quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

RUAS





Digo devagar, palavra, enquanto adio uma distância que vai de mim desencontrando os outros, por entre os intervalos que nos restam além do outro espaço. A composição de um lugar, capaz de me libertar a um tempo quando muito dois, onde me dou mais superfície, durando o tempo que respiro fora dos outros. O ar frio de tanta vontade em ser frente. A respiração, um simultâneo desequilíbrio de todos aqueles que frequentam o mesmo caminho por costume. Falo devagar sobre um qualquer que ele seja, um espaço em parte ocupado por alguém o tempo todo. Sons, parte deles instrumentos, de uma orquestra curta nos tempos em que me toca, a quase sugestão de uma música para esquecer. Cordas animadas tensas, por navalhas com gumes ausentes noutros rostos. A parede solta de uma casa, ocupada esta por um sonolento verbo de ser, esse animal doméstico habituado a comer do chão a sua miséria. Corredores debaixo de um céu aberto, em que não toco nem com um dedo, vão todos eles fora de mão. Por onde eu vou, fechado sobre a linha que me cose por dentro a direcção. Por onde ela se aproximou, vinda desenhada de outro lado. De um lugar onde temos outras paredes, estas presas nos ombros, onde nada é uma cor ocupada com superfície. Acima, um lado de frente. Onde vão por onde querem ventos cuidados, quase escondidos, numa marcha irregular. Passam por onde senão por lá, e vão para outro lado àquela parte de outra coisa. Parece que lhes sabe bem o caminho, atravessam-se quais cruzamentos, colaterais contornos, indirectos parentes da indiferença de um olhar que se conhece agora. O conforto de caminhar de mãos atadas com o nervo que sobra de um corpo, por um pensamento que me distrai o momento. Pois o tempo é outra coisa qualquer, uma estrada mais estreita do que se esperava. A parte da terra além de nós e alguma água, é mais do que uma rua.

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