A
parede é o meu espelho, e concede-me uma imagem parada do meu corpo na sombra. À sua
frente, o chão não existe quando a primeira medida é tomada na direcção da
altura. O chão como alegoria de uma pele que cobre a chaga interior, todos os
vazios. Até o maior abismo, a fossa mais bem escavada, têm no seu fim, um chão.
A transformação a partir dele é ausência. O corpo habita a parede, que lhe sobe
equilibrada pelos braços. Risca-a, parte a mão nela, silencia-se entre mais do
que uma parede. O corpo é só, e sobre ele cai a opção de ser igual a outro
corpo. Mantém-se sempre um gesto, mesmo que parado, quando termina o diálogo
sobre superfícies. As mãos são à parte, e resistem em ser separadas do seu
descanso relativo, encerrado num punho. Dentro delas, há sempre um salto
fechado, pronto. A pergunta é martelada vezes sem conta, enquanto houver resistência
da estrutura, na parede – Onde cair,
quando já não existe pele, um chão? Falar devagar para a parede, um
contorno oral proferido por mim, a partir de um semblante carregado com as
perguntas às quais não quero resposta. São interrogações para o tempo decidir,
e escrever na terra, à vista de todos. Soa a caminho, um qualquer que seja, a
tomar. Falar devagar para a parede, um diálogo liso de enchimento, é o que
separa os seus tijolos dos meus ossos. É vaidosa, ela, varia mais nas suas
vestes, até azulejos com todas as cores. Eu, visto sempre pele sobre carne, às
vezes chão, alguma espessura para descarnar.
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