quarta-feira, 13 de novembro de 2013

NOITE CAÍDA





 Todos os dias presencio a sua passagem se não chego tarde. Uma mulher breve quase chão, vestida com uma hora justa sempre atrasada. As suas pernas ponteiros desajustados que lhe prolongam a cor preta anulando-lhe a sombra. Um perfume de contorno é o que fica da sua adivinha rápida senão passado. A sombra não lhe consegue sossegar é uma projecção anulada suspensa sem um lado onde se encostar. Não eu sempre parado quando ela passa. Já lhe conheço a específica luz da tarde que a anuncia. Nunca a vi andar, a meio do caminho dela sim, mas ela sempre a correr – Quando será que pára? Terá um sono corrido ou passará ela a correr pela cama? Correm com ela da cama? Faz primeiro a digestão e depois come qualquer coisa? Que assim os alimentos não lhe conseguem nascer a tempo de ser refeição do dia um qualquer que seja – Vai ela para onde com tanta pressa mais que a dos outros que andam rápido? É ela a noite de outro lado longe? Precisam que escureça lá antes do tempo? Mudaram-lhe a hora? É a noite de dois sítios distantes com pouco dia entre eles? Queixe-se ó senhora a quem é desses assuntos mais pardos! Que um destes dias seguro-lhe na mão para ajudá-la a levantar-se.

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