sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

III





Aquilo que resta da frente horizonte, onde pedra calçada a dois tons de cegueira. O fim de um lugar quase só o que uma pessoa ocupa, um lugar de pés acima alguns parafusos para sustento de tábuas antigas. Continuam estas por ali, no que se adivinha de uma direcção para fora, costas pregadas a elas. Aquilo que resta da frente horizonte, de encontro a uma janela fechada para fora, persianas verticalmente opacas, o interior de um espaço proibido para outros, encaixilhado por uma pedra boa, envolvente, mais a sua estória amaciada. Onde esta janela, vidros, dedos vários, apontamentos de uma expressão dente à mostra, um reflexo circular de um homem que nunca mostra a cara a si próprio, vestido por cima da sua transparência indiferente, com umas roupas pesadas na cor. Mais um chapéu, um topo na sua altura, que lhe cobre a totalidade da coisa pensada no lugar da cabeça. Aquilo que resta da frente horizonte, um impulso perpétuo na direcção de pontos de escuta, torres de vigia, miradouros de rés-do-chão pisado rente. Outra vez um reflexo, uma existência curta, o empréstimo de uma superfície a um traço de contorno, que tem o mesmo homem desenhado ali, nas partes deslocadas por inteiro.  O assento que não existe na palavra banco, a dois pés a praça calçada. O mesmo homem reflexo curvado na mesma janela. A pobreza é leve ali, só corpo castigado. Vai o homem com a luz do dia pôr-se num outro lado, que a praça é curta e a noite é quase sempre agora. Ali onde poucos pombos pés de barro, a andar num fogo apagado. Acertam estes pombos a hora que é só deles com a cabeça, concordam com tempos e um caminho. A mesma curva, o homem igual ao outro que foi ali atrás, tem o tempo da praça, pára-lhe ao meio, onde abre a mão fechada nas pedras que conta na direcção da parede oposta. Recusa este sentido, volta para a direcção contrária, e não repara ele que os pombos o guiam com gargantas encravadas num som de vida. Acusam os pombos o homem para dentro do peito, acusam a sua vida despropositada, o olhar preso no sítio onde pisa. Nega o homem tudo, o agora também, a respiração a céu aberto. Quer ser o homem depois, outro instante, desaparecer do outro lado da praça o seu tempo. O ar cortado por alto, serralharias imateriais por ali escondidas, numa rua qualquer para trás destas costas. O homem volta-se, aparece seu corpo desta vez rápido na diagonal da escolha, no outro canto. Vai sugestão, direcção do esquisso, para uma oficina anunciada pela estridência de uma serra mecânica. Há a hipótese de juntar os ossos desavindos noutra voz – Há conserto? Não, há uma hora parada em três, a partir da torre da igreja, os sinos calmos na aflição do tempo, este relógio parado na hora dita. O homem que lhe passa mais uma vez por baixo, com a vista tapada nas mãos. Não lhe querem mais que outro desenho, a idade perdida noutra porta noutro lado. Conversas aparecem de outras ruas faladas, percebe-se pelo assunto um número, uma ausência que tem tempo. Tempo para ser um homem, outro e mais algum. Três.

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