Todos os dias presencio a sua passagem se não chego tarde.
Uma mulher breve quase chão, vestida com uma hora justa sempre atrasada. As
suas pernas ponteiros desajustados que lhe prolongam a cor preta anulando-lhe a
sombra. Um perfume de contorno é o que fica da sua adivinha rápida senão
passado. A sombra não lhe consegue sossegar é uma projecção anulada suspensa sem
um lado onde se encostar. Não eu sempre parado quando ela passa. Já lhe conheço
a específica luz da tarde que a anuncia. Nunca a vi andar, a meio do caminho
dela sim, mas ela sempre a correr – Quando será que pára? Terá um sono corrido ou
passará ela a correr pela cama? Correm com ela da cama? Faz primeiro a digestão
e depois come qualquer coisa? Que assim os alimentos não lhe conseguem nascer a
tempo de ser refeição do dia um qualquer que seja – Vai ela para onde com tanta pressa mais que a dos outros que andam
rápido? É ela a noite de outro lado longe? Precisam que escureça lá antes do
tempo? Mudaram-lhe a hora? É a noite de dois sítios distantes com pouco dia
entre eles? Queixe-se ó senhora a quem
é desses assuntos mais pardos! Que um destes dias seguro-lhe na mão para
ajudá-la a levantar-se.
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