terça-feira, 10 de dezembro de 2013

TROVOADA QUE NÃO PASSA


Atravesso o rio por alto, sem tempo. Uma discussão quase a acontecer entre dois movimentos diferentes, alterados no espaço que não lhes sobra. Entre o céu que ali está e quer ir a todo o lado, e eu que não quero ir a lado algum. Mas sou para aí empurrado, para um dos lados, num discurso onde não ouço água, onde é metal barulhento o que me corrige a posição a meio desencontrada. O pedaço que falta, ser geométrica a recordação subtraída da tabuada do esquecimento, onde me apago na calma de um poema corrente. Vou dentro dele, e não mais quente por ter paredes à volta. São outros lados da mesma máquina, fria vontade alheia. Um estômago intolerante, o deste mecânico rufia vindo da outra margem, faíscas de insulto cuspidas à cidade. Rasga-a de lado quando chega, onde é costume apertar-se na sua saia. Esta máquina de um tempo mal passado, cozinha demasiado rápida para o meu paladar de movimentos naturais. Aperta-me também por baixo das roupas, obriga-me a parar nu quando não quero, bem embalado que eu ia, no meu ranger de peças soltas. São dentes postiços o que arranco por amor, atirando-os amarelos aos carris, a ver se obrigo a ser mais devagar esta composição. E partem-se todos, lá para baixo o rio. De repente não é nada, e abre-se um sisudo sorriso de espaços.

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