sábado, 17 de agosto de 2013

ARDO



Uma noite alta de chamas apanha-me já a arder. Um fogo ateado rente aos cabelos, ausentes para festas neste Agosto. Foram embora para ser milho na cabeça da terra, um campo esventrado, habituados que estão a instrumentos de lavoura mecânicos, curtos, oleados daquela esperança em crescer outra vez. Nascidos, estão habituados. Sobra uma madeixa rejeitada, adoptada pelo vento que a acende, espalhando através dela a fagulha, esse inferno bebé antes de ser chama adulta. Alastrada esta idade maior para uma fome de coisa seca, atravessa sempre a estrada sem olhar antes para os dois lados, tomando as aves como nuvens baixas. Deseja-lhes as asas para uma queimada descontrolada de final de tarde, onde o suor é também combustível, escorrendo do teu telhado poupado ao meu fogo. Com os braços abro a clareira na manhã seguinte, controlada que está a febre da noite, com a almofada molhada do pesadelo de água fria a que volto sempre. Sou um estado latente, um pedaço de carvão.

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