Pode
estar longe o que imagino, e nem sequer ser um lugar. Pode ser um corpo deixado
a sós, com a sua ilusão, numa vida à parte. Não interessa onde. Entende-se à
contraluz, com as costas voltadas para a morte do agora, esse trauma da
impossibilidade. Pode haver um outro sentido, significados administrados a
conta-gotas numa transfusão para as veias rotas, de todas as luzes possíveis. E
são todas as cores precisas para interromper a alma que se arrisca, imaginando
paisagens fora de estação, temperadas de um só branco. Isto é o meu passeio
diário, que me leva a percorrer um túnel mais longo, onde o ar se esgota lentamente,
o suficiente para lhe ver algum fundo. No final desta abertura estreita, já não
há luz. Espreita do fim um olho sem cor, que chora as lágrimas que outros, como
eu, lhe pedem. A distorção do vazio acontece longe. Para onde se é
transportado, num céu rasgado por máquinas substitutas das nuvens. Um tecto nublado
de óleo, uma grande confusão. É a estrada que percorro, rente. Não é uma
escolha quando se rasteja por ela, depois da última curva. A vegetação é uma
rasteira, sempre branca, sobressaltada a partir das bermas, ferindo-me o rosto
com as suas imagens vivas. Tenho o sangue à parte, num saco próprio, coagulado
pelo frio que me gasta o corpo, e o seu avesso. Marco na pele uma hora, um
momento insuportável. O tempo perdido, perfeito, na adaptação a esse outro imaginado.
Dentro de mim, estou preso.
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