sexta-feira, 11 de outubro de 2013

BIGODE







 Ouço alguém a tossir. Outro, alguém, tosse também. Digam-me já, por favor, se vão todos tossir, que vocês ainda são bastantes, um piso inteiro. Aqui, na minha distracção, há sempre um ruído de corpos automáticos, e cada um tem o seu lugar. Pena minha que não seja esse um lugar fechado, hermético, porque assim, tenho de vos ouvir a todos ao mesmo tempo. É confuso, mas não me queixo. Ainda não fiz aqui amizades, nem quero. É uma intimidade que dispenso, além de que os vossos ruídos partilhados comigo, eu involuntário, são já uma coisa suficiente.  Posso não querer chamar-vos nomes, amigos, mas tento todos os dias melhorar a relação que, convosco tenho, ao esforçar-me por identificar, nesta nuvem invisível carregada de sons, as vossas vozes distintas. A quem pertencem? Há um que tosse sempre mais alto. A este já o conheço, usa um bigode.

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