sábado, 30 de novembro de 2013

DISCIPLINA




Escapam-me frases, malhas caídas sem ponto onde se agarrar. Limito-as, olhando para elas na sua forma não escrita, nuas de tinta. Caem num movimento de pele branca para o meu peito, como legendas finais de algo animado por ser lugar a desaparecer. São elas construções em alteração constante, a desordem da sua ilusão treino de mestres que se transcrevem num obstinado mútuo. Palavra que é manuseada amarrotada, com a pontaria de um míope. Palavra que corpo quente, a aceitação do sal todo que nos tempera com a liberdade de colocar a mão de lado num outro braço armado com artifício. Um lugar de portas só apontamento, aberturas que lhes respeitam as medidas largas, mas são só olhos semiabertos por onde se entra poeira e se nasce rio. Onde a língua elevada do seu palco, princípio de garganta por onde se passeia por todas as divisões, um lar onde não se gasta a madeira da sua superfície, mãos poupadas para outras violências. A luz que entra, janelas simples pestanas, paradas na posição irrequieta de um fundo corpo, outro dividido espaço, ocupado com inúteis movimentos do quotidiano. O cerco que se odeia, como a um copo corpo elegante, que se enche de miséria a dois dedos do fundo. Vinho decorativo, acompanhamento a solo de bocas abertas maquiadas de conversa interessante por quem a tem. E nós nunca tivemos nada, quando muito palavras escolhidas num abraço que vive mais apertado num lugar longe, longe das nossas cinturas. Aborrecida disciplina.

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