sábado, 25 de janeiro de 2014

À LINHA





A cidade assim ignorada, longe, olhos dentro das suas covas, perfeita geometria pura de orifícios. A cidade desenha o horizonte com o seu volume, inteira deriva. Um barco que sai do seu conforto, do lado oposto à linha do esquecimento, o rasto que deixa esgotado para trás, de um breve branco. Flutua ferro para a cidade ela não pára, deriva. O céu que não é assombro, medo tem o barco desses orifícios perfeitos, que o arrastam água para o fundo. Uma língua suja de terra tenta o rio, o aperta nos pontos mais estreitos, onde se torna outros, legítimos filhos das margens. Ondeia-se pano branco no cais, corrige-se trégua, aos pássaros e outros. Afastam-se da colisão dos corpos. A mancha efémera desses pássaros de bico voraz, o céu devorado de perto. No meu rosto vento, esbelto traço de um suspiro sem lugar, uma língua suja de terra que divide o rio em dois.

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