.

Uma fome. De vento e chão,
Rara flor, desbotada na folha
Do teu ombro. Minha boca
Se enternece à tua voz, essa
Mutação de género assim-
-assim.

Desapareço para o mundo
Em nevoeiro, cerrado
De punhos e ânsia
Igual à de outros. Tenho
Um desprezo sem temperatura
Por quem, dentro de mim,
Se deixa ultrapassar
Por dentro. Sou desvio
Onde não sou
Interdito.

Uma fome de cão
Pelos pulsos. Separados
Os tecidos ao nervo. Por gestos
Se acaba o álcool. Fico a dever
Tudo à alma. Quando for
O tempo dos acertos, haverá à mesma
A luz da tarde, assim
Se resolvem as arestas
À tona.

Apertas o peito com sangue
Dos outros. Vem a respiração
Diferente do que és, dito assim
Por outro nome.

Perco apelidos, os amarroto
Como facturas de papel
No fundo dos bolsos
De trás. Para a frente
Guardo a lua, teu sorriso
Mudo, enquanto a apontas
Para os dois, para lá de um
Breu sossegado.

A impressão do mesmo pé
Na terra misturada, acentuada
Por um grafismo etéreo.

De passagem, as vozes vão
Esmalte sem espessura, roupagem
Inquebrantável fio único, o motivo
Da teia. Pelos cantos
Ressoam as unhas no barro
Nu do corpo.

A escada que te serve
Piso acima ou chão que mexe
Contigo, é um e só
Mecanismo estridente.

Bocas de incêndio, por aí
Aspergida a tua intransigência, à força
De quereres ser maré
Ao mar, um braço
De intenção.

Afastado das rochas, suplico
Aos elementos a sua discórdia,
Para que seja perfeita
A tempestade alteradora
Dos espaços entre as pedras
Amaciadas pela lâmina
Do vidraço.

Corre. Anda. Espera – tudo isto
Em pessoas diferentes. Por elas
Um vento cai assim
De amores.

Saber da morte, à tarde e assim
Nesta zona do dia, suspensa
Pela sua definição. Sem engano
Sulcamos o corpo com mar
Nos olhos.

Chão trágico, separadas as pedras
Descontinuadas na sua pele. As mãos
Não sabem o que fazer. Se atrasam
Para o último dia conhecido.

O rosto amarga, reflectido
Em grão à superfície
Do café que esquecemos
De beber.

A caliça da memória cai
Em óxido no espelho, um sonho pescado
No rio. Vejo emergir a boca
De um cipreste.

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