“Nascemos livres, mas morremos com convicções”
A
frase escreve-se negra sobre um céu azul mal pintado. O resto é mundo verde,
pouca espessura, encostado a um canto sossegado formado pela esquadria de duas
paredes. O rio lá fora, apressado pelo vento e uma gaivota que lhe grita rente.
O resto é mundo verde, dentro destas paredes corrigidas por um pé-direito alguma
altura a mais, sustentadas acima da fundação por uma estrela martelada num pano
vermelho. Um espaço humilde de objectos, destacando-se facilmente uma bancada
bem vestida de livros, a mesma pessoa em todas as capas. Distinguem-se pelo
sorriso, manchado aqui e ali por dentes diferentes, desligados por anos
expressivamente distintos. A liberdade com que nasceu rosto, envelhecida nas
costas que ofereceu ao mesmo vento que grita agora, lá fora o rio. O resto é
mundo verde, dividido ao meio, onde uma fuga centrada, vitoriosa não se sabe de
quê, para a frente dos nossos olhos, colisão iminente. O meio utilizado para
vir até à frente, um guiador parte integral de um motor, o farol que se
aproxima na mesma cor que o resto, agarrado por uma mão de cada boneco
representado. Ninguém vai adiantado, ou atrás, ao lado um do outro se anulam, e
não ouvem o vento lá fora. O resto é mundo verde, manchas pingadas de sangue,
que lhe desenham motivos florais inconsistentes, nenhuma folha para arrancar. O
sonho extenso, prisão encerrada na pouca dimensão disponível. Nas duas mãos
incompletas, a intensão é que mais ordena nos corpos que não me mexem a
distinguir-se. São o desenho de pessoas sem sexo, olhos escritos de forma diferente
na mesma cor, pessoas que se prolongam a partir das suas vestes escuras. Um
motivo ensanguentado de outro gesto incompleto, à volta de um dos pescoços. A
noite não é o lugar mais escuro, nunca foi.
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